Prólogo

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PONTAPÉ INICIAL

Eu não acredito, Gavin! — sua expressão preocupada e aflita parecia redobrado na visão do outro, que riu assim que percebeu isso. Os braços finos da mulher estavam cruzados em frente ao busto, e seu pé direito batia freneticamente no chão em sinal nervoso. — Além de voltar bêbado pra casa, você esqueceu de pegar o Jack na escola, de novo. — ela frisa a última parte e revira os olhos castanhos ao ver seu marido tropeçar nos próprios pés e cair de cara no sofá.

— Até quando você vai ter responsabilidade, hein? — ela avança sobre o sofá, ajudando-o enquanto ele arrotava. A mulher faz careta ao sentir o bafo alcoólico e logo se afasta do mesmo, colocando as costas da mão direita na testa e fechando os olhos por breves segundos. — E até quando você vai deixar isso pra lá, Angela? — a mulher sussurra pra si e nega com a cabeça, respirando fundo.

— Ah, amorzinho! — o outro solta uma risada e tenta se apoiar no sofá com as duas mãos. — Ele já tem treze anos e já sabe se virar sozinho, né filhão? — as palavras saiam trocadas da sua boca; consequência de beber por horas a fio. Ele tomba a sua cabeça pra esquerda, esperando que seu filho confirmasse a sua fala, mas se depara com o vazio. - Ah!... ele não tá aqui... Que estranho...

Gavin coça a cabeça e ameaça a levantar. Angela abre os olhos e apoia as duas mãos na cintura, apenas encarando as ações do seu marido inconsequente e completamente bêbado. Ela se perguntava mentalmente quando o seu casamento chegou a esse ponto. Gavin era um alcoólatra quando se conheceram, mas parou de beber constantemente quando Angela teve Jack. Porém, voltou com tudo à alguns meses e isso tem acabado com o relacionamento dos mais velhos.

— Onde ele tá? — o homem se dirige a passos tortos e cambaleantes as escadas, tropeçando vez ou outra em seus próprios pés. — Jack? Jack, cadê você? — seu tom parecia brincalhão, como se estivesse procurando o filho num esconde-esconde, e após essa fala, um riso escapa pela sua boca.

— Ele não está em casa, Gavin. — um suspiro escapa junto com a sua fala, e Angela vê o marido virar-se para ela. — Ele tem uma prova de história amanhã e está estudando na casa do Finn e com uns amigos.

— Finn? — sua sobrancelha grossa arqueiam-se, gerando uma expressão confusa. Entretanto ela logo se desmancha e dá lugar a uma expressão divertida. Gavin solta outra risada, a terceira desde quando chegou em casa. — Ah, sim! Finn! Aquele merdinha que parece um viado, né? Vou falar com Jack parar de falar com ele. Não quero que fique contaminado com a "viadagem" dele. — ele diz coçando a barriga.

Angela revira os olhos brutalmente e avança a passos rápidos em direção ao marido, que arregala os olhos e recua até bater as costas na parede. Sua respiração estava acelerada, assim como a dela. Os olhos da mulher estavam semicerrados e o encaravam com frieza, trazendo um sentimento de intimidação e deixando-o, de certa forma, um pouco mais sóbrio.

— Olha só, Gavin, é melhor você prestar atenção porque eu vou te dizer uma única vez, está me ouvindo? — o mesmo assente repentinas vezes, o coração batendo descompensado dentro do peito. — Você nunca mais vai falar assim sobre os amigos do meu filho, tá me entendendo? Muito menos sobre Jack! — seu dedo curto e gorducho estava apontado na direção dele, que acompanhava seus movimentos de olhos arregalados.

— E se Jack fosse gay, o que você faria, hein? — a casa estava toda apagada, exceto pela sala onde ambos estavam. Já era de madrugada, então não havia um sequer barulho de movimento na rua, deixando o ambiente totalmente silencioso.

Gavin não respondeu de primeira, mas parecia bem convicto na sua resposta:

— Eu o expulsaria de casa. Não moraria sobre o mesmo teto que um gay de merda.

Antes do Fim | Joah  [ PAUSADA ]Onde histórias criam vida. Descubra agora