Damn

Prólogo

Não sei como e quando isso começou, essa estranha agitação, não consigo me lembrar do momento exato que meu coração começou a palpitar na presença desta pequena criatura. Esta criaturinha barulhenta que acabara com o silêncio a minha volta. Não me lembro mais da sensação de estar em silêncio. Toda vez que tento recordar-me, a sua gargalhada ecoa em minha mente, uma gargalhada estridente sem nenhuma inibição.

Esta garota tão pequena e vulnerável, que de forma petulante chutou a porta da minha vida, com os dois pés, entrou no meu espaço pessoal sem nem ao menos sentir medo de explorar o desconhecido. Admiro a coragem dela. Em todos os séculos que andei vagando pela terra, nunca encontrei ninguém tão interessante. Nunca encontrei nada e nem ninguém que fosse capaz de fazer com que eu sentisse vontade de viver.

Inicialmente a humanidade era algo que me fascinava, algo que instigava em mim sentimentos como inveja,tanta inveja que me cegava, agora estar na terra é nada além que doloroso. Porém não existe volta, não posso voltar ao céu e muito menos deixar de existir, o criador sabe como punir seus filhos rebeldes.

Será que essa é uma de suas punições também? Sorrio sem nenhum humor, é claro que é. Com minha vista embaçada vejo seu pequeno corpo sem vida nos meus braços, seu braço caíra para o lado de forma desajeitada. Fecho olhos com força e peço aos anjos, a meu criador, para que tenha alguma piedade daquela alma.

Peço. Assim como um filho rebelde pede a seu pai para voltar para casa, mas parece que não há ninguém escutando.

Eu pedi para você não sorrir daquele jeito para mim, não pedi? Eu fiz de tudo para não se aproximar de mim, então por que insistiu? Garota teimosa, está satisfeita por me deixar sozinho novamente?