Party Girl

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Assim que dei a última espirrada em meu pescoço com o perfume, escutei o celular e a campainha tocar, ambos impacientes. Revirei os olhos e dei uma risada. Mark, meu melhor amigo, se atrasava em todos os compromissos, menos quando era pra sair para beber e beijar umas bocas aqui e ali. Abri a porta e logo ele entrou e se sentou no sofá cinza da sala, seus olhos azuis brilhavam com a empolgação e seu cabelo escuro arrumado estampava a dedicação pra sair.

– Quem te vê animado desse jeito pensa que você tem 15 anos – eu disse em meio a risadas, enquanto me olhava no espelho para dar uma checada final na aparência.

Não me esforcei muito – e, pra ser sincero, eu nem precisava. Coloquei uma camiseta, uma calça jeans e um par de tênis qualquer. Apenas lavei os cabelos castanho-claro e pronto. Já poderia fazer várias meninas e meninos se apaixonarem, modéstia a parte.
– Faz tanto tempo que eu não transo que sinto como se tivesse 15 também – ao dizer a mentira, Mark riu como se tivesse feito a piada do ano e então saímos do prédio branco onde eu morava. Passamos na casa da nova ficante do meu amigo, uma loira estagiária da empresa na qual ele trabalhava, e formos em direção à casa noturna popular da cidade. Eram dez horas da noite e um vento gelado deixava nossos narizes avermelhados, e eu esperava que o charme londrino não estragasse nossa aparência.

Chegando lá, pegamos uma cerveja cada e a garota tomou duas doses de tequila como se fossem água, me fazendo rir e imaginar o estrago no fim da noite. Chelsea era muito divertida, isso eu tinha que admitir. Era por isso que gostava dela e torcia pelo casal em potencial.
Em menos de uma hora nós três dançávamos de maneira constrangedora uma música qualquer que tocava em um volume ensurdecedor na pista. Todos já tínhamos perdido a conta de quantas doses bebemos e sabíamos que ainda iríamos beber muitas a mais; afinal, a noite estava apenas no início. A balada tinha a decoração predominantemente azul e vermelha, incluindo as luzes, e já não haviam mais mesas livres. Não que houvessem muitas, de qualquer maneira; talvez por isso as pessoas que iam lá bebiam como se não houvesse amanhã.
Enquanto Chelsea descia até o chão e Mark babava, senti minha bexiga apertar de uma maneira insuportável e fui obrigado a avisar Mark que precisava ir ao banheiro, mesmo que ele não tivesse escutado uma só palavra. No caminho até o lugar senti a cabeça girar e pesar devido ao álcool, foi preciso me concentrar muito para não tropeçar. Merda. Odiava essa parte. O banheiro não era nada especial, tinha algumas partes em vermelho e cheiro de mijo e cerveja misturados. O odor típico de sábado a noite, incrível.

Quando tentava achar o caminho de volta olhei no relógio e vi que eram exatamente meia-noite. Assim que voltei o olhar para a frente, fui obrigado a segurar a respiração. A coisa mais linda que eu já havia posto os olhos na vida estava parada poucos metros a minha frente, em um vestido vermelho que valorizava cada centímetro de seu corpo. E isso era tudo o que eu conseguia lembrar sobre sua aparência, além do fato de que seu olhar era capaz de matar qualquer um presente no local.
De repente a música parou e todos envolta de nós sumiram, deixando meu caminho livre. Ou pelo menos era o que parecia. Respirei fundo e contei até três, tentando ignorar a tontura, e segui em direção à garota. O que lembro são apenas flashes: poucas palavras trocadas, um bocado de dança na pista e, finalmente pouco tempo depois estávamos encostados na parede, aos beijos. E que beijos.
Os lábios da garota misteriosa - já que ou ela não disse o nome ou eu apenas não me lembro - pareciam venenosos. Assim que tocaram os meus me paralisaram, fazendo com que eu fosse apenas capaz de beijá-la e sentir seu perfume adocicado, mas ao mesmo tempo marcante, que parecia igualmente venenoso. Então ela parou o beijo e olhou no fundo dos meus olhos, como se fosse capaz de ler meus pensamentos mais obscuros, e começou a rebolar no ritmo de qualquer que seja a música que estivesse tocando no momento. As minhas mãos acompanhavam o movimento, apoiadas na cintura marcante da garota. Ela tinha tomado conta da mente e me deixou acorrentado, ou pelo menos era a sensação que eu tinha, porque eu simplesmente não conseguia sair dali tão cedo e nem queria. Pobre Nathan.
Antes que me desse conta, nós dois já estavam na pista novamente. Mas eu não dançava. Apenas admirava boquiaberto como aquela mulher incrível rebolava e dançava perfeitamente. Ela não parecia se importar com o fato de estar dançando sozinha, na verdade parecia que era exatamente o que ela queria. Ela não precisava de ninguém guiando seus passos, pois sabia exatamente o que estava fazendo.

De repente minha visão começou a ficar turva novamente e tudo girava, era a bebida fazendo o maldito  efeito. Olhei em volta e percebi que não havia escapatória daquela bagunça, já que o local estava completamente lotado. Poucos segundos depois a garota me puxou pela nuca para mais beijos com gosto de licor, deixando mordiscadas de vez em quando. Era o melhor beijo que eu já havia dado na vida, e os sinais lá embaixo deixavam isso ainda mais claro. Ela, novamente, parecia não se importar.
Depois de outras sessões de beijos e mais umas três rodadas de bebidas era impossível saber como nós dois ainda conseguíamos nos manter em pé e no ritmo, ela dançando cada vez mais perfeitamente, eu acariciando o corpo da minha parceira, aproveitando cada centímetro que poderia em público.
– Vamos pra minha casa – eu supliquei sem tom de interrogação, em meio aos beijos.
– E quem disse que eu quero ir pra casa com você? – Ela respondeu de maneira divertida. É o que?! Ela parecia amar ver a confusão em mim.

Os acontecimentos seguintes da noite são apenas um borrão na minha mente e restam apenas vestígios do momento que eu a levei ao banheiro mais limpo que encontrei e fizemos em uma das cabines o que poderíamos muito bem estar fazendo no conforto do meu apartamento. Não que isso tenha deixado o momento ruim. Muito pelo contrário: apesar de poucas, as memórias eram excepcionais. A garota além de ter o melhor beijo, tinha o melhor sexo também. Eu a esse ponto desconfiava que ela era uma deusa ou algum outro tipo de divindade para a qual eu ajoelhava, demonstrando a minha adoração da melhor maneira.

Above the noiseOnde histórias criam vida. Descubra agora