Quando Taehyung quebra um coração...

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Estava tudo em silêncio e isso não era mais incomum.

Desde que a mãe morreu, há quase quatro anos atrás, envolta de Kim Taehyung ou dentro de si as coisas permaneciam assim... em silêncio. Calado. Meio morto, também. No trabalho mal pago como jornalista, os colegas não trocavam muitas palavras com ele — apenas se o que a pessoa precisasse fosse necessidade vital ou tivesse perdido alguma aposta idiota — em seu apartamento não recebia visitas, não dava sequer bom dia aos vizinhos direito. Não existia ninguém com quem tivesse uma relação mais ou menos amigável — talvez apenas com o homem que lhe servia café de vez em quando, no trabalho, onde dizia ''obrigado'' e recebia um ''de nada, bom dia'' de volta.

Mesmo que antes fosse alegre e comunicativo, quando perdeu a pessoa que mais amava no mundo, acabou se perdendo no processo também. Depois de tantos anos, não sabia como voltar a ser quem era, sequer sabia se queria. O conforto de permanecer no fundo do poço o trazia menos perguntas, complicações e relacionamentos.

Era mais fácil e seguro continuar do jeito que estava. Imerso. Se afogando. Esperando a dor diminuir até não sentir mais nada.

Bebeu mais um gole do chá verde, morno, enquanto olhava alguma coisa na televisão sem se importar de fato — só sabia que se tratava de um programa de culinária qualquer que nunca tinha visto antes. Estava escurecendo aos poucos do lado de fora, com o barulho dos carros ficando mais alto em seu ouvido a medida que o trânsito aumentava conforme as pessoas eram liberadas dos empregos e voltavam para as casas. Mesmo assim o silêncio na casa gritava ainda mais alto.

A televisão falava sem ser ouvida, de fato. Taehyung olhava sem ver a maior parte das coisas nos últimos meses.

O tempo parecia ir mais devagar também. Olhando para o relógio na parede, percebeu que ainda eram seis da tarde. Cedo demais. Geralmente, Taehyung estaria saindo do jornal onde trabalhava mais ou menos naquele período e então demoraria quase uma hora para voltar para o conforto da casa, parando apenas para comer um pouco, antes de dormir por exaustão. Amava a sensação de não precisar parar e pensar em algo até cair na inconsciência. Infelizmente, não fora o caso. Havia saído mais cedo do trabalho, em uma especie de comemoração, porque no dia seguinte seria o dia dos namorados e o chefe era um maldito romântico incurável que queria agradar a esposa e resolveu dar uma tarde de folga quase inteira para toda a equipe.

Bufou.

Não era desculpa. O tempo estava certamente mais lento.

Ainda por cima estava morrendo de fome. Não tinha comido nada desde o almoço. Só que sair estava fora de cogitação; não poderia garantir ver as decorações românticas ou as pessoas na rua se beijando sem motivo algum e não querer vomitar imediatamente ou então ser obrigado a passar por algum vizinho esperando ser cumprimentado. A doçura o enjoava e ele não ligava se estava sendo amargo. Ir para fora era perigoso para sua sanidade.

Talvez fosse mais seguro apenas deixar toda essa maldição amorosa passar e que o movimento das pessoas ao redor ficasse mais restrito; aguentaria a fome e na manhã seguinte poderia comprar alguma coisa para comer. Parecia mais confortável.

A campainha tocou em seguida afastando todos os planos.

Não recebia visitas — exceto as do seu primo, mas ele já havia ligado mais cedo dizendo que iria viajar para uma ''segunda lua de mel'' com a esposa, então não poderia ser ele. Enrugou as sobrancelhas, desconfiado. A campainha continuou  alta e continua. Uma, então duas, e três vezes. Levantou meio a contragosto, disposto a mandar qualquer um que fosse embora o mais rápido possível. Como sempre, estava sem paciência com as pessoas — educação, gentileza, arg, era tão irritante e cansativo.

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