Moça Perfeita

Capítulo 9 - Uma Visita Inusitada

De madrugada, acordei muito perdido e sem lembrar onde dormi. Olhando para Ayla (já minha namorada) lembrei que tivemos o nosso encontro e tinha sido perfeito. Pelo menos algo se comparou a ela nesse momento. Moça perfeita, era assim que chamava ela.

Antes de acordá-la, verifiquei se não havia mais alguém por perto. Já de pé, tirei a minha camisa de mangas longas (era uma roupa especial para mim) e cobri ela. Ao pegá-la no colo, percebi que estava gelada e quase acordando. Fiquei com medo de um de nós ficar resfriado ou os dois e o nossos dias forem jogados no lixo.
Até chegar em um ponto de ônibus, fiquei olhando se o meu neném não acordava. Ela tinha um sono peculiar. Falava enquanto dormia. Fiquei ouvindo coisas aleatórias que saiam de sua boca: "Batata-doce oriental", "verde melão", "rosas rosas" e "chocolate" eram coisas que ela mais falava. Não me pergunte o que isso queria dizer, eu nem  sequer quero saber. Até me perguntei se tinha ônibus esse horário, realmente não tinha e fiquei sem saída para lugar nenhum.
Com uma voz sonolenta ela acorda dizendo:
—Onde estamos amor?
—Você está gelada, então saí da praia e achei este ponto de ônibus.
Preocupada me pergunta:
—Vai me levar para a sua casa?
—Calma amor, a gente já vai saber como ir para casa. Não têm nenhuma linha que passe nesse lugar a esta hora. Então acho que vou ficar aqui com você até achar onde ficar.

Toda descabelada, levanta e me abraça. Um bebê daquele eu não poderia deixar no frio, então pensei rápido em ligar para um amigo que morava por ali perto:
—Oi, é o maconheiro do João Ricardo?
—Oi, aqui é a mãe dele. Que história é essa de maco...
—FOI UM ENGANO SENHORA!
Okay, a mãe dele não sabia da erva, então ligo ligeiro para um amigo acordado:
—Lucas, aqui é o Gabriel, do futebol.
—Quem diria hein? Você a uma hora dessas...
—É realmente uma emergência. Uns caras nos assaltaram, ajuda aí. Estamos aqui na praia, você pode vir aqui?
—Claro, onde você está exatamente?
—Parece ser perto do mercadinho chamado... Deixa eu ver... Oliveiras, mercado Oliveiras.
—Ah, sei onde fica. Meu amigo conhece o dono.
—Apenas venha rápido.
Tive que mentir. O Lucas é chato em ficar de vela e coisas assim. Prefiro que ele não saiba da verdade e me ajude com a minha namorada que já estava tremendo de frio.
Quando começo a ver a luz do celular do Lucas refletindo em seu rosto, grito:
—AQUI SEU RETARDADO!!!
Vindo até nós, ele percebe a garota e se decepciona instantaneamente. Enfim, ajudando principalmente a mim que estava sem camisa, me deu o seu casaco e indo para o seu prédio, entreguei para a Ayla. Ela já aquecida começou a espirrar. Muito fofo o espirro dela, com um barulhinho no final. Só esperava que ela não ficasse com alguma gripe ou coisa do tipo. Colocando-a em meus braços entramos no condômino. Subimos e lá, no décimo andar tinha uma das mais belas vistas para o mar que eu conhecia.

Já sem sono, não queria dormir de jeito nenhum, então fiquei olhando o meu amigo gravar vídeos para o seu canal no YouTube. Ele fazia isso de madrugada, então era só aquilo para me divertir. Os vídeos eram bons, o melhor são as vozes variadas que ele fazia. Irrelevante este detalhe.
Tinha colocado o meu amor para dormir e já estava despreocupado. Tirei fotos dela dormindo e salvei na minha galeria. Queria lembranças daquilo e não via motivos para não tirar ao menos uma foto. Ao olhar muito o seu jeitinho de dormir, deitei em seu lado. Bem agarradinhos dormimos e o meu amigo ficou no sofá mesmo.
Levantando mais ou menos na hora do almoço, pensei em cozinhar para o meu neném que ainda dormia. Tadinha, ela é sensível ao frio, então provavelmente pegou uma gripe. A cozinha era horrível, não tinha nada que eu poderia fazer para um bom almoço/café da tarde. Consegui preparar uma coisinha simples: macarrão, um bife e uma pequena porção de batata frita que estava sobrando no congelador. Meu amigo acorda louco. Eram suas batatinhas. Discutimos e eu pedi desculpas por não ser educado com as suas coisas.
Acordei a minha preguiçosa e levei o seu almoço na cama. Ela sorrindo comeu tudo.

Praticamente o segundo dia que estávamos juntos estava prestes a terminar. Lembrei de uma coisa que sempre quis fazer.