4

104 16 7
                                    

A mão de Anne doía como a primeira vez que tentou socar seu pai durante os seus treinamentos. A frustração corroendo o corpo da garota por não ter forças e os olhos atentos dele nela.

O homem parecia orgulhoso, apesar de nunca parabeniza-la com palavras. Mesmo assim, a psicóloga nunca foi capaz de entender realmente aquela sua atitude. O motivo dos sorrisos esplêndidos nos lábios dele.

E Anne sempre imagino que talvez, fosse porque houvesse algo diferente nele. Algo diferente nela.

Porque ela sentia essa ligação com o pai, como se os segredos nunca ditos fossem iguais para ambos. Aquela sensação de algo estar errado. De nunca se encaixar mesmo tentando tanto.

Só que não era hora de lembrar do passado. Ela tinha que ficar no agora. Focar em continue respirando, em sobreviver.

Inferno, por que parecia tão difícil?

De repente, todas as lembranças do passado pareciam voltar à tona de uma vez, fisgando-a pouco a pouco.

E ela se perguntava se era por causa do garoto machucado ocasionando todo esse caos, ou por ela mesma, que optou por prender todas as emoções numa jaula invisível apenas para se encaixar.

Mas ela não era uma defeituosa.

— Sua vadia burra — o homem bufou para Anne.

Óbvio que um soco como o dela não seria capaz de causar muitos estragos. No entanto, quando tentou atirar outra vez e percebeu que aquela fora a sua última bala, não teve outras opções melhores. Principalmente após ele começar a se aproximar.

Droga, droga, droga — Anne disse para si rapidamente, dando passos para trás.

Não tinha ideia do que fazer agora e suas mãos tremiam. Até que ela se esbarrou em algo atrás de si e notou, rapidamente, ser um vaso posto em cima da mesa. E não qualquer vaso, aquela era a única recordação digna que ela tinha da mãe.

Ela se xingou, pedindo desculpas para a mãe. E não pensou muito quando o segurou e jogou na cabeça do homem antes dele ser capaz de agarra-lá.

Cambaleando para trás, tonto, as mãos seguravam a cabeça e os olhos estavam fechados. Ele gritou, e Anne aproveitou a chance para correr em sua direção e agarrar a arma presa no coldre da cintura.

Apontando a arma para ele, ela segurou o gatilho, pensando se deveria ou não atirar.

Mas o grito alto de dor vindo de um canto mais afastado chamou sua atenção, e ela viu dois homens agarrarem com força os braços do garoto machucado. Ele tentou se debater, um deles apontou a arma para sua garganta, machucando-o.

Apesar da máscara escondendo o rosto, seus lábios expostos sorriam. E ele brincava com o gatilho.

Mas foram os olhos castanhos dele que surpreenderam Anne, pois não emitiam um pingo de dor ou até desespero. Pelo contrário, mantinha seu semblante apático. Aguardando qualquer coisa que estivesse por vir.

Então seus olhos encontraram os de Anne subitamente e ela entendeu o que ele estava pedindo naquele breve momento.

Fuja, pensou.

Defective ❄️ Park JinyoungOnde histórias criam vida. Descubra agora