Prólogo - End of the world

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Este capítulo aborda ansiedade de forma explícita, se você for sensível leia a partir do próximo.

Mesmo com todas as luzes apagadas e as cortinas fechadas restava um pouco de luz no apartamento. Senti um vulto passar ao meu lado e meu coração acelerou assim que olhei em direção à porta que leva ao corredor. Vi pequenos olhos brilhantes olhando para mim, parecendo que o dono deles queria, de alguma maneira, me machucar. Com um medo irracional, escondi meu rosto entre minhas pernas e precisei me lembrar que nada daquilo era real e não passava da minha mente pregando peças em mim, como sempre. A sensação era a de que eu estava sendo observado, controlado.
Olhei para frente novamente e percebi que, o que quer que estivesse ali, sumiu de repente. Um arrepio passou pelo meu corpo, não conseguia mais concluir se aquilo era bom ou mau. Bem ao longe era possível ouvir sirenes tocando misturadas ao barulho infernal do trânsito, então me lembrei de todos os filmes distópicos que assisti na vida e senti minha pressão baixar, consequentemente ficando tonto. Será que o mundo estava acabando? Seria uma boa explicação ao barulho frenético do lado de fora e para as visões dentro do apartamento. Era definitivamente o meu fim.

Minha respiração e meu coração aceleraram o ritmo novamente. Senti como se o próprio Diabo estivesse me abraçando e apertando minhas costelas insuportavelmente, me sufocando até minha visão ficar turva e eu precisar tossir para tentar - e somente tentar - recuperar o fôlego. Deitei no chão e abraço os joelhos, esperando que tudo passasse. Será que ele queria comprar minha alma? Não é como se eu tivesse alguma para vender, de qualquer maneira. Senti lágrimas escorrendo pelas minhas bochechas. Tudo estava acontecendo muito rápido e os sons desesperadores lá fora iam ficando mais e mais altos. Quando ia acabar?

De repente ouvi um barulho irritante e demoro alguns minutos para perceber eu havia adormecido, encolhido no canto do meu quarto, e agora meu despertador do relógio de pulso tocava, como sempre fazia de hora em hora. Dei uma risada leve e olhei em volta pensando que, se alguém tivesse visto aquela cena, seria extremamente constrangedor, e já não tinha certeza se o ataque havia sido real ou se foi apenas um pesadelo bizarro. Meu corpo inteiro voltava lentamente ao normal, parando de tremer. Respirei fundo e fiquei aliviado percebendo que tudo havia acabado e eu podia seguir minha vida normalmente. Peguei o copo de água que estava na mesa de canto ao lado da cama e bebo tudo. Fiz um lembrete mental pra procurar uma ajuda sobre isso. Era como se eu estivesse constantemente vivendo sob a linha entre o bem e o mal, estar feliz e estar na merda.

Maldita ansiedade.

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