Capítulo 1

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A equipe de faturistas há bastante tempo precisava de um reforço. 

Meu patrão ficou um tanto acomodado quando percebeu que eu dava conta das notas de entrada da matriz.  E quase que abracei também as emissões das saídas quando Juliano meu colega pediu demissão.

No retorno de um almoço em início de fevereiro de 2018 foi meio assim:

— Acabei de conferir no edital da Prefeitura e fui convocado. Lembra que eu tava esperando? Putz. Vou trabalhar na minha área, graças a Deus!

— Tu vai mesmo? Sair de um escritório pra pegar uma sala de aula? Tu é doido.

— Cara, feriadão a prefeitura emenda. Carnaval, Páscoa e o salário é um pouco melhor. Depois, se fosse só pra "contratado" eu nem ia. Tô indo porque passei no concurso. Pô, quase dois anos esperando. Tava na hora.

— Vou me ferrar aqui. Sabe que o Braz demora pra contratar gente pro escritório. Túlio é o maior chato na avaliação das pessoas.

— Vai dar tudo certo. Se precisar de alguma coisa me liga ou fala com o patrão.

— Já deu o aviso?

— Cara... nem fui lá. Essa é a parte foda de sair da empresa. Aqui é igual uma família. A gente se apega, mas é que... profissionalmente precisamos pensar em nós mesmo. Patrão só valoriza quando a gente rende, quando funcionamos.

— Sim... mas ele é um cara muito humano. Te ajudou pra caralho. Lembra que até empréstimo o cara já te fez.

— Mas eu não reclamei de nada, Dani. Não ficou feliz por mim?

— Fico feliz que tenham te chamado, mas é que somos amigos e aqui na matriz dá tudo tão certo.

Dava tudo tão certo.

Dava certo porque ele, Juliano, dava conta de sua parte, emissão de notas de venda, devolução e o que solicitassem, além de me ajudar pra caramba com a importação de documentos pra que eu faturasse os preços e cuidasse da remarcação, cargas nos caixas e balanças. Tanto serviço que faz parecer necessário mais pessoas. Só que não. Eu e Juliano dávamos conta e ainda sobrava tempo pra falar sobre nerdices em minutos que parecia nos sobrar.

Mas como nada é pra sempre e esse é um defeito da perfeição, ele saiu da nossa sala nos minutos seguintes para dar sequência ao seu caminho numa profissão escolhida por ele há tanto tempo e que por um tempo desmotivado, ele tentou algo diferente se tornando esse colega precioso.

Não queria parecer invejoso, até porque eu não senti inveja. Mas um ciúme eu confesso que senti. Caso ele ficasse, seria se o Braz cobrisse todas as condições as quais são garantidas a um funcionário público, o que obviamente ele não faria. E se o fizesse deixaria o restante de sua equipe do setor administrativo bem enciumada. Mas não funciona dessa maneira. Ser bom patrão é ser justo e com isso, Juliano ficou apenas mais uns quatorze dias ali, pois sua convocação era para o início do ano letivo de 2018 e não tinha como adiar sua saída.

Na primeira semana veio um socorro, meio devagar pra aprender as coisas, parente da ex mulher do Túlio, entrou com a mentalidade de "parente do dono" o que ela não era e antes fosse.

Elaine queria muito se parecer com Túlio companheiro do chefão, senhora sincera, meio seca, um tanto forçada, geralmente reproduzindo por conta própria que era muito parecida com ele. Se dizia rápida na digitação, mas nos e-mails onde me colocava em cópia, não costumava acentuar, nem pôr um "obrigado", "por gentileza", muitas vezes não assinava a "bagaça" e eu ia ali do seu lado e dizia:

CapricornianoOnde histórias criam vida. Descubra agora