Capítulo Um

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O SUJO E O MAL LAVADO

Três anos depois...

Cacete, mãe!

Suas orbes castanhas arregalaram no instante que sua consciência estabilizou e percebeu que estava atrasado. Seu relógio digital sobre o seu criado-mudo marcava sete e quarenta e cinco da manhã, quando suas aulas começam às oito.

— Como é que você me acorda esse horário, cacete!?

— Olha a boca menino! — Angela grita de algum lugar da casa – provavelmente da cozinha – e Jack quase revirou os olhos pela resposta da mãe. — Às aulas não começam oito e meia?

— Mas dessa vez, dona Angela, — dizia irônico já dentro do banheiro, colocando a pasta na escova e levando a mesma até a boca. — começa às oito. — diz escovando os dentes ao mesmo tempo que grita pra mais velha.

— Como é? — de repente sua mãe enfia somente a cabeça no banheiro, encarando o filho pelo espelho. Como ela tinha chegado tão rápido lá em cima, Jack não sabia, mas que tinha levado um susto, ele levou.

— Caralho mãe, que susto! — diz ainda com a boca cheia de pasta após dar um salto.

— Cospe logo essa merda na pia, Jack. — manda séria, e logo o mais novo obedece. — Muito melhor. Agora, o que você tinha dito antes? — cruzando os braços, ela enfia o corpo todo pra dentro do banheiro e arqueia uma das finas sobrancelhas castanhas.

— Eu disse, — Jack aproxima o rosto da pia, colocando uma concha de água nas mãos e as encaminha até a boca, enxaguando a mesma e cuspindo na pia segundos depois. — que dessa vez, a partir desse ano, — ele estica a mão e pega a toalha branca pendurada e seca ambas as mãos e sua boca, colocando-a no lugar depois. — começa às oito.

— Ah, tá! — ela dá de ombros e encosta no batente da porta, observando o filho parado a encarando também. — Nem pra você me avisar né? — ele dá de ombros. — E você tá fazendo o que aí parado!?  Já são dez pras oito e você ainda tá aqui parado igual a um poste na minha frente!

Ele dá um salto e olha pros lados desesperado, procurando sua toalha. Quando a acha, ele a pega e a pendura no box, e quando estava prestes a tirar o pijama, ele para e olha pra porta, onde a sua mãe ainda o encarava.

— O que é, agora?

— Será que dá pra você sair?

— Por quê? — disse a mais velha arqueando uma das sobrancelhas novamente.

— Hã, porque eu não quero que você me veja pelado? — Jack diz mais perguntando do que afirmando e logo em seguida cruza os braços.

— Ah, tá! — Angela solta um riso irônico cruzando também os braços em direção ao filho. — Como se eu nunca te vi pelado, né menino? Quem você acha que trocava suas fraldas, te dava banho, te ajudava no banheiro, te — ela começou a contar nos dedos, mas é interrompida pelo próprio filho atrasado.

— Tá, tá! Já entendi, agora vaza! — ele diz empurrando a mãe delicadamente e fechando a porta na cara da mesma.

— Ah, é assim que você trata a sua mãe? — ele ouve a mãe reclamar do lado de fora. — Você vai ver, moleque! Queria ver se eu fosse embora o que vo... — Jack não ouve mais nada a partir dali, pois já tinha ligado o chuveiro e começado a tomar o banho mais rápido de toda a sua vida.

[...]

Pegando seu skate e seu celular que já estava completamente carregado e plugado nos fones de ouvido, o adolescente corre e desce as escadas de dois em dois, tendo um mínimo cuidado para não tropeçar e cair.

Antes do Fim | Joah  [ PAUSADA ]Onde histórias criam vida. Descubra agora