Damn

Capítulo 3

Meu corpo involuntariamente se impulsionou para frente quando a resistência sobre ele sumiu, devido a minha insistência em me debater. O ar agora preenchia meus pulmões, fazendo-me tossir de forma desenfreada, como se o ar que antes ali faltava tivesse entrado rápido demais para meu corpo processar. Coloquei a mão no meu pescoço onde antes havia uma mão, parecia estar tudo no lugar. 

    Estou morta? Me perguntei, mas uma olhadela para onde Yuki se encontrava me revelou que, nada do que eu havia visto tinha sido real, o dia já havia clareado e olhos confusos agora me analisavam, Yuki estava com os cabelos desgrenhados e com a cabeça levemente inclinada para o lado, a pergunta estava implícita. “O que houve?” 

    -Pesadelo? –Sua voz estava rouca.

    Assenti, ainda confusa com tudo aquilo. Não conseguia tirar as mãos do meu pescoço, eu ainda sentia as mãos do homem de máscara ali, tinha sido tão real, que eu sentia a região latejando. Minha cabeça doía e estava pesada, como se tivesse uma dúzia de pessoas ali dentro, todas pensando ao mesmo tempo. 

    -Palhaços ou alienígenas ? –Ele apoiou o queixo no braço do sofá, me encarando, como se estivesse realmente interessado no que eu tinha para contar. 

    Balancei a cabeça em negatividade e com um sorriso forçado disse:

    -Não, eu sonhei que você estava morto e eu mesma tinha o tinha matado. –Me aproximei dele fazendo gestos com as mãos indicando que eu iria enforca-lo. 

    Seu sorriso tomou um ar mais perverso, ele agora apoiava os dois cotovelos no braço do sofá e seu rosto estava apenas alguns poucos centímetros do meu, alguns fios de seu cabelo faziam cócegas na minha bochecha e eu sentia sua respiração se misturar com a minha.

    -Você deveria saber que eu sou um pouco masoquista... –Os lábios dele encostaram levemente nos meus enquanto ele falava. 

    Tive a impressão de sentir meu coração palpitar mais forte por uma fração de segundos, o fato era, que olhando ele tão de perto assim, seu rosto tinha feições que me agradavam mais do que deveria. Sem pensar muito sobre eu o empurrei com força, fazendo-o se desequilibrar e cair de costas no chão. 

    -Idiota! –Me levantei de forma desajeitada e apressada. –Deveria escovar os dentes antes de falar tão próximo de alguém logo de manhã.

    Ele soltou uma gargalhada, ainda estava jogado no chão de forma preguiçosa.

    -Então se eu escovar os dentes você não me empurrará de novo?

    -Morra! –Senti meu rosto todo queimar.   

    O sorriso debochado sumiu de seu rosto e parecendo que tinha um peso em seu corpo ele se levantou, colocou as mãos nos bolsos de sua calça de moletom.    

    -Não é como se eu já não tivesse tentado. –Ele sussurrou,  me olhando através da cortina de cabelos desgrenhados, que se formara em frente ao seu rosto assim que levantou.

    -hm? –Eu não podia ver meu rosto, mas se pudesse tinha certeza que veria uma expressão mista de confusão e incredulidade.

    -Você não entenderia. –Yuki se dirigiu para o banheiro, batendo a porta atrás dele. 

    Será que eu exagerei? Talvez eu tenha ido longe demais, pareceu que para o Yuki era algo delicado demais? O que será que aconteceu com ele para ele dizer que já tentou morrer? Aquilo me deixou com um peso no coração, eu não queria que ele morresse de verdade.

    A imagem de Yuki morto que eu vi no meu sonho, voltou de forma clara a minha mente, tão clara que parecia real. Senti uma fisgada forte na minha cabeça, massageei minhas têmporas afim de afastar a dor e a imagem, mas eu sabia que seria inútil, eu ficaria com aquela cena perdurando na minha cabeça por um longo tempo.