Fuga

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Faz dois dias que ele se foi. Não houve despedidas, além da que tivemos no último jantar. Sinto tristeza, saudade e um vazio inexplicável. Apesar de os meus sentimentos por ele estarem se tornando mais fortes a cada dia, eu não posso desistir de fugir, pois sei que, se eu ficar, não resistirei a ele. Essa possibilidade me atrai, é verdade, até mais do que deveria, mas eu ainda conservo minhas reticências quanto a ele, e muito pelo fato de eu estar no escuro. Como eu posso decidir ficar, se não conheço toda a verdade? Apesar da promessa que ele me fez de contar tudo, eu não acredito que me deixará ir depois de me revelar a verdade. Ele sempre se manteve polido, gentil e sedutor comigo, mas pela maneira como fala, nunca me deixará livre, e, por mais que eu goste dele, não posso pensar em ter uma relação assim, embasada no medo. Sequer sei que tipo de relacionamento ele está me propondo. Ah, sobre o que eu estou falando?! Eu nem sei se ele quer um relacionamento!

A ausência de Damon é a melhor oportunidade para uma fuga. O problema é: como? Eu ainda não consegui encontrar nenhuma brecha na segurança deste maldito castelo!

Pauso minhas conjecturas e me concentro na minha já habitual caminhada pelos jardins, na parte de trás do castelo. Dois guardas me acompanham de perto, mantendo-se a poucos passos atrás de mim. Outros me observam a certa distância.

Escuto barulhos de queda, uma seguida da outra. Quando olho para trás, vejo os dois guardas caídos no chão, inconscientes. Sei que não estão mortos, pois Damon me explicou em um dos nossos jantares que apenas duas coisas podem matar um vampiro: a decapitação (a qual ele mesmo me deu uma amostra, ao vivo e a cores), e a explosão (afinal, qualquer coisa que despedasse um corpo pelos ares deve ser eficiente para matar qualquer ser, vampiro ou não).

Como se estivesse esperando a deixa, escuto um estrondo de explosão. Eu me jogo ao chão, assustada, tentando me proteger. O que será que está acontecendo?

— Leila?! Venha! — Vejo um homem alto de olhos negros me chamando. — Eu vim te resgatar! Corra enquanto há tempo! — O estranho está embrenhado na mata, vejo apenas sua cabeça e sua mão, que está estendida em minha direção.

Sinto que esta é a minha oportunidade; ou eu fujo agora, ou depois será tarde demais.

Com a decisão tomada, saio correndo em disparada em direção ao desconhecido (em todos os sentidos). Estendo minha mão para ele, que a pega e me ajuda a começar a fugir. Acho que a explosão foi forte o suficiente para deixar os soldados de Damon ocupados enquanto saímos daqui, pois não ouço passos nos seguindo.

O estranho me coloca em suas costas e sai correndo em velocidade inumana, como se eu não pesasse nada. Ele corre por horas, sem sequer diminuir o ritmo. Fico extremamente desconfortável com essa aproximação, não gosto de estar tão colada a ele, mas não posso reclamar da única oportunidade que tenho de fugir.

Não sei por quanto tempo seguimos assim, já estou cansada de ficar pendurada como um macaco em suas costas, então avisto uma estrada. O estranho me faz descer e me leva em direção ao carro que está estacionado no acostamento da estrada. Minhas pernas mal me respondem depois de passarem horas apertando-o, com o medo que eu estava de cair com aquela velocidade toda. E minha cabeça não para de girar! Faço um esforço para manter o conteúdo do meu estômago no lugar.

Entramos no carro e seguimos viagem, desta vez mais confortável, pelo menos para mim. No caminho, depois de horas, paramos em um pequeno restaurante de estrada do mundo humano.

Pelas conversas que tive com Damon, percebi que a tal "magia" provém dos monarcas das quatro regiões, que parecem ser a variação mais forte entre os vampiros. Todos os vampiros têm poder de compulsão sobre os humanos, e também são mais fortes e mais ágeis, tendo os sentidos ampliados, como se fossem predadores – o que não deixam de se, mas os monarcas e todos de sua família têm mais poderes que os demais, apesar de a maioria não ter família ou esta ser reduzida, devido à dificuldade de procriação.

O Reino da guerra (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora