Prólogo - A caderneta.

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Em um dia, simplesmente Donghyuck parou de ouvir o som dos pássaros que cantavam na árvore ao lado da sua janela. Parou de ouvir o som da chuva, dos carros que passavam na rua. Simplesmente…parou.

No quinto ano escolar, antes da cerimônia de abertura, Donghyuck teve uma febre alta e incontrolável que o deixou de cama por dois dias, um sarampo que veio em mau tempo e o deixou com sequelas. Com milhares de antibióticos e outros remédios a doença foi embora deixando em si apenas uma súbita consequência: a surdez.

De início era difícil acreditar que algo como uma doença havia tirado sua capacidade de ouvir, mas ao ir ao médico, ele descobriu ser totalmente possível. Donghyuck conseguia falar, mas não podia ouvir, então sua comunicação ficará limitada ao garoto tentando se comunicar aos berros sem medir o tom de voz em público ou até mesmo em casa. E foi então que Haechan fora introduzido a língua de sinais, algo extremamente difícil, que todos em sua casa tiveram de aprender. Donghyuck aprendera como se virar, ganhara um sinal, fora apresentado a comunidade surda.

No começo fora difícil estudar como todos, passar mais tempo com ouvintes do que outros surdos — profundos ou não, — o deixava perdido e encabulado, além de confuso e perdido. Havia também a dificuldade em acompanhar as aulas o preconceito por parte dos colegas, então Donghyuck perderá muitos amiguinhos. Uns por acharem que sua condição era contagiosa e outros por acharem difícil de mais falar com alguém como ele. Resultado: passara a maior parte da infância sozinho.

Ele enxergava as bocas se movendo, mas tudo que ouvia eram ruídos sem noção e um zumbido terrível nos ouvidos. O máximo que ele conseguia ouvir era se alguém se aproximasse totalmente de si e falasse alto e claro, isso ainda quando ele conseguia entender, se não, ele pedia pela linguagem de sinais, fazendo gestos desesperados para que alguém lhe explicasse o que acontecia. Os pais sempre o fizeram frequentar escola onde apenas haviam ouvintes, então, Donghyuck, agora com seus tenros dezessete anos já estava mais do que acostumado a sua rotina.

Naquela manhã ele conseguira ouvir um barulho alto vindo do lado de fora, mas o mesmo não conseguia identificar de onde vinha, ou o que era. Só sabia que havia se assustado ao ponto de bater com o braço no criado-mudo e derrubar o abajur. Ele fez uma careta, se levantando devagar. Em poucos minutos a porta de seu quarto fora aberta com violência, a mãe entrando desesperada no recinto.

Donghyuck a encarou, fazendo um gesto para perguntar o que ela fazia ali.

— Hyuck, eu ouvi um barulho de algo batendo no chão, fiquei preocupada. – Disse enquanto gesticulava. Com o tempo, Haechan ficará muito bom em ler lábios também. Ele assentiu, apontando para o abajur no chão enquanto o juntava com calma.

"Não foi nada", sinalizou. "Apenas caiu".

Sua mãe assentiu, suspirando em seguida.

— Desça, o café está pronto, se demorar mais vai perder o ônibus.

"O que é esse ruído do lado de fora?", questionou, confuso.

— Seu pai está trabalhando com a furadeira. – Explicou. — Agora vamos, se arrume e desça, o café vai esfriar.

Ele assentiu sem emitir sequer um som, indo em direção ao guarda-roupa, arrancando de lá o uniforme completo e polido. Iria se atrasar para a escola.

Donghyuck esperava o ônibus calmamente no ponto, alheio a tudo e todos. Conforme fora crescendo, sua independência aumentara e hoje em dia ele conseguia fazer tudo sozinho e ir em todos os lugares. Até aprendera a usar a voz em certos casos, o que era extremamente raro, é claro.

Para pegar o ônibus ele dependia da sua visão, então precisava ficar atento ao ponto de quase não se mexer em tanta concentração. Ainda estático, Donghyuck receberá um cutucão forte no ombro.

No Words. [markhyuck]Onde histórias criam vida. Descubra agora