- chapter 03

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Fazia neste dia uma semana desde que cheguei na Itália, e apesar de apreciar o modo como a família Chalamet me acolheu carinhosamente em seu lar, me sentia um tanto estranha- estava com saudades de casa e de minha velha rotina. Já havia passado um bom tempo desde a última vez em que fiz parte de uma peça e já começava a sentir falta dos palcos por conta disso. Para a minha alegria, numa manhã de sol, Sra. Chalamet me contou sobre seu projeto de verão: sendo professora de teatro, ela compartilha da mesma necessidade de produzir e apreciar a arte como eu; sendo assim, propôs ao prefeito que aulas gratuitas de teatro fossem disponíveis para os jovens da pequena cidade durante o verão, no teatro municipal, sendo ela a professora e também quem comanda tudo durante os meses de férias.
E eu não poderia me encontrar mais contente por isso. Dessa maneira, praticaria e quem sabe até pudesse ter a oportunidade de fazer parte de uma peça enquanto estava vivendo na cidade. Não posso negar o fato de que logo a ideia de encenar com Timothée surgiu em minha mente... Quem sabe.

- Ei, está ocupada? - escuto Timothée, que estava apoiado na porta de meu quarto.

- Não, não estou, pode entrar - eu digo bocejando, enquanto assisto Timothée se dirigir à cama onde ainda estou deitada, e o vejo se sentando na beirada, perto de meus pés, se virando para me encarar:

- Eu e minha mãe vamos ao teatro municipal, as aulas começam esta tarde. Você se interessa em ir conosco? - ele diz me observando e parece notar algo em mim, rindo em seguida.

Eu franzi o cenho e respondi:

- Ah, com certeza. Vou apenas me trocar e encontro com vocês na sala. - eu respondo, ainda estranhando-o.

Ele apenas acena com a cabeça e suspira ao se levantar. Quando ele estava prestes a sair do quarto, se vira e diz numa voz baixa, olhando para mim:

- Gostei do pijama.

Demoro alguns segundos para entender o que ele quis dizer e, quando finalmente o faço, ele já não está mais no quarto.
Eu vestia apenas uma camiseta do Bowie, meias 3/4 e uma calcinha rosa. Corei no mesmo instante, logo depois gargalhando de mim mesma.

"Muito bem, Bella, sua tradição de sempre passar vergonhas na frente de garotos bonitos se cumpriu mais uma vez." Penso me levantando e caminhando em direção ao banheiro, me certificando de trancar a porta para não sofrer com mais nenhuma vergonha.

O teatro municipal era realmente grande e, apesar de aparentar ser antigo, era muito bem conservado. Quando entramos no local, havia alguns jovens sentados no palco. Timothée foi em direção à eles sorrindo e os cumprimentou, e eu fui andando um pouco mais devagar, sem saber muito bem como conversar com eles; não tinha ideia se eles sabiam inglês.

Timothée, quando voltou sua atenção a mim, pronunciou algumas frases em italiano (as quais não entendi quase nada - o que não me impediu de admirar sua voz em italiano) e logo após isso, um dos rapazes se dirigiu a mim:

- É um prazer te conhecer - o moreno disse, com um inglês um pouco enferrujado mas ainda assim compreensível, estendendo sua mão num cumprimento que não hesitei em retribuir.

- Igualmente! - respondi ao garoto, enquanto os demais começavam a me dizer olá, também.

- Então, ela não sabe nada de italiano? - Uma garota loira questionou Timothée. Ponderei sobre o quão estranho foi o fato de a jovem não me perguntar, afinal, ela falou em inglês, logo não tinha porquê de não se dirigir a mim. Todavia, ignorei o pensamento e voltei minha atenção ao garoto em pé ao meu lado, que respondeu:

- Não, Paolla, Bella não fala italiano. Porém, ela há de aprender o suficiente enquanto estiver aqui. - E após essa resposta, a jovem prosseguiu dizendo alguma frase em italiano - o que me fez franzir as sobrancelhas.
Não pude impedir minha mente de pensar em que isso foi proposital, e que possivelmente ela estava a falar algo ruim sobre mim.

Duas garotas que estavam ao lado seu lado deram risada e Timothée, que olhou-as com uma expressão não muito amigável, tratou logo de mudar o assunto e o idioma qual o assunto fluía, também, e eu lhe agradeci mentalmente por isso.

A tarde no teatro foi muito agradável. A Itália em si me fazia feliz. E o fato de eu ter encenado com Timothée também contribuía para a minha alegria naquele dia.
Paolla e suas amigas, após a encenação, foram as únicas a não nos aplaudir e a me dirigirem expressões nada agradáveis. Entretanto, mesmo eu sendo - com toda a certeza existente neste universo - sensível, não me deixei abalar por esse ocorrido e dei atenção às partes positivas do dia.

- Julguei a tarde de hoje divertida, não concorda? - Timothée perguntou, enquanto estávamos nós dois deitados no grande jardim da casa, logo após o jantar.

- Sim, foi muito bom conhecer pessoas novas e ter a oportunidade de trabalhar com sua mãe novamente... E também com você, claro. - Digo sorrindo de leve e olhando em direção à lua, que estava acima de nós.

O ouço gargalhar discretamente e em seguida ele respondeu:

- Bem, fico feliz que a senhorita saiba apreciar a oportunidade que teve. Não é qualquer um que consegue... digamos assim... ter sintonia com a minha pessoa, para então atuarmos juntos como fizemos nós dois hoje. E devo trazer relevância ao fato de que você atua muito bem, Bella. Eu já havia assistido vídeos de peças que fez parte, uma vez que minha mãe mostrara alguns a mim, mas vê-la o fazer pessoalmente foi admirável... Realmente ama o que faz, não é? - Neste momento viro de lado, continuando ainda deitada na grama, somente para encará-lo:

- O teatro é o que me dá vida. Parece clichê de se dizer, mas é como o meu oxigênio. Não me vejo sem isso em minha vida. Então, sim, creio que amo o que faço. - Falo sorrindo, feliz pelo assunto, enquanto olhava em seus olhos verdes que pareciam absorver todas as palavras que saíam de minha boca.

Ficamos em silêncio apenas encarando um ao outro, e então Timothée deita no chão novamente e observa a lua. Eu faço o mesmo. E ficamos assim pelo resto da noite, pelo menos até eu cair no sono. Após isso, só me lembro de ser carregada por um certo alguém de olhos verdes até meu quarto e ser delicadamente deitada sobre a minha cama.

- Buonanotte, Bella. - Ele diz quase sussurrando, se retirando do quarto.





feliz 2020, gente <3 espero que tenham gostado do capítulo.

 𝐔𝐓𝐎𝐏𝐈𝐀 ─ 𝘵𝘤𝘩𝘢𝘭𝘢𝘮𝘦𝘵 Onde histórias criam vida. Descubra agora