Quando Taehyung encontra o amor passado...

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Taehyung não dormiu, mesmo tentando.

Estava em sua confortável cama, coberto de lençóis limpos, quentinho e aconchegado, mas os olhos não fechavam de jeito nenhum. O relógio na praça, perto de casa, parecia mais alto naquele momento — nunca tinha percebido antes que o tic-tac era tão escandaloso e incômodo assim. Depois da meia-noite tudo o que ouvia parecia um sinal, qualquer barulho era suficientemente suspeito para ser o tal fantasma.

Em algum momento da noite, enquanto esperava, disse a si mesmo que estava louco. Talvez, escutar Jane Austen falando sobre amor e vê-la tomando chá em seu sofá velho, fosse algo que a mente criou como medida de segurança depois de todos os acontecimentos vividos naquela mesma noite. Talvez fosse apenas seu subconsciente desgastado, procurando alguma esperança — mesmo uma bem louca.

Ou talvez estivesse no meio de um delírio, então. Provavelmente com uma febre alta embora não sentisse. Ou mesmo louco, de fato. Estava desesperado tentando achar algo racional para acreditar invés de um fantasma de uma mulher que morreu centenas de anos atrás lhe vindo falar sobre escolhas erradas em sua vida amorosa. Os olhos vagavam de um lado para o outro como se procurasse desculpas, mas não conseguia pensar em mais nenhuma.

E então relógio badalou apenas uma vez e nada mais.

Uma hora da manhã.

Taehyung fechou os olhos com força e segurou a respiração, apertando o lençol envolta do corpo, como se esperasse que algo o agarrasse por baixo da cama e o aterrorizasse até chorar. Depois de alguns segundos, nada aconteceu. Nenhum barulho, nenhum puxão no pé, nem mesmo uma mulher voadora tremeluzindo chamando pelo seu nome. Abriu um olho e depois outro, satisfeito, ao encarar a porta e perceber que ela estava como sempre.

Ele então riu.

Era besteira, sem dúvida.

Gargalhou.

Como pode ser tão idiota?

— Porque você fica rindo para o nada, tio? — uma voz soou quase ao seu lado, fazendo com que ele desse um pulo da cama, assim como da primeira vez em que viu um fantasma. Na cadeira perto a penteadeira uma menina de cachos dourados olhava para ele enquanto descansava a cabeça nas próprias mãos, inocentemente entediada. Poderia parecer quase fofa se do seu tronco para baixo não tivesse apenas um borrão branco invés do vestido. Havia os machucados também, horríveis, abertos e bem feios, por todo o corpo. O cabelo dourado estava meio desarrumado e ela parecia suja nas partes em que poderia visualizar. Se não já tivesse se beliscado, poderia imaginar estar em um pesadelo.

— Eu... Não sou seu tio — Foi o que respondeu no impulso e, em seguida, quis se autosocar com bastante força na cara.

— Oh, achei que todas as crianças chamavam os adultos de tio aqui — ela resmungou, olhando para o nada como tentasse se lembrar de onde havia visto isso. Parecia quase decepcionada por não ter acertado — Acho que tenho que atualizar minhas pesquisas.

— Quem é você?

Ela focou os olhos e se ergueu. O vestido branco estava machado de vermelho onde dava para ver que era realmente um vestido velho. E no centro, um coração, que parecia bater fora do corpo, com força. Ela parecia orgulhosa de si mesma.

— Sou o fantasma do amor passado. O seu fantasma, obviamente.

— Você é o primeiro fantasma sobre o qual a Jane falou?

— Isso mesmo. Fui particularmente enviada por ela para ajudar você.

— Qual seu nome?

—Fantasma do amor passado.

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