O entra-e-sai na cafeteria era sempre intenso nas segundas-feiras, quando café se torna combustível essencial para começar mais uma semana.
— Ai! – era a segunda vez que Ali derrubava café no balcão.
— Se tivesse dado seu número pro Thor não estaria tão distraída... Ou estaria? – Gaê provocou, enquanto conferia a gorjeta deixada por um dos clientes. – Toma, pro seu cofrinho.
Alice sorriu para o amigo, aceitando o dinheiro. O ponto perto do Posto 9 já tinha sido alugado quando eles foram visitá-lo. Tinha se passado uma semana desde que voltou ao Rio, pouco tempo para Galeano esquecer sua aventura aérea, pouco tempo para ela esquecer o que classificava como "loucura de momento que não vai se repetir".
Mas cada vez que o sino da porta da cafeteria fazia barulho, o coração de Alice quase pulava pra fora e era inevitável a olhadela, tanto quanto a decepção por não ser um loiro, alto e intrigante a passar pela porta, o que claramente a irritava.
Galeano se divertia com a situação, principalmente quando a amiga se distraía e deixava transparecer a frustração e a ansiedade. A vigília também se estendia ao telefone da cafeteria, e esse tinha acabado de tocar.
— É o Max. – Gaê entregou o aparelho rapidamente à Ali, voltando a atender os clientes.
— Alô? Max?! Aconteceu alguma coisa?!
— Aconteceu, sim.
Depois que voltou para o Rio, os contatos com Max ficaram restritos às visitas de Alice. Sempre que ia à Vitória, aproveitava para ir ao bar e abraçar o barman e grande amigo. Os anos em que trabalhou no Merci lhe renderam uma família. Foi no bar de Olivier que ela conheceu Max, Speed, e o próprio Oli, com quem teve Nicolas. Agora o filho vivia com o pai e com Lisa, a esposa de Olivier e grande amor da vida dele. Ali se afastou depois que Olivier a deixou por Lisa. Na verdade, ela sabia que tinha sido a "pausa" entre a ida e vinda do casal. Olivier e Lisa estavam destinados. Alice se perguntava se existia alguém no mundo destinado a ela.
Desde então, Max só ligava quando havia algo muito importante a ser dito, como quando Nicolas caiu e abriu um grande corte no supercílio, ou quando Rebecca, esposa de Max, sofreu um aborto espontâneo. Ou seja, o amigo só recorria ao telefone quando havia problemas..
— Max? Fala logo o que aconteceu, eu aguento.
— Calma, Ali. Não foi nada ruim! Você se lembra da padaria que ficava aqui perto do Merci?!
— Aquela quase de esquina, em um prédio antigo?
— Sim, o prédio que você vivia elogiando a arquitetura! Os donos a colocaram à venda e por uma bagatela.
— E você vai comprar?!
— NÓS vamos. Você e eu. Sócios.
— Max, uma padaria não está em meus planos...– Alice estava confusa.
— Mas eu pensei em uma cafeteria, Alice. Um café bistrô, com um sebo nos fundos... Becca acha uma ótima ideia! Eu pretendo continuar trabalhando no Merci com Olivier, e não falei nada com ele porque sei que você pode administrar o negócio. O ponto é bom. Eu confio em você.
— Um café, bistrô e sebo. E você como sócio? – Ela repetiu para tentar organizar as ideias. Galeano sorriu.
— Exatamente.
Foi impossível controlar a excitação. Em segundos Alice visualizou todo um futuro e com detalhes, o cheiro de café ajudou a deixar tudo muito real. Só tinha um porém. Um futuro em Vitória/ES? Voltar para a cidade que abandonou logo após o filho nascer? Precisava pensar.
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Aposta Mais Ousada (Degustação)
RomanceSérie Apostadores ♡ Livro 2: Alice retorna à Vitória/ES depois de anos se refugiando de suas emoções no Rio de Janeiro. Com um sonho na mala e ajuda dos amigos ela irá lidar com dilemas, fantasmas do passado e uma atração irresistível por Hans, o ho...