E, então, os olhos abriram.
Taehyung ainda gritava, encarando o quarto iluminado pela luz do sol. Gritou por longos minutos, mesmo tendo certeza que tinha sobrevivido, que nada doía ou parecia quebrado e que estava em segurança envolta dos cobertores, em sua cama. Só parou quando o ar faltou e a voz falhou. A respiração, no entanto, ainda se mantinha irregular. O peito subia e descia em uma maior extensão. Os olhos, atentos a qualquer movimento, procuravam ameaças. Alguma parte de si esperava que os fantasmas surgissem e dissessem que era apenas brincadeira e ele tinha mesmo morrido.
Esperou e esperou. Nada. Esperou mais até gargalhar. Não, não era brincadeira. De alguma forma — uma do tipo maravilhosa, claro — não tinha morrido!
Com os olhos e as mãos agitadas, analisou o corpo conferindo mais uma vez se estava mesmo inteiro e não tinha nada de errado. Parecia bem. Melhor, estava tudo bem — sem arranhões, feridas ou algo que potencialmente o levasse a um fim trágico. Taehyung riu alto e abraçou o próprio corpo. Meu Deus, qual foi a última vez que se sentiu tão leve?
Aos poucos seus sentidos estavam voltando ao normal. Conseguiu ouvir o barulho dos carros, o cheio do café da vizinha de cima e sentiu algo molhado nas pernas. Enrugou a testa e franziu o cenho enquanto avaliava a mancha embaixo do corpo. Com uma careta, pulou da cama.
— Preciso trocar os lençóis — resmungou.
E percebeu de novo.
Estava vivo!
Nada mais importava!
Realmente vivo! Um homem vivo!
Colocou os dedos em frente ao nariz e sentiu a respiração fria de volta na pele. Gargalhou. Meu Deus, vivíssimo!
Havia sido apenas uma lição. Nada de trágico. Não havia morrido, de fato. Um susto. Saiu pulando pelo quarto, enquanto se abraçava e ria como uma criança, cantando qualquer coisa que vinha em mente. Estava contente por ter mais algum tempo para viver. Percebeu que sentia-se leve porque o coração estava leve. O amor poderia mentir — ás vezes para um bem maior — mas jamais se vingaria de nada. Taehyung teve certeza disso enquanto pulava de um lado para o outro. O amor era bondoso demais!
Em um ato pouco pensado, mas muito feliz, foi até a janela e abriu o vidro. Ainda deveria ser cedo, não havia quase ninguém pelas ruas e a luz do dia ainda estava pálida e tímida no céu, mesmo assim ele gritou:
— Um bom dia a todos vocês, vizinhos!
A maior parte das respostas, fora silêncio. Outras, xingamentos. Uma senhora do andar de baixo gritou ''não tem cotia aqui, não!'' e um senhor do de cima resmungou alto ''bom dia, bom dia, calado agora''. Nada daquilo o desanimou.
Continuou a rodopiar pelo quarto até bater com a perna na pequena escrivaninha que ficava perto da cama. Era um móvel velho que costumava usar para estudar, quando mais novo. Quase não o usava, mas tinha um carinho especial por ser um presente antigo da mãe.
Oh, isso.
Dessa vez, sem saltos, Taehyung abriu a primeira gaveta. Estava meio emperrada pelo tempo sem uso e pela idade da escrivaninha, isso quase o fez sorrir. De dentro dela, entre os dedos, retirou o quadro com a foto da mãe, que não via fazia algum tempo — desde que que ela morreu, na verdade. Era uma foto tão antiga quanto o próprio móvel, onde a mãe e Taehyung se abraçavam e sorriam juntos. Não era um dia especial, nada de aniversário ou promoções no trabalho. Era qualquer dia de qualquer mês. Com ela, parecia especial, no entanto. Tinham decidido que um passeio no parque seria bom já que o dia estava bonito e era isso.
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Love Ghost Love
ФанфикApós a morte da mãe, Taehyung não consegue mais se encontrar - desfaz amizades de anos, termina com o namorado, se isola dentro de si mesmo e vira alguém amargurado pela dor. O coração, antes bondoso, se enche de desamor. Na noite em que quebra do...