Machucados se cicatrizam, pensou Lily, envolta por seus pensamentos enquanto aproveitava a chuva do lado de dentro de sua casa em Godric's Hollow. Haviam se passado 11 anos desde o dia em que dissera "sim" à James Potter, e mesmo com tudo que estava acontecendo no mundo bruxo, conseguia aproveitar um pouco da vida que ela tinha.
Mas aquela vida lhes custara seu filho, e eles ainda tinha as cicatrizes.
Numa noite chuvosa como aquela. Um sequestro.
Resultante na cicatriz em seu pescoço e em 11 anos de sofrimento.
Seu filho tinha apenas 1 ano de idade, e não tiveram outros filhos. O padrinho da criança, Sirius Black, ficou muito abalado com a perda da criança, e sempre se culpara pelo ocorrido, o que sempre tirava James do sério. James era o tipo de pai que toda criança poderia querer.
Mas a vida não foi justa. O destino não foi justo.
Os outros amigos de James, Remus e Sirius, ficaram um tempo afastados do casal, mas Remus continuara a contatá-los, que ainda sofreu com a incógnita de paradeiro de Pedro. Realmente, o mundinho deles parecia desabar junto com o mundo ao redor.
Suspirando, Lily resolveu que talvez fosse uma boa hora para assistir algum filme. James deve estar dormindo, pensou ela, e decidiu por subir as escadas.
Mas um barulho deixou em alerta.
Lily sentiu um calafrio. Naqueles tempos, tudo era motivo para temer, mesmo após o desaparecimento de Você-Sabe-Quem, os Comensais ainda estavam por aí. Vou chamá-lo, pensou, mas ela era ninguém mais, ninguém menos do que Lílian Potter, e depois de perder seu filho, nada mais a assustava.
Se aproximando da porta, um pressentimento tomou conta dela, quase como um senso de urgência. Encostando o ouvido na madeira, constatou que havia algo do lado de fora. Algo com vida.
Sem hesitar, Lílian Potter fez exatamente o que o seu bom senso dizia que ela não devia fazer: abrir a porta.
E ela não se arrependeu.
O garoto desfalecia do outro lado. Suas mãos e os pés estavam frios, quase azuis. A roupa surrada falhando em esconder o corpo magro, desnutrido e cheio de cicatrizes do garoto.
Em seu desespero, a única coisa que corria por suas veias em direção ao seu cérebro era adrenalina para ajudar aquele garoto.
- James!! - Gritou ela, e o homem desceu as escadas correndo ao ouvir o grito de Lily, ainda de pijamas e segurando a varinha com firmeza.
Ao ver o garoto e anestesiado tanto com a situação do menino como pelo sono, James Potter pegou a criança nos braços, como se estivesse apenas adormecida, e Lily fechou a porta, aflita.
- Eu devo chamar um curandeiro? - Indagou Lily, e James checou o pulso do menino, xingando baixinho. Lily notou que o marido tremia.
- Ele vai acabar tendo choque térmico, Lils - Trêmulo, James correu para pegar algumas cobertas, e pegando sua varinha, Lily começou a murmurar feitiços.
James voltou num piscar de olhos, embrulhado o menino nos cobertores, e Lily assistiu enquanto ele o observava. O corpo da criança estava coberto de cicatrizes, e em sua testa havia uma cicatriz em forma de raio.
O casal se entreolhou. Sabiam o que aquilo podia significar, mas não conseguiam explicar o porquê daquela cicatriz estar ali.
James carregou o menino escada acima até o quarto de hóspedes, e Lily acendeu a lareira.
Eles não sabiam quem ele era, mas mesmo sabendo que esses tempos não eram seguros, não era justo deixar uma vida desse jeito. Deixar uma criança à própria sorte era algo que estava fora dos planos de Lily.
Abraçando a esposa com firmeza, James deixou uma lágrima rolar pelo seu rosto, e Lily soluçou. A ideia daquela criança indefesa, sozinha no frio e agora na casa deles à beira da morte era demais para ela.
Lily e James não conseguiram dormir naquela noite. Acabaram por adormecer no sofá do quarto de hóspedes, perto da cama do garoto recém-resgatado.
O destino havia tirado o filho deles.
Do lado de fora da casa, os passos apressados e o som de aparatação foram abafados pela chuva.
* * *
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DESTINO - UNIVERSO ALTERNATIVO - HP
FanfictionHarry Potter AU Era um dia de chuva. Lily e James agora tinham 32 anos e viviam uma vida relativamente tranquila, mesmo com as cicatrizes. Sirius vivia sozinho, apenas esperando as cartas que vinham do outro continente, e Remus continuava vivendo a...