•1• Fuga

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Ela corria agora. Nos braços carregava o único motivo para ainda lutar. Não havia mais nada que pudesse impedi-lo e os passos apressados dos soldados ecoavam pelo palácio.

Tantos corrompidos.

Houve um grito abafado em sua garganta quando o barulho de tiros iniciou novamente. Seu cérebro mandou o estímulo para que ela continuasse a correr, que não desse meia volta e fosse para o lado do marido.

"Pense em Elise!"

Lembrou-lhe sua mente.

Quando finalmente chegou ao seu destino – o pequeno esconderijo nos confins do Palácio de Buckingham para situações como aquelas – pôde sentir um alívio momentâneo lhe invadir.

Procurou sua mais fiel empregada dentro do cubículo sem iluminação. Deixou seus olhos se acostumarem à escuridão e conseguiu visualizar o pequeno vulto negro.

— Nathalie? — O vulto se moveu e uma moça morena, com cabelos negros presos em um coque e os olhos pequenos cor de mel, apareceram mais claramente. A moça deu um suspiro de alívio.

— Majestade o que está havendo? — A preocupação em sua voz foi visível.

— Lembra-se do que me prometeu Nathalie? — A moça concordou com a cabeça vendo a gravidade da situação. — Então, este é o momento! Vocês precisam sair daqui!

— Mas majestade eu não posso abandoná-la! — A moça abaixou sua cabeça, sentindo lágrimas invadirem seus olhos.

A rainha aproximou-se dela, pegou seus braços com sua mão esquerda e depositou a pequena menina nos braços dela. Nathalie arregalou os olhos com pavor.

— Nathalie, você é minha melhor amiga. — Tocou o rosto da moça. — Por favor! Eu não confio em mais ninguém. — Agora a rainha chorava. — Por favor. — Implorou.

— Eu.... — Ela hesitou. —Tudo bem. — Abaixou seus olhos para a pequena garotinha de cabelos castanhos e olhos verdes arregalados. Ela estava alheia a todo o perigo que estava correndo.

— O que eu preciso fazer?

— Vá por aqui até encontrar Julian. — Ela apontou a saída do esconderijo. — Ele está esperando por vocês com um carro bem discreto e simples. — Nathalie concordou com a cabeça. — Ele te levará para onde você quiser ir, mas Nathalie – ela segurou o rosto da moça em suas mãos e olhou profundamente em seus olhos. — não fique na Europa. Não fique em nenhum continente aqui perto. Vá para algum lugar do outro lado do oceano. Vá para a Antártica se for preciso, mas não fique aqui! Será o primeiro local que ele a procurará!

Nathalie concordou com os pedidos da rainha. As duas olharam-se assustadas quando um grande barulho preencheu os locais do palácio. Parecia uma explosão.

— Vá! Nós não temos muito tempo. — A rainha voltou seu olhar para a sua garotinha. A menina encontrou os olhos verdes da mãe e sorriu. Margareth sentiu seu peito apertar com a dor, mas tentou se consolar.

Valeria a pena, sua pequena estaria a salvo.

Seus dedos percorreram o rostinho claro de Elise, cada pedacinho. Seu nariz fino, sua boca rosada, seus olhos grandes e arregalados. Tentou gravar em sua mente todos os detalhes de sua filha.

Sentia que não a veria mais.

Depositou um beijo demorado na testa dela e sibilou em um sussurro. — Seja forte e esperta querida Elise. Você é a última esperança desta nação.

— Mama... — Com lágrimas escorrendo por seu rosto, Margareth teve que ignorar o pedido da filha que esticava seus pequenos bracinhos em sua direção.

Voltou a olhar Nathalie. Ela abraçou a amiga forte. Sentiu ainda mais aquela pontada em seu peito.

— Cuide dela. — Começou a dizer no ouvido da moça. — Cuide para que ela seja uma boa moça, que ela seja forte como uma princesa deve ser. — Saiu do abraço dela e encarou seus olhos. — E nunca, nunca deixe ela mostrar a cicatriz. Está me entendendo? — Nathalie concordou com um aceno de cabeça. — Ele nunca desistirá até achá-la.

— Eu vou fazer o possível, rainha Margareth. E ninguém jamais saberá da cicatriz enquanto eu viver. — A rainha concordou com a cabeça. Sabia que Nathalie cumpriria sua promessa.

— Vá! — Disse mais uma vez se afastando das duas. Em poucos passos, já não podia vê-las na escuridão. — Adeus minha princesa. — Sussurrou com a voz falha ao escutar sua filha chamando por ela mais uma vez.

Com o coração quebrado, Margareth deu meia volta e saiu correndo. Queria agora, mais do que nunca, estar com o marido, Anthony. Sua parte na missão de salvar Elise estava completa, agora tentaria salvar seu reino de seu irmão, Vincent, mesmo sabendo em seu íntimo que naquele momento mais nada havia para ser feito.

Cicatriz (Degustação 1ª versão)Onde histórias criam vida. Descubra agora