Reencontros

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Os adolescentes estacionaram em uma rua cheia de trailers alguns já destruídos, outros em péssimas condições mas ainda em pé preparados para resistir a próxima tempestade.
_ Luian que lugar é esse ? _ disse a garota do cabelo roxo sacudindo os tênis cobertos de lama que enchia aquele lugar .
_ Estamos no Sul da cidade, condomínio dos trailers _ Luian respondeu sem tirar os olhos do trailer que achava ser aquele que ele procurava .
_ Tem mesmo ar de condomínio aqui _ disse sarcástica.
Luian começou a caminhar em direção ao que achava ser aquilo que ele procurava, chegou perto da porta e bateu nela descarregando toda a raiva de sua alma.
_ Assim você vai assustar as pessoas o que pensa que está fazendo _ a garota empurrou-o e inclinou-se para analisar a janela do trailer.
Zola olhou para o Luian que estava pronto para derrubar a porta e colocou os dedos na boca para indicar que ele se calasse e apontou para a esquina, ele entendeu e a seguiu.
_ Parado ! _ Luian gritou para um garoto ruivo que aparentava estar fugindo dos dois.
O rapaz levou as mãos para a jaqueta de couro que trazia vestido e virou lentamente para encarar Luian com os seus olhos verdes revelando as sardas que tinha nas bochechas .
_ Assassino, você matou a minha irmã !_ Luian foi na sua direção e deu um soco no olho do rapaz que caiu logo em seguida .
_ Pare Luian !_ Zola tentou afastar o Luian do pobre garoto que não conseguia equilibrar a luta por sua fisionomia magra e músculos fracos .
_ Cara, que merda ?_ disse o rapaz assim que conseguiu se soltar, passou a mão nos lábios ensanguentados. 
_ Eu sabia que a gente nunca devia ter nem chegado perto de você, seu idiota, agora ela se foi !
_ Eu não sei do que você está falando Luian !_ respondeu, tonto e ainda sentado no chão avaliando os estragos feitos no seu rosto pelo punho do moreno.
_ Luian se acalme por favor _ Zola o segurava pelo braço com uma força quase que sobrenatural para que ele não acabasse por matar o rapaz .
_ Eu não a matei, seu lunático, ela era minha amiga, eu tentei avisar, eu tentei_ o garoto entrou em prantos sentindo o rosto arder com a presença das lágrimas.
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_ Um saco de gelo por favor _ Zola deu um sorrisinho ao atendente do café que olhava para o garoto ruivo que parecia ter saído de uma guerra, e se perguntava se devia chamar a polícia ou não _ Ah ele se machucou na moto, a gente passou o dia avisando para ele não fazer aquele percurso arriscado mas sabe como são os motociclistas eles podem ser um tanto que teimosos.
Ele olhou para os garotos como se estivesse à espera que um deles confirmasse a história, Zola chutou a perna de Luian que olhava para o ruivo com raiva .
_ É ! _ disse o ruivo desviando o olhar do rosto frio e raivoso de Luian .
_ Então são dois capuccinos e um saco de gelo, é isso ?_ ele anotava tudo no seu bloco de notas enquanto analisava mais uma vez o rosto do ruivo .
_ Exacto !
_ O senhor não vai querer nada ?_ dirigiu-se ao rapaz com o olho negro e lábios rebentados.
_ Não, obrigado .
O atendente retirou-se dando uma última checada no ruivo.
_ Porquê ? _ Luian quebrou o silêncio dirigindo a pergunta ao ruivo.
Ele o fitou e não respondeu.
_ Responda ! _ bateu na mesa chamando a atenção de todos no café, o atendente observava tudo de longe pronto para chamar a polícia .
_ Luian não faça um escândalo, estamos em um local público _ pediu Zola.
_ Eu não a matei se é isso que você quer saber ! _ começou o ruivo.
_ Então porque ela estava com as suas coisas enfiadas em um buraco na parede !_ disse frustrado com as veias pulsando .
_ Não me culpe pelo facto de você não saber das coisas que a sua irmã fazia Luian ! _ o ruivo olhou no fundo dos olhos dele e o deixou mais nervoso ainda devolvendo na mesma intensidade todos os golpes .
O atendente se aproximou com os pedidos e o saco de gelo para o rosto do ruivo.
_ Está tudo bem por aqui ? _ perguntou detestando cada vez mais, cada momento da estadia daqueles três no seu café .
Os três acenaram positivamente também já fartos das perguntas e ele se retirou.
_ Eu não a matei, e receio que desconheça quem o fez, sei tanto quanto você _ disse fazendo notar o seu sotaque britânico enquanto apertava o saco de gelo no olho agora negro.
_ Então me diga como raio suas coisas sujas estavam com ela, quem para além dos seus amigos pode ter assassinado a minha irmã Stephan ?
_ Stephan ?_ disse Zola olhando para o ruivo _ Stephan Harper ?
Stephan tirou o capuz e passou a mão pelos fios ruivos e olhou para a garota.
_ Olá Zola !_ o ruivo a fitou com seus olhos verdes.
_ Como ... por onde você tem andado ... com... a Sra. Harper... eu sinto _ Zola tropeçava nas palavras, como ela não percebera logo que um dos seus amigos de infância estava bem na sua frente .
Zola conhecia os gêmeos desde o oitavo ano quando os seus pais a adoptaram e trouxeram-na para Northwest, Stephan conhecia-os desde que se conhecia como gente, ele era um garoto estranho de poucas palavras e muito inteligente, os quatro eram inseparáveis até que Stephan se afastou quando perdeu a sua avó, e Zola quando começou a assumir os seus sentimentos por Laís, o grupo estava agora reunido novamente excepto pela gêmea de Luian que estava morta. 

_ Zola não é o momento okay ?_ Luian apoiou as costas na cadeira, depositando o cansaço .
Também ele estava surpreendido com as mudanças do amigo, o ruivo que costumava ser um menino tímido de bochechas rosadas se tornara um rapaz sombrio e distante, com os olhos verdes fundos e carregados com olheiras pelas noites não dormidas.
_ Laís estava se metendo em assuntos delicados, de gente delicada, eu tentei avisar mas não sabia a grandeza da coisa _ o ruivo concentrou Luian exibindo o enorme ponto negro que ele deixou no seu olho esquerdo _ Eu devia a ela um favor, devia a ela a minha vida e não consegui impedir, você sabe como sua irmã consegue ser teimosa.

_ Então porquê você não a impediu ? 

_ Porque eu fui um cobarde okay ? Eu escolhi proteger os meus problemas e não a vida dela, eu deixei ela cavar a própria cova e deitar nela. _ Stephan disse aquilo como se tivesse ensaiado para dizer há semanas. 

O silêncio tomou conta da mesa dos três, todos sabiam aquilo que passava na cabeça de cada um mas ninguém teve coragem para dizer uma palavra .

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