Quando Taehyung toma chá com um fantasma...

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Taehyung foi vencido pela fome.

Depois que Jeongguk desapareceu pela noite, ficar parado e pensar sobre toda aquela situação era perigoso demais. Sendo assim, convenceu a si mesmo que a fome estava insuportável e que, pelo menos algo doce, precisava comer. Não estava tão animado para ir até o mercado e ter que falar e cumprimentar pessoas..., mas era melhor do que ficar sozinho. Naquele momento.

Quando enfim empurrou a porta do estabelecimento, que ficava a menos de uma quadra de casa, se concentrou unicamente em comprar chocolates — ''é para alguém especial, querido?'' ''sim, eu mesmo'' — e voltar, ignorando tudo no caminho.

Estava machucado, óbvio.

A visita do Jeon não melhorou sua dor, apenas piorou tudo. E o fez lembrar de momentos bons onde tinha tudo: um namorado, amigos, uma vida boa o bastante e, claro, a mãe. Olhar isso do futuro, onde não tinha mais nada daquilo, parecia muito injusto. Seu coração doía só de pesar.

E era tudo culpa do maldito Jeongguk!

Carregando a sacola das compras em uma das mãos, Taehyung subiu as escadas de dois em dois degraus. Quando chegou até o pequeno corredor, não havia ninguém com quem precisasse trocar algumas palavras, exceto uma senhora encostada em sua porta completamente desconhecida. Taehyung não ligou nenhum pouco — não ligou nem mesmo para o fato que a senhora parecia sumir e voltar o tempo inteiro, que os cabelos tremeluziam, as roupas pareciam perdidas em algum século passado, que era pálida como a morte e que, bem, os pés não tocavam o chão. Passou direito por ela como um foguete sem se atentar a nenhum detalhe porque nada no mundo o interessava o suficiente.

— Meu querido jovem... — ela começou, rouca e distante, quando ele se aproximou. Taehyung acenou sem sequer olha-la, tentando girar a chave e abrir a porta o mais rápido possível.

— Não tenho dinheiro hoje — e então entrou, batendo a porta com força. A casa continuava do mesmo jeito, silenciosa. Quando já dentro das paredes seguras, olhou de volta em direção a entrada. Aquilo foi cruel. Até mesmo para ele. Mordeu os lábios e revirou a sacola pensando sobre o que poderia oferecer a senhora do outro lado para se redimir.

— Não quero dinheiro ou comida alguma — uma voz disse bem perto, irritada. Taehyung tomou um susto tão grande que pulou para o lado e a sacola caiu das mãos com força no chão, espalhando toda a comida. Os olhos estavam arregalados como se tivesse visto um fantasma. Bem, de fato, ele estava vendo um.

A mulher do corredor estava ao seu lado. Parecia sorrir embora a imagem tremeluzisse demais para ter certeza. O vestido era de um rosa desbotado e seu rosto, quase assustadoramente familiar.

— Como... como você entrou aqui? Quem é você? — Sua mente já havia entendido o que acontecia, era muito inteligente para não o fazer. Só que havia uma diferença muito significativa entre compreender e aceitar. E ele não queria acreditar que era real.

— Essa não é a pergunta certa — cantarolou, divertida, parecendo aproveitar a reação — Você está em frente a um espírito de luz pela primeira vez. Pense bem no que quer, realmente, me perguntar em seguida.

Taehyung não disse nada.

Se limitou a engolir a saliva enquanto os olhos corriam de um lado ao outro, repetidas vezes. O fantasma não era muito paciente, no entanto.

— Vamos de uma vez. Não há nada para ser dito?

Ele não tinha pensando em nada racional, pelo menos.

— Quais os próximos números da loteria? – tentou, nervoso. Um de seus defeitos era falar qualquer coisa que viesse a mente quando estava ansioso, embora, de fato, ter os números da loteria fosse algo a ser considerado. A cabeça estava trabalhando por conta própria, pelo visto, e não fazia um bom trabalho.

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