Saudade de casa

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NOVA YORK

Rome acorda antes que os outros e vai direto para o banheiro escovar os dentes e lavar o rosto; diferente da última vez, o banheiro não estava uma zona. Eles haviam combinado de irem para o estúdio cedo porém Rome havia se levantado uma hora antes.
Ele vai até a varanda, acende um beck e sente a brisa matinal bater em seu rosto enquanto aproveitava a vista do nascer do sol com o olhar perdido no horizonte. Enquanto apreciava a vista ele cruza as pernas e coloca a mão no bolso de sua calça, e ao enfiar a mão lá dentro ele sente alguma coisa. Era a foto que ele havia encontrado antes de deixar a Boomb. Como estava com pressa ele não teve muito tempo de analisar a foto naquele momento, mas agora que estava tranquilo ele analisa a foto com calma e repara em cada detalhe. Diversas memórias de diversos momentos em Hortocity começam a surgir em sua mente. Momentos de descontração com os manos na Boomb; as resenhas no estúdio de gravação; os shows; as festas e curtição que tinham. E principalmente, os momentos que passava com Lisa. Esses eram os que mais o martirizavam por dentro.

Eles se conheciam desde a infância, muito antes de Rome começar a fazer sucesso na música. Já eram apaixonados um pelo outro porém nunca havia rolado nada entre eles. No entanto, quando ficaram mais velhos e começaram a se relacionar não pararam mais. Algumas mulheres haviam passado pela vida de Rome, porém, mesmo com diversas indas e vindas em seu relacionamento com Lisa, ela foi a única que conseguiu mexer de fato com seu coração. Enquanto revivia esses momentos em sua mente, de repente, seu telefone toca e acaba o assustando, fazendo-o largar a foto sem querer e deixando cair da varanda. Um vento forte passa bem na hora e carrega a foto pelo ar. Rome se lamenta ao ver ela indo embora levando consigo um dos poucos registros que apenas eles tinham de todos reunidos.
Ao atender o telefone ele se surpreende com a voz. Era Mikão.

-Fala, preto louco, como é que , meu parceiro? -era assim que ele costumava chamar Rome.
-Fala, negão. Firmão, truta?
-Firmão. Como é que tão as coisas por aí? A rapaziada?
-

Por aqui tá tudo bem, mano. Tamo seguindo em frente. Já arranjamos um estúdio aqui perto do hotel, e já vamos voltar com as gravações.
-Daora, mano. Muito sucesso aí pra vocês.
-Valeu, irmão. E por aí, como estão as coisas?
-Tá cada vez pior, mano. Nessa bagunça muitos dos nossos estão se afundando. Tanto no crack, quanto nas guerras, em conflitos... A gente esperava que essa zona durasse apenas alguns dias, mas a cada dia que passa parece que nunca mais vai acabar... foda por aqui, nego...
-É, pode crer, eu tô acompanhando pela televisão. As imagens estão bem feias... -ele dá uma tragada no beck- Mas fé que logo tudo isso acaba, irmão.
-Acontece que com tudo o que está acontecendo está cada dia mais difícil ter fé... Mas vamos seguir, né... Bom, pelo menos uma notícia boa eu tenho que dar. Se liga só.

Nesse momento a voz do outro lado da linha muda para uma voz rouca e trêmula. Rome consegue reconhecer.

-Pensaram que tinham se livrado de mim? -Era Lil.
-Haha, puta merda, como é bom ouvir sua voz de novo, Lil -diz Rome muito supreso.
-É bom ouvir a sua também -diz Lil com a voz rouca parecendo se esforçar um pouco para conseguir falar- Apesar de não estar conseguindo ouvir muito bem -diz ele em tom irônico.
-Hehe, mas é assim mesmo. Aos poucos você vai melhorando. Como você tá?

Lil já não corria mais risco de morte e já havia melhorado bastante. Porém, como havia sofrido graves lesões, ainda estava internado no hospital. Sua voz estava se recuperando aos poucos. Sua garganta já havia sido costurada e por sorte sua laringe não havia sido atingida. Caso fosse, ele poderia perder de vez a chance de recuperar sua voz.
Ele conversa um pouco com Rome sobre como estavam as coisas porém logo passa o telefone para Mikão pois não podia fazer tanto esforço para falar. Rome se despede deles e encerra a ligação. Mais tarde, quando os outros acordam eles partem para o estúdio e começam a trabalhar na produção de seu novo álbum.

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