Um dia

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O ódio é como uma arma biológica injetada em seus pensamentos destruindo toda uma estrutura que demorou anos para ser reconstruída. São exatamente cinco horas  e quarenta e oito minutos da manhã quando Everest abre os olhos. Não há um feixe de luz em seu quarto, seu abdômen dói quando ela puxa o ar com muita força, coloca a mão lentamente sobre o local, provavelmente a dor é em virtude de como dormiu. Seus olhos correm o quarto e, em seu campo de visão, garrafas de bebidas estão sobre o criado mudo. Não se lembra bem de como elas foram parar ali, não se lembra se comprou algo assim; contudo, estão ali e ela deve aproveitar. Lentamente, a loira levanta-se  e caminha até lá, abre a garrafa e de uma só vez ela vira a garrafa bebendo o primeiro gole.

      - Delícia!

      Ela fala sozinha escutando o silêncio reinar. Então, aproxima-se do espelho, ainda segurando  a garrafa, os fios loiros estão rebeldes, o rosto está marcado pelos lençóis, vira os olhos, coloca a garrafa de onde a  tirou e corre para o banheiro. 

      Já são seis e meia quando ela sai do banheiro.  De roupão azul escuro, caminha até sua mala e de um bolso pequeno tira uma caixinha de cigarro e um isqueiro, prende o cigarro nos lábios e acende o isqueiro levando-o até o cigarro. Quando finalmente queima, ela puxa a fumaça tóxica com tanta força que pode senti-la  invadir os pulmões. Soltou a fumaça seguida de uma tosse seca. Ela senta-se na cama observando os primeiros feixes de luz invadir seu quarto, solta um suspiro ao ver pequenas partículas de poeira voando pelos raios de sol. É tirada do transe quando escuta batidas incansáveis na porta e sua fronte se enruga.

      -Quem raios me procura  a essa hora?

       Quando ela roda a maçaneta e finalmente abre a porta, seus olhos se arregalam e não acredita no que vê. Solta um gritinho de felicidade e abraça a loira que está a sua frente, Alana Sanches, sua melhor amiga que não vê há meses. A amiga, sorridente, fala:

      - Eu sei que está feliz em me ver. Eu vou adorar entrar, Eve, e guardar essas malas.

       Everest sorri e dá passagem para a amiga, que coloca as malas em algum canto. Everest  indaga:

       - O que faz aqui?

       - Senti que você precisava de mim.

       - Você mente mal.

       Eve fala dando de ombros. Ela então se aproxima da janela e olha para as casas antigas da cidade.  Alana deita-se na cama da amiga.

       - Thyler me falou sobre o seu problema em escrever.  Isso não é novidade. Então você veio pra cá, mas essa cidade velha não faz seu estilo, faz anos que você não vê sua família, por que agora? Não me responda, eu sei!  É que você veio procurar tristeza para escrever, você é estranha, Everest. Thyler queria vir, mas não pode.

       A mulher deu de ombros, um riso fraco sai dos lábios de Everest que coloca os olhos sobre a amiga.

       - Então é você? Meu apoio moral é a pessoa mais sem responsabilidades que eu conheço? 

      - Exatamente.

      - Certo. Acho que estou encrencada.

       - Sim, você está, mas nada que café não resolva.  Não deveria beber a essa hora, nem fumar.

       Alana logo se levanta tirando de Everest o cigarro que ela tem em mãos.

      - Não sou criança.

      - Eu sei que não é. Além do mais, tem um encontro hoje com o milionário bonitão que pagou milhões por essa entrevista.

      - Está explicado! Está aqui por isso, pelo dinheiro.

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