03 de maio de 2016 - 08:00 AM
Phoenix - Arizona (USA)A noite passada havia sido intensa, Rich e eu saímos pela última vez. Ele era meu melhor amigo, mas sempre ficávamos. Eu o amava de uma maneira pura, sem malícia ou algo parecido, o amava como uma amiga ama um amigo.
Segundo ele, nós deveríamos nos despedir da maneira correta, o que significava uma única coisa: heroína.
Injetava heroína desde os meus quatorze anos, com essa idade também comecei a fumar cigarros. Os dois eram os amores da minha vida, eu os amava completamente com todo o meu coração, alma, corpo e mente. Aos quinze tive uma overdose e minha mãe me internou em uma clínica psiquiátrica e do Brooklyn fomos para Phoenix. Foi quando entendi que o paraíso poderia ser transformado em um inferno facilmente. E também, foi quando conheci Rich.
Nota-se que não deu nem um pouco certo o tratamento, uma semana após eu ter saído da clínica eu só não estava me picando, mas também fumava maconha e cheirava cocaína. Eu havia feito algumas amizades no colégio, elas me apresentaram à essas outras drogas e como era uma garota "corajosa" aceitei todas em minha vida, como uma boa mãe aceita um filho de volta ao lar. Apesar disso, minha mãe acreditava fielmente que eu havia tomado um rumo e eu fazia de tudo para acobertar essa bela mentira.
Outra coisa que minha mãe não fazia ideia de que eu tinha feito era o roubo. Com dezesseis anos assaltei uma farmácia, afim de pegar várias caixas de Alprazolam¹ e uma grana para sustentar meu vício.
Minha cabeça latejava e eu não tinha forças para me levantar. Eu sentia que aquela merda me consumia e não havia nada que eu pudesse fazer quanto a isso.— Grace, vamos nos atrasar! Vem logo.
Minha mãe gritava da cozinha feito uma louca. Iríamos nos mudar novamente, ela havia ganhado uma "promoção" em Miami e teríamos que ir pra lá. "Um recomeço" era o que ela sempre dizia, pelos menos era o que ela disse quando nos mudamos para Phoenix.
— Tô indo. - respondi com a voz de um zumbi.
Me levantei e fui direto para o banheiro, precisava tomar um banho e injetar.
Abri o armário que ficava acima da pia e retirei de lá um pedaço de algodão, uma colher, minha seringa, e a heroína embalada. Faltava o pedaço de limão, caminhei até a cozinha ignorando completamente a correria de minha mãe e em seguida até a geladeira, e o peguei. Voltei para o banheiro do meu quarto, já verificando os bolsos traseiros da minha calça e achei um isqueiro. Agora sim estava completo. Sobre a colher espremi o limão, deixando algumas gotas cair nela, uma quantidade pequena de água, algodão e o pó da droga. Com o isqueiro, esquentei a mistura e após o feito, introduzi a mistura na seringa. Procurei uma veia visível em meu braço e injetei.
Senti meu corpo ficar anestesiado e inspirei todo ar que meus pulmões podiam suportar. Retirei a roupa do meu corpo e fui para o chuveiro, ligando o mesmo em seguida.Após ter tomado o banho e colocado a roupa — uma regata preta, uma jaqueta jeans para esconder minhas marcas e um shorts do mesmo tecido da última — terminei de guardar minhas coisas na mala. Parei na porta do quarto e olhei fixamente para cada canto do mesmo, relembrando cada momento — ou quase todos — dos últimos quatro anos. "Adeus, Phoenix. Adeus, Rich." Esse foi o meu último pensamento antes de partir.
¹ Alprazolam é um fármaco utilizado em distúrbios da ansiedade e em crises de agorafobia, algumas pessoas usam o medicamento com uso recreativo
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Heavydirtysoul
AcakMinha vida sempre foi monótona, sempre fiz as mesmas coisas e pensei as mesmas coisas. Mesmo que estivesse em um outro lugar, eu sempre fui a mesma e meus atos sempre foram os mesmos. Sempre foi assim, até eu chegar nas Coast's: minha família. Entre...