Estava sentindo um leve frio na barriga quando parei em frente a um prédio de estrutura imponente, que fazia eu me sentir retraída apenas de olha-lo. Suas paredes eram revestidas de tijolos vermelhos, e um relógio no centro de sua parte mais alta indicava que era quase meio dia. Nem podia acreditar que iria frequentar a universidade de Tóquio, só de pensar minhas pernas ficavam bambas e meu coração acelerava.
Tinha dedicado meu tempo integralmente aos estudos para que este momento chegasse, finalmente consegui sair da pequena cidade do interior a qual morei a vida toda com minha família, para vir morar na grande Tóquio. Finalmente consegui liberdade, a minha tão sonhada liberdade.
Vim de uma família extremamente tradicional, que com certeza estava esperando a primeira oportunidade para me casar com um homem alguns anos mais velho, de princípios e claro, com muito dinheiro em sua conta bancária. Porém eu não faço muito o tipo de garota que aceita isso calada, estudei o dobro do que eu precisava, juntei dinheiro com trabalhos de meio período e prestei os exames para a universidade de Tóquio, sem que meus pais soubessem. Meu plano era passar pra faculdade e só contar pros meus pais no dia de ir embora.
Foi exatamente o que eu fiz, me senti culpada, depois que vi minha mãe aos prantos nos braços do meu pai, enquanto o trem tomava embalo para arrancar. Se eu me arrependi? Claro que não. Eu não tinha outra escolha, eu jamais vou deixar alguém decidir meu destino. Sou eu a dona da minha própria história.
Tudo bem, mamãe...papai, não espero que vocês me perdoem. Pensei enquanto o trem se afastava da pequena estação.
E agora eu estava aqui, numa grande cidade, sozinha, dando os primeiros passos para meu futuro, numa mistura de excitação e medo. Contornei o canteiro, pelo caminho de pedras, que levava para as escadarias da entrada principal, com as pernas ainda bambas, sentindo um suor descer pela minha nuca.
Apesar de ser abril, ainda estava bastante frio e eu vestia meu sobretudo cor de mel surrado, que usara durante o ensino médio inteiro, uma calça jeans que começara a rasgar entre as minhas cochas devido longo tempo de uso e uma blusa de manga comprida branca, a única peça que não estava tão desgastada e puída. Meu cabelo estava preso em um rabo de cavalo baixo, algumas mechas se soltavam do elástico, devido ao recente corte de cabelo –cortei-o logo no dia seguinte que saíra de casa, para mim era um significado da minha libertação.
Entrei no prédio me sentindo ainda mais retraída com tal magnitude, respirei fundo, contei até dez e obriguei minhas pernas a trabalharem, um pé na frente do outro. A universidade era gigante, era possível se perder ali com facilidade, mas graças a um pequeno mapa que segurava, consegui me guiar pelos corredores e chegar a uma sala de porta de vidro, com uma plaquinha de metal azul, escrita "secretaria" em branco.
Dei leves batidas na porta de vidro e logo após entrei, a secretária me cumprimentou jogando seu corpo levemente para a frente e eu fiz o mesmo. A secretária era uns centímetros mais alta que eu, creio que devido ao salto alto que estava usando, seus óculos de armação quadrada, combinava com seu rosto pequeno, e seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo alto, bem mais arrumado que o meu.
-Meu nome é Suzuki Eiko, vim fazer a matrícula na faculdade. – Meus pais haviam escolhido esse nome, porque esperavam que eu tivesse uma longa vida, agora, depois do que eu fiz, duvido que pensassem o mesmo.
Entreguei para a secretária as minhas documentações e depois de alguns minutos ela me devolveu um cronograma de horários e uma folha com uma "pequena" lista de livros utilizados no semestre. Como eu ainda não sabia o que eu queria cursar, ainda não tinha me matriculado em um curso específico, e por isso ia cursar matérias de inicio, como história, língua japonesa e outros.

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Damn
RomanceEssa história não tem um final feliz, não espere algo assim dela, algo como viveram felizes para sempre, isso não existe, não aqui. Duas almas destinadas a se encontrar e o que as liga é a morte, a gélida e solitária morte. Aos 18 anos Eiko Suzuki...