primeiro.

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4:20 PM ── Cafeteria White Coffee, Seul.


Kim Taehyung teve que se apegar aos cheiros devido aos seus olhos que não eram capazes de enxergar cores além do preto e do branco. Em uma tarde chuvosa os cheiros misturavam-se como se fossem um, talvez fosse por isso que ele reconhecia um cheiro agridoce vindo de uma única pessoa.

Sem rumo correto, seguia pela rua pouco movimentada de Seul, com cautela e passos lentos, tentando não esbarrar em ninguém, tentando não matar ninguém.

O começo da vida foi assustadora, quando um ser desconhecido resolveu lhe acordar e o sol bateu contra seu rosto pela primeira vez. O Kim se encontrava dentro de uma caçamba de lixo, sentia dor em todos os músculos possíveis de seu corpo esguio e... Não entendia nada. Não sabia o que fazer. Não sabia quem era.

E mesmo que essa não fosse a solução, ele chorou. A morte estava chorando feito uma criança perdida, e que naquela época, Kim Taehyung era ── quase ── uma criança e estava realmente perdido.

Em seguida, tudo aconteceu rápido demais.

O mundo do menino caiu, a vida lhe mostrou um pouco do que havia por vir, como se acordar em uma caçamba de lixo não fosse o suficiente. Levantou-se e correu, gritou por ajuda, mas ninguém o via e o ouvia, foi quando o desespero o alcançou.

Suas mãos entraram em contato com a pele clara de um homem qualquer que passava pela rua, com os olhos cheios de água pediu por ajuda, quase implorou, segurou nas mãos do homem e olhou fundo nos olhos castanhos, em uma pequena coleção de segundos o indivíduo espumou e morreu. Taehyung não soube o que fazer, mas correu para longe e deu continuidade ao choro.

Depois, foi solitário. Ninguém o via. Ninguém o sentia. Ninguém o ouvia. No mundo, poucas coisas pareciam interessantes para a morte, mas se tinha algo que ele gostaria de agarrar e fazê-la dela sua, era o amor. Os seus olhos encontravam imagens de casais felizes, mergulhados na felicidade e paz, sentia vontade de experimentar disso. Queria aquilo. Queria tocar em alguém e não tirar a vida dessa pessoa em seguida.

Taehyung tinha quase certeza que, talvez em outra vida, o amor havia aquecido seu peito várias vezes. Quando o dia chegava ao seu fim, ele se sentava em uma calçada qualquer e fechava os olhos. Sem notar, algumas memórias voltavam.

Ele se lembrava de panquecas com mel, de um palco, de abraços quentes, de uma felicidade que parecia nunca o pertencer. Embora a sensação de lembrar fosse boa, tinha certeza que naquela vida jamais havia dado um sorriso alegre ou recebido um abraço. Não havia motivos para tal ato. Era horrível, ser um completo desconhecido para si. Não ter um nome. Nem idade. Amor ou… Algo.

Foi questão de costume. Além do amor e de inúmeros sentimentos humanos, ele conheceu a dor e o sofrimento, que estavam presentes em sua jornada desde o primeiro instante, mas perdido como estava, não conseguiu reconhecer.

O mundo estava doente e notou isso de imediato, Kim conheceu pessoas boas que estavam apodrecendo gradualmente em camas de hospitais ── conheceu também pessoas ruins, mas isso não vem ao caso ── e então, passou a tocar nelas.

A segunda vez que tirou uma vida, foi com uma garota de onze anos, estava quase morta, mas graças a uma máquina ainda respirava. Kim passou vários dias esperando, ao lado dos pais da menina, mas diferente deles, se manteve quieto.

vermelho e azul || vhope || Livro 01.Onde histórias criam vida. Descubra agora