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Anne não entendeu como ele soube que havia alguém do outro lado da porta, mas não contestou quando praticamente a obrigou a jogar-se de uma vez no chão.

Escutou o barulho crescente de armas serem emitidas. As mãos seguravam a cabeça e os olhos estavam fechados, mas sentia que deveria abri-los, embora estivesse assustada demais para tal ato.

O barulho era estridente. Crescente.

E a torturava, fazendo-a recordar do passado. Da sua família. Era a mesma sensação que antes, com a diferença que agora, estavam mortos. E não era mais por eles que procuravam.

Agora, estavam atrás do homem desconhecido. O homem que entrara em sua casa sem aviso prévio, causando tamanha confusão para ela.

— Levanta, doutora. Agora! — uma voz a tirou do transe quando a puxou pelo braço, mesmo que não fosse com tanta força ao ponto de machucá-la. — Nós precisamos ir!

Anne não tinha noção do tempo que havia passado ali, imóvel e assustada, mas quando olhou ao redor, todas as pessoas que avistara entrando na casa antes de abaixar estavam caídas ao seu redor.

Mortas e ensanguentadas, sujando seu chão. Ou melhor, o chão no qual seus pais trabalharam tão duro para conquistar e formar uma família.

E tudo o que ela era capaz de fazer naquele momento era apenas observar. Observar aquela maldita situação, uma vez que estava ciente: nada mais seria como antes a partir de agora.

— Anne, está me ouvindo? — o homem segurou os ombros dela, chacoalhando-a.

A psicóloga o encarou, mas os olhos na verdade pareciam estar em outra dimensão.

Você quer morrer também? — ele gritou.

Seu rosto estava tão próximo ao dela que era capaz de sentir todo o calor imanado por ele. Aquela revolta, se era assim que ela poderia dizer, analisando seu comportamento averso.

Anne poderia continuar ali, parada no tempo, inerte em seu passado e pensamento, mas não o fez.

Quando escutou aquelas palavras... quando escutou-o perguntando se ela desejava morrer... foi como se uma luz tivesse surgido.

A resposta era não.

Claro que não.

Sua família tinha sacrificado muita coisa por ela então simplesmente iria desistir?

— Eu preciso... preciso pegar algumas coisas — ela disse, começando a correr para as escadas.

— Pegar o quê? Suas roupas de marcas e bijuterias? Não temos tempo pra isso, doutora — o homem resmungou rapidamente, atrás dela. — Mais deles estão a caminho nesse momento, tenho certeza. É questão de minutos até que cerquem a casa toda. E segundos para os tiros nos acertarem em cheio.

Se sentiu ofendida com o comentário, mas resolveu ignorar pois reclamar, pelo menos na situação atual, só iria fazê-la perder tempo. E sabia que já não tinha muito de sobra. Sabia que a partir de agora, sua vida praticamente estaria em perigoso constante.

Tudo por causa dele.

— Você não é o único que acha isso — Anne expôs ao adentrar em seu quarto outra vez . — E é por isso que preciso arriscar esses últimos segundos.

Não estava atrás de roupas, quem dera fosse. A psicóloga estava atrás de algo muito mais importante que isso. Era um presente antigo ganho por seu pai no dia que se mudaram: a caixinha de madeira velha.

Era a coisa mais importante que ela tinha, fora o colar da mãe e pulseira da irmã. E mesmo ciente que não poderia mais viver aqui, não iria embora sem eles.

Defective ❄️ Park JinyoungOnde histórias criam vida. Descubra agora