Capítulo 2

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  Passou uns dias, era o 5° dia frequentando aquela casa. Tia Flávia fazia coisas estranhas que não entendia, não compreendia o por quê daquilo tudo. Lembram daquele altar e que neste havia um pedaço de carne coberto por um véu? Pois bem, aquela carne era trocado todos os dias por um pedaço de carne crua nova. Não sei o que acontecia com aquele outro pedaço anterior, e como minha tia já via minha curiosidade dizia para não me preocupar com nada. Eu pensava "Sei, não me preocupar..", e dava de ombros distraindo com os pássaros que passavam por aquela região.
  Naquela noite não dormi bem, escutava alguns sons estranhos, mas o que se destacava era um vocal de cabra vindo ao longe. Aquela cabra não parava quieta, parecia mais aquelas gatas no cio que fazem barulho a noite toda, entretanto consegui dormir. No outro dia, perguntei a minha tia sobre aquela cabra, se ela tinha escutado aquele vocal e se tinha conseguido dormir. Minha surpresa foi ela ter dito que aquela cabra estava esperando ela abrir a porta para elas conversarem um pouco, e que ela tinha feito isso. Dona Flávia falou que foram altas conversas, e que não sabe como eu não acordei de tanto barulho. Hoje agradeço a Deus por não ter visto essa cena, imagina uma cabra sentada conversando como um humano? Mas acho que não fugi de ver aquilo em pé na minha frente.
  7° dia agora. E uma senhora bem vestida e bem charmosa veio nos visitar. Uma senhora com aparentemente 30 anos, com seus lábios vermelhos e seus olhos penetrantes. Seus olhos me chamavam a atenção por serem incrivelmente verdes, bem verdes. Ela me comprimentou e me deu um abraço bem forte, nesse abraço eu escutei algumas palavras ditas em meu ouvido, não entendi nada do que ela estava ditando e não liguei muito. Minha tia sorriu para mim e se sentou em seu sofá esperando dona Lunar se sentar. Nessa hora, fiquei confusa, esta é a dona Lunar? Aquela cabra da foto que ela tanto falava? Confesso que naquela hora senti um calafrio que me fez ficar com medo daquela senhora, contudo não queria mostrar a dona Lunar que estava com medo e decidi me sentar junto com elas.
  Conversa vai, conversa vem. Dona Lunar em um momento olhou para mim e disse o quão jovem eu era, disse-me o quão inteligente eu era e ainda continou fazendo altos elogios. Agradeci, nada mais falava. Quando estava indo embora, me deu mais um abraço apertado e sussurrou em meu ouvido "Êcov... acnarb arbac amixórp.", no começo eu não comprendi, mas fiquei repetindo em minha mente quando ela já tinha ido. E lembrei-me de algo que minha mãe falava "Bruxas falam ao contrário para esconder o que vem por ai! Cuidado!"; ela falava isso pois conhecia uma bruxa que sempre falava ao contrário. Então o que a dona Lunar quis dizer é "Próxima cabra branca... você.", fiquei assustada quando descobri. Minha tia notou o nervozismo que fiquei em uma hora para outra. Disse para não se preocupar, que tinha me lembrado de algo e que não podia fazer nada por aquilo. Mentira.
  Anoiteceu e aquele vocal veio junto. A cabra andava perto da casa e principalmente perto do meu quarto, o que me assustou bastante. Escutei tia Flávia abrir a porta e dizer para aquela coisa um seja bem vindo. Aquela coisa bateu duas vezes os cascos no chão. Não tem aquelas vezes que estamos muito curiosos mas temos medo de saber as consequências? Era o que sentia naquele momento, porém disse a mim mesmo que iria descobrir o que era aquilo. Levantei fingindo estar com muito sono -o que eu não estava nadinha- e me dirigi a cozinha, mas a minha intenção era outra. Passei pela sala e vi uma cena extramente estranha. Minha tia sentada no sofá e conversando com a cabra entre suas pernas sentada, onde a cabra olhava para minha tia atentamente. Ao eu aparecer na sala, a cabra dirigiu seu olhar para mim e falou. Sim. A cabra falou! "Olha, a sobrinha linda de que estava falando.", podia-se ouvir a voz da dona Lunar naquela cabra, que medo. Minha tia, falou que era eu sim, que achava que eu tava ali só para pegar um copo de água. As duas olharam mais um pouco para mim e a cabra se levantou de onde estava como um humano, andando sobre dois cascos e sem nenhuma dificuldade. "Já tenho que ir andando, amanhã a coméia estará cheia e tenho que dar minhas bênçãos.", isso que a cabra falou antes de se virar para mim e me encarar com aqueles olhos verdes, olhos que me hipnotizaram por um momento. Minha tia acenou com a cabeça que sim e falou que entendia, que ela deveria ir amanhã também para a coméia.
  Eu não sabia o que fazia, mas meu corpo se manteve quieto e estático. Paralisado. A cabra se dirigiu para a porta, andando, se despedindo logo após de nós, correndo muito logo em seguida. Aquela cena daquela cabra em pé nunca vai desaparecer em minha cabeça. Sua barriga branca e seus olhos extremamente verdes, o que era aquilo afinal?!
 

A Cabra LunarOnde histórias criam vida. Descubra agora