Necrópole

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O cheiro putrefato que pairava no ar fez Madison tossir antes mesmo que abrisse os olhos. Sentiu a vertigem lhe atingir enquanto cobria o nariz e tateava o redor, abrindo os olhos aos poucos. Se levantou ao ver o chão de terra e a gigantesca árvore morta não muito longe.

É cedo demais para estar aqui, pensou, limpando a terra das roupas enquanto olhava para ambos os lados. Encontrou o loiro ao seu lado, observando o pequeno vilarejo com um olhar perdido em pensamentos. Ele recompôs sua postura quando notou ela acordada, sem dizer uma palavra, começou a andar ao cheiro incômodo da morte e ela o seguiu, sem saber ao certo o porquê.

A Necrópole.

É como um dos primeiros pontos das almas após a morte, e, com medo do que lhes espera, algumas acabam ficando por ali mesmo, correndo o perigo de serem devoradas por demônios da floresta que cercam o vilarejo protegido por muros. Toda a Necrópole era envolta por uma névoa que dava ao lugar ainda mais a imagem da morte presente. Sendo o mais visível a gigantesca árvore morta no centro da Necrópole, cujos galhos alcançavam de ponta a ponta dos muros.

De todas as ligações paralelas que o Portal poderia levar alguém, aquela, de quase infinitas possibilidades, era a mais impossível, por um fator ridiculamente óbvio: vivos não entram na Necrópole.

Ou ao menos, não entravam.

Mal conseguiam ver sete palmos a sua frente, a terra do chão estava molhada e tornava difícil se mexer com agilidade, o ar era pesado e sequer parecia haver oxigênio ali, não chegaram a andar vinte metros antes de pararem. Ambos sabiam que a comunicação seria uma peça importante para ajudá-los a sair dali, e mesmo carregando sobrenomes que se odiavam tanto, se já tinham chegado ali juntos, deixar de seguir a tradição de desprezo um ao outro só mais um pouco não teria problema.

Ainda que o maior obstáculo no momento fosse ter que deixar orgulho e ser o primeiro a puxar assunto. Madison observou Hunter a sua frente, ombros largos, cabelos loiros que balançavam pelos movimentos bruscos pelo lamaçal no chão, pele clara como uma folha de papel, bem coberto com um casaco de couro longo, um jeans preto e coturnos da mesma cor. Ele nem havia olhado para trás uma vez sequer desde que tinha começado a andar, fazendo a ruiva se perguntar se ele realmente a estava esperando acordar ou ela apenas o acordou de seus pensamentos.

Isso, apenas Hunter poderia dizer.

Mas ela não se atreveria a abrir a boca para perguntar algo assim na situação em que estavam.

Sentia os arrepios virem um atrás do outro pelo frio que parecia abraçar sua pele desnuda, se arrependeu de ter deixado as empregadas da sua casa escolherem a regata fina com um jeans rasgado nos joelhos para usar. Abraçou o próprio corpo numa tentativa de afastar o frio ou ao menos diminuir seu bater de dentes.

Ouviram ruídos ao passarem ao lado de uma construção desgastada pelo tempo e coberta de musgo, Hunter parou no mesmo segundo, bloqueando o caminho de Madison que quase chocou com suas costas. Em passos silenciosos e largos, ele se aproximou da entrada olhando atentamente ao redor, em busca de qualquer perigo. Uma de suas mãos estava erguida na direção da ruiva, dizendo para que ela esperasse parada.

Madison soltou um pigarro antes de dar passos pesados na direção da casa e entrar sem cerimônia, empurrando Hunter para o lado sem uma gota de delicadeza. O cheiro de cemitério e incenso fez a ruiva sentir vertigem, a penumbra pela má iluminação mal a deixava enxergar o cômodo, porém, alguns minutos se adaptando aquele escuro foram o suficiente para enxergar a silhueta largada numa cadeira no canto do cômodo.

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