O Meu Lado da História

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Observo enquanto ele fica olhando durante minutos para cada roupa na arara, como se não fosse a mesma estampa só que com cores diferentes.

Ele está tão destraido que nem consegue ver a frustração na minha cara, ou talvez, esteja apenas ignorando.

- Eu realmente não entendo como as pessoas tem coragem de comprar essas coisas. - Ele puxa uma camisa branca onde está escrito apenas "Cruz Quero" em roxo - Tipo, as pessoas não tem a menor vergonha na cara?

- Rafael, você disse que iria ser rápido. Estamos aqui há uma hora e as aulas voltam amanhã, eu gostaria de descansar.

- Ai, Caio, você é muito chato. - O garoto rebate colocando a camisa de volta no lugar - Justamente por ser o nosso último dia de férias antes do terceiro ano que deveríamos aproveitar.

Estamos voltando para a rotina de sempre... Vamos ao internato, vou dividir o mesmo quarto com o Fernando que ficou uma mala desde que começou a namorar a Rebecca e ter as mesmas aulas monótonas.

- Nem acredito que chegamos ao terceiro, agora estamos a um passo da liberdade, festas de faculdade, alcoolismo...

- Enem? - Sugiro.

- Ah, é... Eu vou pular essa parte. Prefiro deixar que as vagas da faculdade pública fiquem com pessoas que realmente precisam.

- Isso significa que você não quer estudar para a prova né?

Ele revira os olhos em resposta.

- E essa aqui? "Sextou", quem é o sem noção que usaria isso?

- Eu comprei uma igual pra minha irmã de natal. - Digo.

- Ah, mas que você é sem noção todo mundo já sabe né. - Ele se aproxima e me abraça, o cheiro do perfume importado dele se misturando com o meu - Falando nela, quando você vai me deixar conhece-la.

- É...

Eu passei todas as férias na casa da Emília, minha irmã, porque ela é o único membro do grupo familiar que não me renegou quando eu me assumi.

Mas, não pense que eu sou folgado, pois eu arrumei um emprego de verão como caixa de mercado para ajudar a pagar as contas e cuidei da minha sobrinha enquanto ela trabalhava.

Só que durante o verão inteiro o Rafael ficou pedindo para conhecer e eu neguei porque... Não sei, é um grande passo?

- Tá bom, não vai rolar, né? Ótimo, vou ir ver umas calças agora.

- Qual é... - Resmungo, seguindo-o - Você sabe que vai embora sem comprar nada.

- É, mas eu gosto de ver as coisas.

- Rafael, o estacionamento desse shopping é carro demais.

- Primeiro, viemos de Uber e segundo, você nem tem carro.

Desisto porque é impossível lidar com a teimosia dele e passo o olho ao redor da loja até que reconheço, mesmo de costas, o garoto ruivo com tatuagem no pescoço.

- Rafael, vamos embora. - Falo, quase num sussurro.

- Porra, tu é chato pra caralho em.

- Rafael, vamos embora AGORA.

Eu puxo o braço dele com força que me olha esquisito, mas acaba vindo. Ando rápido tentando não ser notado, só que não adianta.

- Caio? Caio Alves?

Puta merda. Quão Sortudo eu sou.

- Greg, tudo bem? Quanto tempo. - Não aperto a mão dele, as coloco nos bolsos da jaqueta de couro para não ter que fazer isso. - Ah, Lara?

Contos de Andando em CírculosOnde histórias criam vida. Descubra agora