Capítulo 2

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Vídeo na mídia:  Hard To Say I'm Sorry - Chicago  (Traduzido - PT-Br)

Boa leitura e não deixem de me dizer  o que vocês estão achando. 

Coloco o delicado relógio em meu pulso, com os olhos fixos no ponteiro fino que conta os segundos

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Coloco o delicado relógio em meu pulso, com os olhos fixos no ponteiro fino que conta os segundos. O pequeno objeto anuncia que, depois de um ano inteiro, o tempo volta a fazer sentido. Pego a sacola de papel contendo meus poucos pertences e, com um gesto, despeço-me do agente que abriu minha cela.

Andamos pelo corredor de paredes laterais muito altas, mas na metade do caminho, eu faço uma pequena pausa, sentindo-me intimidada e ansiosa, então logo recomeço a andar. Já do lado de fora, eu me viro e encaro o edifício cinzento e sombrio, para em seguida finalmente cruzar o grande portão de aço. Nervosa, enrolo meus dedos na alça da sacola e inclino o pescoço um pouco para trás. De olhos fechados, permaneço parada, sentindo os raios do sol em meu rosto. Respiro fundo e me deixo levar pelo delicioso e inebriante aroma de liberdade.

Terminei de cumprir minha pena e estou deixando este lugar horrível, onde estive encarcerada pelos últimos dez meses, mas que pareceram dez anos. Eu sei que fiz tudo errado. Fui egoísta. Não medi o peso das minhas ações e não pensei nas consequências. Magoei as pessoas que mais me amavam. Manipulei meu marido e minha irmã. Usei o amor deles a meu favor e os traí da pior maneira possível. Decepcionei os meus pais, arruinei o meu casamento e perdi o homem da minha vida. Quando me lembro do que fui capaz de fazer, sinto vergonha e um aperto forte no peito, como se meu coração estivesse sendo esmagado.

Meu lábio inferior começa a tremer e eu o prendo entre os dentes. Com a garganta estreita, abro os olhos e me deparo com uma tarde bonita, ensolarada, com um céu muito azul e sem o menor sinal de nuvens, coisa rara em Nova York, ainda mais nesta época do ano. Respiro devagar enquanto murmuro uma prece, pedindo ajuda ao Universo, pois não sei o que fazer com esta minha nova realidade. Só sei que vou ter que começar do zero.

— Maya? — Ouço o meu nome e, em um gesto automático, viro-me. Eu a vejo se afastando do carro e vindo na minha direção. Passo a mão livre pelos cabelos, assombrada por ter me distraído a ponto de não notar sua presença. Abro um sorriso, pois faz muito tempo que não me sinto tão bem. Ela está aqui, cumprindo a promessa que fez na visita de dois dias atrás, quando me trouxe as roupas que estou usando: uma saia midi preta, uma blusa bege de seda e mangas compridas, e sandálias de salto alto.

— Bem-vinda! — ela diz com um amplo sorriso, abraçando-me.

Aliviada, eu retribuo o abraço. Não que eu duvidasse que Zayla viesse me buscar. Minha irmã jamais me abandonou. Sempre que podia, vinha me visitar, e eu serei eternamente grata por isso. Ela me perdoou, mesmo depois de tudo o que fiz, incluso, o acidente forjado que pôs sua vida e a de seus bebês em perigo. Mas mesmo sabendo que eu tenho o seu perdão, não consigo relaxar e deixar de sentir culpa, e isso é o pior de tudo, porque sinto que nunca me livrarei desse sentimento que me persegue. É tão palpável que eu quase posso tocá-la. A culpa é tão espessa em minha garganta que, às vezes, sinto que sou capaz de me engasgar com ela. Engulo com dificuldade e me desvencilho do seu abraço devagar.

Alef  ( DEGUSTAÇÃO - Livro retirado em 06.05.2020)Onde histórias criam vida. Descubra agora