Seis

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Eu não vi como eu subi pro quarto ou como eu peguei no sono, do acordei com o barulho do despertador, minha cabeça dói e eu nem abri os olhos ainda, sei que é resultado de muitas lágrimas, eu bato a mão no despertador pra desligar e ele acaba caindo no chão, dane-se, lembranças da noite de ontem voltam na minha cabeça e a volta também a vontade chorar, não, chega, sem lágrimas, eu não posso deixar esses hormônios vencerem minhas emoções todas as vezes, eu sento na cama, abro os olhos devagar e dou um salto, meu coração bate muito rápido
- Droga, Andrew, que susto
Ele tá sentado no canto inferior da cama
- Não foi minha intenção, desculpa
O cabelo tá assanhado, os olhos vermelhos, a camisa bagunçada, eu sei que ele não dormiu
- Como você entrou aqui?
- Eu sei onde fica a chave reserva
- Ok e o que você está fazendo aqui?
- Eu não consegui dormir ontem, eu não fui pra casa, eu só dirigi
- Ok
- Eu precisava falar com você
- Acho que ontem já foi deixado tudo bem claro, você não quer um filho, eu já entendi
Ele baixa a cabeça
- Uma vez, um tempo depois que nós começamos a namorar, eu pensei em como seria incrível ver você com um bebê nosso no colo, é tão lindo como você cuida das crianças, eu imaginei vendo você grávida e a primeira vez que eu veria o bebê, um menino e loiro como Bailey e Ellis
Ele para de falar, olha pra cima e eu sigo em uma batalha intensa pra não chorar
- Então, eu lembrei do motivo pelo qual isso não poderia acontecer e nunca mais pensei nisso
- E eu posso saber qual o motivo?
- Quando eu era criança, eu decidi que eu jamais seria um pai como o meu pai, depois que eu descobri que o que ele tinha era uma doença e que pode ser hereditária, eu... não queria fazer isso com uma criança, eu posso não ter nenhum transtorno psicológico mas...
Ele baixa a cabeça e cobre o rosto com as mãos, eu entendo perfeitamente o que ele está passando, eu afasto os lençóis, vou até ele e o abraço, ele resiste por alguns instantes, mas também me abraça
- Desculpa
Ele sussurra no meu ouvido, eu passo a mão no cabelo dele e me afasto pra olhar nos olhos dele
- Você, com certeza, já ouviu que a minha mãe teve Alzheimer
Ele só concorda e não diz nada
- Eu tenho o gene e eu já pensei em não ter filhos por isso, então eu deixei pra lá e só voltei a pensar nisso quando eu estava grávida do Bailey, foi quando eu descobri isso, eu entendo esse sentimento, Andrew, o quanto é assustador e desesperador diante da notícia de uma gravidez, eu sei, exatamente, como é, mas eu aprendi que não dá pra viver pensando no que pode acontecer no futuro porquê não dá pra prever, eu já perdi pessoas o suficiente pra entender que a gente nunca está pronto para o que vai acontecer, então só dá pra continuar vivendo, do jeito que for, só dá pra seguir em frente e ficar muito grato quando as surpresas da vida são boas
Ele parece pensar por um instante
- Nós temos uma herança genética e tanto né?
Eu sorrio
- Pois é
Eu sorrio, de leve
- Eu quero estar com você, Meredith, mesmo que isso me assuste demais, eu quero estar com vocês, independente de qualquer coisa
Eu me aproximo e nós nos beijamos
- Nós vamos ficar bem
Eu digo e ele faz carinho no meu rosto
- Tem certeza?
- Nenhuma
Nós sorrimos e nos beijamos novamente.

Fim

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Tem um epílogo, gente

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