Capítulo 2

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Rafael. Quatro anos na reposição de bebidas, o cara era o xodó do patrão que relutou pra tira-lo do corredor. 

Talvez passou na cabeça do portuga que em time que está ganhando não se mexe, mas sabendo que o rapaz poderia se demitir por se sentir ofendido quando pessoas que entraram na empresa depois dele tinham subido para o ADM, o Braz resolveu promover o guri. 

Um sonho de guri, aquele menino que qualquer cara ou menina gostaria de tirar uma casquinha. Não era uma beleza encarnada numa pessoa comum do proletariado, era um pequeno anjo, sensível, tranquilo, delicado, sonhador e... extremamente avoado. Qualquer coisa lhe distraía, qualquer pio de passarinho, buzina dos carros na avenida, chuva, sexta-feira, produto novo pra cadastro e música desviavam sua atenção.

— Ah! Meu Deus essa música... — Rafinha aumentava o volume e cantava me olhando dentro dos olhos. Parecia às vezes que queria me seduzir, mas não era. Ele era totalmente fiel ao seu EX. Exatamente. O namoro tinha terminado há um ano e ele não saía com mais ninguém.

— Não gosto muito desse tipo de música, desculpa.

Ele baixou o volume e pediu desculpas por ter me atrapalhado, mas eu amenizei dizendo que estava tudo certo.

— Danilo, escureceu tanto! Olha, tá chovendo.

Lá se vai meu foco quando eu o pego perto da janela olhando através da persiana o céu desabando forte.

— Puta merda, meu carro! — Eu comento quando escuto o barulho das pedras de granizo.

— Poxa que pena. Tomara que não estrague nadinha né?

Esse jeitinho doce, sempre positivo era um encanto e igual a um homem do mar, que seria eu no caso, ele era pra mim a atração exercida pelos mistérios escondidos sob ondas mais turbulentas ou marés mais altas. Rafael logo virou um grande amigo a ponto de me oferecer consolo quando Miguel terminou comigo.

Eu não senti tanto pesar no término do namoro, eu era para aquele cara apenas um pau, sexo romântico e um beijo de bom dia.

— Eu achei que tu ia desabar. Porque comigo foi assim. Até hoje parece que não saiu aqui de dentro. E pior, temos amigos em comum, moro há poucas casas do irmão dele que me adora. Então eu esbarro às vezes no André.

— Acha que ainda ama ele?

— Ai Danilo, pra mim foi intenso demais. Eu fui um namorado que fiz de tudo, não que eu me ache, não tô me achando, mas eu sou romântico, então não deixei passar nada em branco. Ele tinha um jeito parecido com o seu, menino, sabe até a músicas, filmes e livros, acho que ele gostava das mesmas coisas que tu.

— Ele te tratava bem?

— Muito. Era um cavalheiro. Durante os quatro anos, o André sempre foi um sonho de homem. Educado. Ele era perfeito...

Rafael me mostra as centenas de fotos deles em todos os momentos possíveis de um casal. Inclusive com famílias mais liberais que pareciam querer que aquela relação nunca terminasse, pois se tratava de dois rapazes maravilhosos. Isso dava até em mim um aperto no peito, pois gostaria muito de saber que voltaram e que Rafael concluiria um sonho que disse-me que compartilhavam que era a adoção de filhos.

Rafinha, chamado assim por ser miúdo, era além de querido, bom nas coisas que fazia, pelo menos onde Braz achou que ele era excelente. Só que no meu setor não estava dando muito certo e meu estresses junto ao rapaz só aumentavam. Ele não sacava que era sua desatenção que atrapalhava. 

— Danilo, hoje fazem três meses que estou aqui em cima e estou tão feliz de trabalhar pela primeira vez num escritório. Não preciso vir sábado à tarde e nem domingo, isso é tão bom. Graças a você que está me ajudando tanto.

CapricornianoOnde histórias criam vida. Descubra agora