Capítulo II - Olhos de vidro (Parte I)

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Como não têm memória visual, os cegos de nascença não sonham com imagens, e sim com os outros sentidos: ouvem coisas, têm sensações táteis e sentem cheiros

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Como não têm memória visual, os cegos de nascença não sonham com imagens, e sim com os outros sentidos: ouvem coisas, têm sensações táteis e sentem cheiros. Mas Praxila sentia-se experienciado uma sensação passada, sentindo os olhos que um dia forá seus voltarem as órbitas.

Ela voava celere com os novos olhos e as novas cores que sentia no mundo, passando por todas as experiências passadas que um dia já sentiu.

E ela, uma alma penada, vagava célere através do vazio nos espaços, esperando um corpo, um casulo apto para conter seu espírito.

Viajando no azul indigo do céu, efervescente e elétrico, contemplando o canto dos pássaros, nas pálidas claridades do luar.

Ela era uma alma penada a um longo tempo, talvez décadas. Pensou alto, roçando as pontas dos dedos finos na aura azulada que cobria seu corpo.

E então ela era uma humana adulta de pouco menos de trinta e cinco anos, trocando olhares confidentes com uma outra mulher em seus sonhos. A face banhada pelas lágrimas que caiam em corrente nas bochechas rubras davam um tom melancólico a visão. Os lábios se tocaram quase como em desespero, e a outra mulher se afastou relutante, dizendo baixo o quanto lhe amou. Praxila tentou se mover mas não conseguia, as pernas estavam petrificadas como ouro imperial.

Despertou do sonho abrupta, sentindo os olhos pesarem. A escuridão a sua volta era corriqueira, e os cochichos inoportunos aconteciam sem mesmo ela saber de onde era sua origem. Moveu-se quase chorosa e chocada ao relembrar do que vivia no momento: esse era o baque que tomava todo dia.

Indo ao caminho de Esparta, ao sul de Peloponeso, um homem velho, ela uma mulher recém tomada de sua casa, e alguns cavalos trilhavam um caminho desconhecido para chegar ao destino que procuravam.

Sabe, para os gregos a divisão de classes eram uma confusão, em Atenas existiam os metecos, escravos e atenienses. Mas para Esparta as divisões poderiam se tornar mais confusas. Hilotas eram uma das camadas mais ínfimas, não eram escravos de fato, mas sim servos.

Ser hilota era a condição social mais baixa de vida. A qual um espartano era rebaixado ao grau extremo da miséria do servilismo, sem voz, sem vontades, vivo unicamente e sem propósito senão servir o seu senhor.

Mas em esparta enganasse se pensa que não existiam escravos, pois eles eram em milhares. Na região, totalmente dominada pelas guerras, o número de escravos era tão grande que a lei permitia aos soldados em formação matarem os escravos nas ruas. Além de ser uma forma de treinar o futuro soldado, controlava o excesso de escravos na cidade, a qual poderia influenciar o risco de revoltas.

Em algumas cidades-estado gregas havia a escravidão por dívidas. Ou seja, uma pessoa devia um valor para outra e, como não podia pagar, transformava-se em escrava do credor por um determinado tempo. Em Atenas, este tipo de escravidão foi extinto somente no século VI a.C, após as reformas sociais promovidas pelo legislador Sólon.

Mas nessa história, Praxila, a menina na carroça, pouco se lembrava do fator que a determinava escrava, talvez sua origem estrangeira, o modo diferente que ela falava poderia ser uma característica de Hilotas. Bem, quem sabe ela um dia saberia.

Sabia que havia em seu pescoço uma corda, nos braços e pernas também, e que pelas rachaduras na pele da boca, ela não beberá água ou até mesmo comeu a uma semana. E claro, a família inteira forá massacrada numa guerra territorial, iniciada a pouco menos que sete dias.

Esparta era um país conhecido por sua cultura militarista e pelos direitos inigualáveis ​​das mulheres, era uma potência militar dominante, e em todos esses aspectos explicava as baixas rapidas que a população de Praxila teve. Todavia não era uma novidade que a trariam junto. Como dito, prisioneiros de guerra moviam a economia espartana.

A gaiola ficará ao fundo de uma carroça. Os animais muitos poucos, faziam ruídos. As pedras batiam nas rodas do veículo e ela sentia o chicotear das costas dos cavalos ritumbar audíveis para si.

Ela pensou nas palavras que um dia um grego lhe falará que emonstravam a visão que tinha: "É próprio de um homem bem-nascido desprezar o trabalho". Para os cidadãos gregos, valorizar apenas as atividades intelectuais, artísticas e políticas, era de suma importância para a elite, e isso dividia a escória dos mais bem nascidos. E ela coitada, ouviu do homem que dirigia a carroça mais do que poderia aguentar: "Você é escória, vai nos servir até a morte."

A insolação e a fome tomavam seu corpo. O corpo carecia de elementos indispensável à sua vida, a qual eram eles água, alimentos e uma noite de sono. A cabeça e o corpo cairam em sincronia ao acertar na grade da carroça, os pés escorregaram sobre as cordas e boa parte do seu corpo saiu para forá. E então o veículo bateu novamente numa outra pedra daquele caminho traiçoeiro, deixando ela ser arremessada bem longe.

O corpo dolorido caiu no chão abrupta, sentindo as costas sobre a superfície aspera do vestido de batatas estralarem com a queda. As mãos se apoiaram doloridas, sentindo a terra e as pedras pinicarem nos dedos calejados.
A carroça deixou-a para trás, e vociferando alto e grosseiro o homem disse:

— Espero que a criatura a devore viva.

Ela virou-se para a floresta rastejando-se como podia, os passos mau colocados e o corpo totalmente acabado a faziam deslocar esquisita.

— Alguém? alguma ajuda por favor! — Ela gritou, sentindo os lábios quebradiços e os músculos esgotados do corpo clamarem por qualquer lugar a qual poderia repousar sua cabeça. As cordas que dificultavam os movimentos arranhavam os pulsos e as pernas, deixando a pele do corpo ferida e avermelhada.

Se ela pudesse discerniria sobre o quão sem sorte era, e é claro, sobre o quanto a frase do homem que guiará a carroça estava de algum modo, certa. Afinal ela era apenas uma mulher, abdicada do mundo intelectual, serva do homem e unicamente feita para os prazeres da carne. E como diria Aristóteles: "A natureza só faz mulheres quando não pode fazer homens. A mulher é, portanto, um homem inferior."

Mas como lutava pela sua sobrevivência, a voz destemida na mente confusa gritou bem alto.

— Morra. — Uma fúria apoderou de seu corpo, pronta para lutar pela sua efêmera existência. Se séria em vão? Ela não saberia responder, mas faria.

E então ela ouviu ao longe bem distante, passos. Passos miúdos que se aproximavam tímidos. De alguém ou algo que a espreitava quieta na penumbra da floresta. Os dedos tatearam a árvore mais próxima buscando suporte. A cabeça pendeu para o lado, e ela disse baixo porém audível.

— Por favor me ajude... — As cordas oscilavam nos braços, os fios sobre a face decrépita se assemelhavam a um trapilho cheio de galhos, e a pele escura estava castigada de inúmeras feridas pequenas, que corriam dispersas do pescoço, colo e tornozelos. E poderia ser por este motivo que a presença obscura decidiciu por ajudá-la.

E então sem cerimônia, abrupta, a mão de quem a perseguia fechou as têmporas com os dedos finos, sentindo o tremor pelo cansaço descomunal e o medo insistente fluir no corpo flagelado da garota.

E então sem cerimônia, abrupta, a mão de quem a perseguia fechou as têmporas com os dedos finos, sentindo o tremor pelo cansaço descomunal e o medo insistente fluir no corpo flagelado da garota

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