Eric e o Real Presente de Natal

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O sério e frio prisioneiro, Eric Tavares, tinha em seu coração um amargo e enorme ódio pelo Natal e toda essa alegria natalina que o rodeia em qualquer lugar. Contudo, após ser obrigado a se vestir como o Papai Noel, o condenado irá finalmente receber o verdadeiro e maior presente de Natal que ele precisava.

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Tem gente que diz que criminosos são seres frios, sem coração ou piedade, eu não os culpo em pensarem assim, mas vai que uma época tão bonita como o Natal possa mudar a mente de um criminoso?

Eric Tavares era um presidiário acusado de roubo e de tentativa de assassinato, ele era o homem mais sério, frio e quieto que aquela prisão já viu. Sua presença despertava preocupação em todos no ambiente, seja ele policial ou até criminoso, todos temiam o que sua cabeça tramava por trás daquele silêncio dominante.

Enfim chegou o Natal, podia ser a época mais festiva e feliz do ano, mas era a época que Eric mais odiava. Afinal foi em tal época que ele perdeu sua mãe para o terrível câncer, portanto em todo o Natal ele se isolava e tentava esquecer que aquela festividade natalina existia.

Contudo o mundo não sorriu para ele dessa vez.

Os condenados foram obrigados a se vestirem de Papai Noel e irem para certos pontos da cidade para ouvirem os pedidos das crianças e darem presentes a elas, faze-las felizes era o objetivos de todos os presidiários. De todos menos do Senhor Tavares. Porem por mais que ele discordasse aquilo era uma obrigação, um dever que todos deveriam cumprir, então ele foi condenado a ficar em um grande shopping vestido de Papai Noel sentado em sua vermelha cadeira esperando as crianças.

No dia de Natal, estava lá Eric com aquele olhar sério em sua face enquanto todos passavam com medo dele, as crianças nem se aproximavam do homem por pavor e receio do que ele poderia fazer, afinal todos desconfiam de um criminoso. Até que então um garoto parou na frente dele, um menino negro com manchas brancas espalhadas. Em sua cabeça não possuía um fio de cabelo e seu visual era composto por uma camiseta vermelha; bermuda preta e sandálias azuladas que pareciam muito velhas. Então Eric perguntou seriamente sem força de vontade:

- Ho Ho Ho. Olá criança, o que quer do bom velhinho?

O menino não respondia, então ele novamente perguntou:

- Criança, vamos logo, o que quer?

Nada de respostas, sem paciência ele escreveu "O que você quer?" em uma placa, para ele foi meio difícil por causa das luvas. Ao ler aquilo, o garoto apenas saiu andando de lá, sem paciência o esguio homem disse se levantando e o seguindo:

- É pra te seguir? Tudo bem, melhor que olhar a cara desses catarrentos!

Todos olhavam para ele com estranheza, cochichavam entre si coisas do tipo "ele é esquisito, não é não?", mas ele não se importava com os alheios comentários.

Assim saindo da burguesia ele foi para um bairro mais pobre, as casas eram quase grudadas, algumas não tinham reboco nas paredes e até havia simples barracos com madeira velha por lá, Eric nunca chegou perto daquela parte da cidade, era tudo mais precário do que ele estava acostumado a ver. Depois de muito caminhar, os dois chegaram a um hospital infantil, o senhor estranhou aquilo mas continuou a seguir o menino que continuava andando. Dentro do hospital, se ouvia crianças chorando em alguns trechos, e em outros ele ouvia apenas o bater do seu coração perante tanto silêncio vindo das salas do hospital, era de assustar até o Eric.

De repente o garoto entra em uma sala do final do silencioso corredor, assim que o senhor entrou ele viu o mesmo menino que ele seguiu deitado na cama com equipamentos hospitalares ao seu redor, a máquina de batimentos cardíacos fazia o agudo barulho, os olhos do garoto estavam fechados e tinha marcas de lágrimas em sua morena face. O menino estava morto. Em sua mão tinha uma carta, então Eric resolveu pegar a carta e a leu, nela estava as seguintes palavras:

"Querido Papai Noel
Nesse Natal eu não pedirei mais o que tanto sonhei: um trenzinho elétrico. Eu sinto que não terei tanta chance de brincar com ele como mamãe e papai prometeram, que por sinal não vi mais desde o mês passado.
Eu peço que faça as outras crianças daqui serem felizes, faça elas se sentirem vivas de novo. A doença que me pegou, o tal "câncer", não me fará passar dessa noite, então dê as outras a chance que eu não tive. Faça elas viverem novamente.

Abraços, Miguel"

Abaixo das palavras havia um desenho de boneco palito do papai Noel com outras crianças, sobre aquele desenho pequeninas gotas de lágrimas caíram, Eric estava se aguentando para não chorar mas as poucas lágrimas já entregavam que seu coração descobriu um novo sentimento: o sentimento de pena. Ao olhar para a suposta alma de Miguel, o homem ouviu a voz inocente do ser pedindo a ele:

- Por favor, Papai Noel.

Ele olhou o corpo, alisou a cabeça do mesmo e afirmou com as lágrimas escorrendo em seu rosto:

- Você é mais nobre que todos que conheci, Miguel. Papai Noel tem orgulho de você.

Após sair da sala, Eric respirou fundo e tocou seu sino andando perto das salas, assim com vontade ele gritava:

- Ho Ho Ho, crianças! Feliz Natal a todos vocês! Ho Ho Ho!

As doentes crianças sorriram e saíram de seus quartos, com ajuda, é claro, seguindo o bom velhinho até a recepção do hospital, lá ele ouvia os pedidos dos pequeninos com um enorme sorriso no rosto, que quase não se via por conta da falsa barba, logo depois ele entregava os brinquedos a cada um e cantava cantigas de Natal com todas elas, o espírito natalino pairou sua cabeça naquele dia.

A noite, antes dele sair, Tavares sentiu uma menininha puxar sua grande roupa chamando por ele:

- Papai Noel! Papai Noel!

- Sim, garotinha? - Disse Eric se abaixando perto dela.

- Desejo ser uma super-heroína, como a Mulher Maravilha!

Ele sorriu e alisou o cabelo dela já dizendo:

- Você já é uma super-heroína, pequena. Você está lutando contra o mal e está ganhando- então ele coloca um gorro vermelho, com um pequeno pompom branco na ponta, na cabeça dela com cuidado- só não desista nunca

- Está bem! Vai nos visitar ano que vem, Papai Noel?

- Sem falta! E mais uma coisinha- Disse ele enquanto dava uma pequenina rena de nariz vermelho de pelúcia para a menina- Rudolf estará junto e você irá passear nele

- Sério? Obrigada Papai Noel!

- Ho Ho Ho! Até ano que vem, crianças!- Gritou ele ao se levantar enquanto saía do hospital.

Ele ouviu as crianças darem tchau a ele acenando e sorrindo com alegria, como se não estivessem doentes ou talvez a beira da morte. Eric nunca sorriu tanto na vida quanto naquele Natal, tanto que naquela madrugada, em sua cela com a lua o iluminando, ele escreveu na última página de seu diário, que iria deixar no túmulo de sua mãe:

"Mãe,

Eu finalmente sorri depois de sua perda, logo nessa época natalina. O mundo não é o lugar triste que vi. O Papai Noel não é um traidor, um matador. Eu finalmente me senti vivo novamente, me senti feliz, finalmente me tornei humano de novo.

Espero que sinta orgulho de mim, mãe. Sinto saudades.

De seu filho, Eric Tavares. "

Por Julia R. Duarte
@JRDuart

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