Alice olhou para a pista de decolagem, para o bilhete da passagem e para a pequena mala, preparada para apenas um fim de semana.
Já estava com saudades de Nick. Despedir-se do filho era sempre doloroso e voltar para o Rio de Janeiro gerava sempre um conflito de emoções. Saber que ele estava crescendo saudável a confortava, mas não diminuiria a saudade que teimava apertar o peito. Deixá-lo com o pai pareceu a melhor escolha no início, mas ano após ano sentia que devia ter pensado mais, e isso tinha a ver com o crescimento do menino. Sentia-se perdendo experiências e memórias importantes que não podiam ser recuperadas.
Olhou o código da passagem, imaginando que dava uma boa tattoo. Rabiscar o corpo ajudava a transferir as dores que sentia... nos últimos dois anos, seis desenhos foram adicionados à sua galeria particular, simbolizando suas batalhas, perdas e acertos. Passou os dedos sobre o último desenho, eternizado no pulso direito. Era um rabisco do filho, o primeiro que ele fez e que lhe foi dado de presente, e que também escondia uma pequena cicatriz que não podia ser esquecida.
Os olhos marejaram e Alice olhou novamente os aviões decolando e aterrissando na pista, distraindo as emoções. Estar em Vitória também era reviver o passado, com suas boas e más lembranças. Essas terras capixabas a havia marcado para sempre, lhe dado tristeza, mas também sua maior alegria.
"Alice Boaventura Dias, chamada para o embarque, portão 4".
Espreguiçou-se, olhando em volta, voltando a se distrair com as pessoas que iam e vinham no corredor do aeroporto, algumas displicentes com suas bagagens, outras apressadas, correndo para os portões de embarque. Ela deveria fazer o mesmo, mas algo a impedia de se levantar da cadeira em que estava. Sabia que se sentiria a pior mãe do mundo no mesmo momento em que passasse pelo portão de embarque. Era sempre assim.
Foi quando percebeu os olhos claros lhe observando, emoldurados por belas sobrancelhas invocadas e uma barba vasta muito bem desenhada, que não escondia lábios que apresentavam um meio sorriso sexy. Uma sobrancelha foi erguida, um pequeno gesto de cumprimento em meio ao vai-e-vem da área de embarque e ela retribuiu com um sorriso.
O homem era inegavelmente belo. Alice mordeu o lábio inferior, tentando não deixar que sua mente vagasse por pensamentos cheios de luxúria.
"Hans Lorenz Weiler, última chamada para o embarque. Comparecer ao portão 4. Mr Hans Lorenz Weiler, last boarding call. Attend Gate 4".
A voz monótona do aeroporto alertou o bonitão. Ele também se espreguiçou e se levantou da poltrona quase em frente à Alice, pegando do chão uma mochila. Ela se levantou imediatamente após o Deus do Trovão, puxando a alça da pequena mala, surpresa com a própria pressa. Algo naquele ser nórdico, com cabelos controlados em um coque rebelde, provocou-lhe uma excitação quase incontrolável, sentia-se magnetizada por ele, era químico, inebriante. Era carência. Quase seis anos dedicados apenas ao trabalho, em três turnos, sem qualquer diversão, sem sexo. Foram anos quase celibatários e essa penitência estava começando a fazer seu corpo e sua mente se rebelarem.
Tentou não sorrir quando ele ia passar por ela, mas o viking a encarou:
— Vamos juntos, Alice? – ele estendeu a mão indicando o caminho para o portão com um sorriso que poderia ser responsável pelo aquecimento global. O jeito despachado, até mesmo cafajeste, a fez travar.
— Como sabe meu nome?!
— Você acabou de me dizer. – o sorriso foi seguido de uma piscadela indecente.
Alice umedeceu os lábios sem conseguir responder, começando a caminhar na direção indicada pelo gigante loiro, agora companheiro de viagem. Ela olhou para trás e bufou ao perceber que ele a secava, olhando-a de cima a baixo, parando imediatamente a caminhada e quase trombando com o gigante. A proximidade a desconcertou.
— Pode andar ao meu lado, por favor? – ela impôs, as mãos na cintura, fazendo Hans sorrir. Os sorrisos dele eram provocantes, e também cheios de luxúria, como os primeiros pensamentos de Alice.
— Daqui a vista é melhor, eu garanto. – não havia constrangimento no rosto de Hans.
— Pois eu acho injusto, se não posso fazer o mesmo! – ela rebateu secando-o da mesma forma, satisfeita com o que via. Engoliu em seco ao olhar o que o jeans azul claro facilmente esculpia.
— Vamos perder o voo, mooi. – ele riu, safado.
A palavra estrangeira infernizou-a. Foi inevitável pensar em Olivier, seu último amor não correspondido, o pai francês do pequeno Nick. Era uma ferida cicatrizada, mas ainda sensível quando tocada. Relembrar o quanto foi apaixonada, o quanto amou sem o retorno que queria, que merecia... afastou a mágoa com um suspiro profundo e pegou no braço do nórdico petulante, assustando-se com o volume de músculos que a camisa social escondia, puxando-o para o portão de embarque.
— Vamos, você não vai me observar como um filé exposto em um açougue... anda!
Ele riu e pegou a mala da mão de Alice. — Deixe comigo. A propósito, Hans. – ele estendeu a outra mão.
— Não temos tempo para isso! – ela retrucou andando mais rápido, tentando em vão puxar a combinação explosiva de músculos e sex appeal. Hans exalava sexo, transpirava tesão e tinha o sorriso mais sacana de todos os homens que Alice já havia conhecido. – Vamos, homem!
A voz monótona voltou a chamar Alice, dando a última oportunidade de embarque.
Ao chegarem ao portão, a comissária ignorou a moça, diante do bonitão e seu ultrajante sorriso. Alice entrou na aeronave bufando, consumindo-se em um sentimento que ela mesmo reprovava. Como podia sentir ciúmes de um completo estranho? Colocou a mala no compartimento de bagagem e se sentou na poltrona do meio, a única disponível no check-in. Terminava de se ajeitar e praguejar o gringo paquerador, quando uma sombra se projetou sobre ela.
— Parece que iremos lado a lado, afinal, mooi. – Hans sentou ao seu lado, colocando a mochila embaixo da poltrona da frente.
Alice riu, aceitando que o destino anunciava a próxima atração de sua vida.
Iniciando mais uma história... :)
Quem aqui leu Aposta Ousada? Quem sente saudades da galera que frequentava o Merci?
Calma... a viagem está só começando. ;)
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Aposta Mais Ousada (Degustação)
RomanceSérie Apostadores ♡ Livro 2: Alice retorna à Vitória/ES depois de anos se refugiando de suas emoções no Rio de Janeiro. Com um sonho na mala e ajuda dos amigos ela irá lidar com dilemas, fantasmas do passado e uma atração irresistível por Hans, o ho...