Deserto da Amazônia – Ano 2196
A terra estava seca e árida. O vento levantava a poeira do chão rachado, nublando parcialmente a visão dos que estavam ali. O local, que antes abrigava uma grande floresta, estava morto.
"Os seres humanos são tão idiotas...", pensou Lucius.
Séculos de exploração desenfreada até levar o planeta à beira do colapso. Foram diversas vezes avisados, lembrados e somente após o surgimento de grandes desertos como aquele foi que a humanidade começou a repensar suas atitudes. Para locais como a Amazônia, já era tarde demais.
"Autofagia", pensou novamente.
E por conta dessa estupidez ele estava ali, de pé, naquele mar de areia, protegendo a dádiva que a humanidade não merecia, mas receberia. Suspirou. A humanidade não sabia a sorte que tinha.
Sua irmã, ao seu lado, o espiava de canto de olho e Lucius fingia não ver. Se desse brecha, ela começaria um discurso de como ele deveria ter mais esperança, que a humanidade estava aprendendo sua lição, que eles poderiam fazer diferença e "blá blá blá".
- Não precisa ficar tão tenso. – ela falou, finalmente – Não tem ninguém nesse fim de mundo que a coloque em risco. Deixe de ser tão paranoico.
Então Lilian achava que ele estava preocupado com a segurança? Talvez ela não o conhecesse tão bem quanto pensava. Aquele pensamento lhe dava um certo prazer e, para que ela continuasse pensando assim, disse:
- Com o seu conhecimento de História, você deve saber que o perigo vem até de onde menos se espera. – e lhe lançou um olhar divertido.
Ela abriu a boca para retrucar, e ele já estava se arrependendo de ter falado, mas parou a ação, atenta para algo a sua frente. Lucius olhou também. O vento parara de soprar. Ia começar.
Alguns passou a frente deles, uma menina estava parada, em meio ao vazio laranja do deserto. Tinha por volta de nove anos e, apesar de ser pequena para a idade, tinha olhos atentos e perspicazes. Quem encarasse a menina, veria milênios de sabedoria borbulhando nos olhos verdes. O vestido branco ondulava ao redor de seu corpo pequeno e magro, dando a impressão que o vento poderia carregá-la. Quando ela levantou uma das mãos, o vento parou. Depois, ergueu uma adaga dourada com a outra mão e perfurou seu dedo indicador com a ponta afiada. Uma única gota de sangue escorreu e caiu no chão, próximo às suas sandálias douradas.
Por um instante, nada aconteceu. Depois, um solitário broto surgiu e a menina sorriu. O broto cresceu lentamente, quebrado a casca seca do chão, continuando sua subida, espalhando uma camada verde ao seu redor. Cresceu e cresceu, e outros brotos se juntaram a ele, dando origem a imensas árvores, flores, samambaias e toda a sorte de flora tropical. Um lago brotou no meio delas.
Um oásis tinha nascido.
A menina virou-se para seus acompanhantes e sorriu. Lucius finalmente relaxou. Sequer percebera que estava tão tenso. Talvez sua irmã o conhecesse bem, afinal.
-Viu? – disse sua irmã apontando a menina – Nada aconteceu.
- Poderia ter acontecido. – retrucou, apenas para irritá-la.
Lilian revirou os olhos. Lucius sorriu. Lilian acabou sorrindo também.
Alegre com seu feito, a menina se encaminhou para os irmãos, quase saltitando. O coração de Lucius se encheu de um amor sem igual, como de um pai que vê a filha andando pela primeira vez.
-Terminei aqui. - anunciou em sua vozinha infantil, mas melodiosa – Podemos voltar para casa.
Lucius assentiu.
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A Égide de Athena
FanfictionDuzentos anos após a queda de Hades, Athena retorna a um mundo quase destruído, não por nenhum deus, mas pelas mãos dos próprios humanos. Empenhada em salvar o planeta, a jovem deusa conta com um de seus antigos cavaleiros como protetor e também com...