Doce Orgulho

Sem noção x Sem coração

  Como eu já esperava, as coisas não estavam muito boas. Já havia duas semanas que ela nem olhava na minha cara, ou me cumprimentava, sem contar que me bloqueou em todas as redes sociais (no meu caso é só uso uma mesmo). Eu caguei no pau, mas queria concertar toda essa situação ruim que causei para nós, principalmente sobre... O beijo. Pra ser sincero,  não sei direito o que se passa em sua mente ou coração. É tudo uma grande incógnita, como um labirinto gigante cheio de armadilhas escondidas, esperando para serem ativadas uma a uma.
  De qualquer forma, não posso ficar parado esperando o tempo resolver isso pra mim, e foi por isso que montei um plano. Minha ideia principal é simples: esperar o momento certo de uma possível distração de todos ao redor para poder tentar me retratar. O porém é como vou chegar nela para conseguir conversar. Eu devo tentar criar a oportunidade perfeita para um momento um pouco mais íntimo,  e assim, não gerar uma discussão a céu aberto. A única coisa que menos quero no momento é uma nova briga com a garota que eu gosto voando no meu pescoço por uma segunda vez...

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  Ainda na semana do ocorrido...

–Grrrl! – alguém com muita raiva batia com força no travesseiro. – Seu idiota de merda, o que você tinha na cabeça? Eu queria poder te matar com um canhão nesse exato momento seu... Seu... AHHHHH!!!

  Meu coração batia forte e com velocidade, minha cabeça estava turbulenta, meus punhos gastavam toda sua ira frenética sobre o pobre travesseiro, e meu rosto estava muito quente, como se estivesse pegando fogo. Minha pele assim, tão corada, era consequência daquela idiotice. Relembrar aquilo me dava ódio e vergonha, como uma ânsia de algo ruim, não dava pra explicar, eu só não sabia o que fazer, é como se todo meu corpo estivesse entrando em um colapso violento, mas porque? Eu sabia que não queria nada, nem de longe, e muito menos com aquele menino tão estranho e ridículo e legal e...

–Não! O que estou pensando?! O que diabos ele fez comigo? Magia negra? Voodoo? Algum ritual alienígena?! É totalmente o que eu não quero! – mas, no fundo, algo pulsava dentro dos seus pensamentos – Ele nunca foi nada de especial para mim, nem fazia tanta diferença no meu dia. Pelo contrário, seu jeito irritante sempre me fez querer manter certa distância dele. Mas não que ele não soubesse ser legal, na verdade, é até divertido e engraçado, e também é bom ouvinte.

   Nesse exato momento, deitando-se, pensou no que lhe foi dito antes do beijo, e repensou sobre o garoto. Nenhum dos dois conversava com freqüência, não eram melhores amigos, nem tinham a melhor afinidade, seus gostos eram, muitas vezes, diferentes, e cada um opinava de uma forma oposta, ela; muito específica, e ele; nem sempre coerente. Talvez a única coisa que lhes manteve suportando um ao outro até então foi um sentimento reprimido e ofuscado, onde ambos negavam poder ser real, mas que era provável ocorrer uma hora ou outra.

–Acho que talvez esse beijo tenha me afetado. Pode ter sido só um estímulo a situação, afinal, beijar é bom de certo modo... Mas gostar é totalmente diferente. Acho que isso nunca irá acontecer.

  E foi ver anime, como de costume, dessa vez para se distrair.

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  Voltando para a semana atual...

  Já na escola, Vênus finalmente tomou coragem para ir até ela lhe cumprimentar.

–Olá Nancy, como você esta?
–To bem sim – disse virando o rosto pro lado oposto, sem nem bater na sua mão.
–Bom... Eu falo com você depois...
–É, tanto faz.

  Por dentro, ele se sentiu horrível, a pior pessoa do mundo, como se tivesse matado alguém a sangue frio com uma agulha de tricô. Ela, por sua vez, se sentia apreensiva e preocupada, não conseguia mais se concentrar como antes, pois sempre que o via, alguma sensações estranha a dominava. Ambos queriam resolver tudo aquilo o mais rápido possível, para que nunca mais pudesse ser dito qualquer coisa sobre o assunto.
  As aulas passaram, e quanto mais o tempo corria, mais ele ficava ansioso, infelizmente, não de uma forma muito boa, mas, momentaneamente, é a única coisa da qual ele consegue sentir. Então, deu uma olhada para a carteira dela, e lá estava a garota, dormindo a cara no livro. Soltou uma risada abafada e nervosa, e sentiu suas bochechas corar, mas não se importou com isso, pois sua atenção estava totalmente sobre ela.
  O sinal para o intervalo soou, e ele resolveu acorda-la.