O Reino da guerra (Degustação)

Os sonhos

Ele não é uma boa pessoa... Ele tem aparecido nos meus sonhos, e consigo sentir que dele emanam uma força e uma determinação inigualáveis. Percebo que há apenas frieza, propósito e fúria em seu olhar. Não sei o porquê de eu sentir e ter tanta certeza de que ele é mau, mas eu sei.

Os sonhos começaram há cerca de três anos. No início, eram apenas pequenas impressões de um homem; eu não conseguia vê-lo com distinção, era como se barreiras mágicas nos separassem. Mas, com o tempo, comecei a distinguir o seu grande e elegante porte. Ele deve ter aproximadamente um metro e noventa de altura, e nota-se pelas suas formas que é todo constituído de músculos bem trabalhados. Depois, comecei a prestar atenção em suas mãos. Elas são muito atrativas para mim, grandes, bem desenhadas, mas calejadas, como se pertencessem a alguém com o costume de trabalhar pesado, o que não combina com suas roupas sempre elegantes e sóbrias, roupas de um aristocrata. Mais tarde, mais barreiras caíram, e finalmente consegui ver seu rosto. Ah... o rosto! Como posso descrever seu rosto? Nada menos do que impactante! Maxilar forte, nariz reto, cabelos escuros... Um rosto másculo! Sem dúvida, um rosto de homem! Não existe nada de feminino nele, e também não se trata de uma beleza comum, como se vê em modelos conhecidos na mídia. É uma beleza áspera, exatamente como eu imaginaria o rosto de um guerreiro.

O rosto e as mãos, isso é tudo o que está visível nele, o resto é escondido pelas suas vestimentas costumeiras. A maneira como ele se move é única, eu nunca vi igual, tem agilidade e graça, como um felino. No entanto, seu porte altivo avisa para quem quer que se aproxime que deve manter cautela.

Há algum tempo, quando fui almoçar em um dos meus restaurantes favoritos, próximo ao campus em que faço a minha graduação em Arte, senti seu olhar sobre mim, a mesma sensação de quando sinto seu olhar nos sonhos. Fiquei agitada e olhei ao redor, à procura da fonte da minha inquietação, foi então que encontrei o mesmo par de olhos cinzas do meu sonho. Ele não se aproximou, não se apresentou, apenas me observou, sem jamais desviar o olhar. Estava sentado em outra mesa, a certa distância, e ficou imóvel, só me encarando. Ao vê-lo pessoalmente mais uma vez, eu tive a nítida impressão de que se tratava de um homem perigoso, mas, ao mesmo tempo, senti uma atração inequívoca pelo perigo expressado em seus olhos.

Desde então, seguimos uma estranha rotina: os encontros nos sonhos, que costumam ser confusos e pouco nítidos, e a frequente sensação de eu estar sendo observada. Porém, na maioria das vezes, eu não consigo vê-lo, são raras as ocasiões em que posso enxergá-lo abertamente. Por que eu não me aproximo quando o vejo? Já pensei na possibilidade algumas vezes, mas sinto naquele olhar uma advertência... "Cuidado, não se aproxime, você poderá se machucar!" Tenho medo do que ele possa ser ou fazer comigo. Sei que soa ridículo, mas é impossível evitar sentir que, se um dia nos encontrarmos de verdade, a minha vida vai mudar, e eu não sei se estou preparada para isso. Por enquanto, desfruto desses poucos momentos em que posso vê-lo, tenho vivido para eles, como se minha alma ansiasse por esse homem. Desfruto da energia perigosa e sensual que dele emana. Estamos estancados nesta situação: não consigo deixar de querer a sua presença, nem tenho coragem de me aproximar.

Já estou com sono, embora ainda seja cedo, apenas nove da noite. Mas tive um dia puxado na Universidade, com provas e trabalhos. No entanto, apesar do cansaço, ao se aproximar a hora de dormir, sempre fico um pouco reticente. Será que vou vê-lo novamente em sonhos? Será que eu deveria querer vê-lo?

Temo pela minha sanidade mental, acho que essa história já está saindo dos trilhos. Depois de fazer minha rotina noturna no banheiro, coloco o meu pijama de flanela, que não é nada sensual (espero que ele não veja a roupa com que durmo), apago as luzes, aconchego-me na cama e deslizo para o mundo dos sonhos.