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gotham city, 1:00
departamento de polícia
12° distrito

               LOUIS DUQUENSE tinha sido instruído a tomar cuidado com a policial Oceans. Mais de uma vez. Disseram a ele que ela estava muito abalada pela morte de Mitch Aubry, e que, apesar da urgência com que todos tratavam o caso do Capuz Vermelho, devia ir com calma e tentar fazê-la se sentir confortável primeiro.

               Já no primeiro encontro dos dois, no cemitério, ele percebeu que ela não era uma boneca de porcelana como todo mundo dizia. Ele e algumas outras pessoas nas primeiras fileiras de cadeiras conseguiram perceber que ela derramou uma ou duas lágrimas ao se aproximar do caixão do ex-parceiro. Mas aquele foi o único momento em que ela mostrou fraqueza, baixou a guarda. Desde então, era como um punho fechado com longos cabelos castanhos.

               A curta conversa no terraço antes do depoimento revelou pouco sobre a personalidade da garota, mas L já achou muitas vezes mais interessante do que os relatos indicavam. Era ácida, radiava determinação. E sempre parecia pronta para sacar a arma e atirar em alguém. No bom sentido.

               Isso, no entanto, não era o que ele esparava de uma pessoa de luto. Como ela mesma disse, o corpo de Mitch mal tinha esfriado. E ele tinha dúvidas sobre o que o comportamento de Maddie indicava. Era força? Ela estava em negação e reprimindo os sentimentos negativos? Ou havia algo por trás da sua postura excessivamente defensiva? Ele precisava descobrir. E ia fazer isso sozinho, por, entre outros motivos, não confiar em ninguém em um raio de 80 quilômetros.

               Havia outra coisa o incomodando. Maddie não era a única lidando de forma estranha com a morte de Mitch Aubry. No pequeno grupo que se aguardava Pete terminar com a papelada para ir ao Big Joe, às vezes eram feitos comentários sobre a baixa na equipe, mas eram soterrados por outros comentários banais. Quase parecia de propósito. De vez em quando, Louis tentava voltar ao assunto.

               — Como era Mitch Aubry?

               Os policiais trocaram olhares, como se decidissem quem ia falar. O corajoso foi Pete.

               — Como assim?

               — Ele era um bom policial? Sobre o que ele falava quando não estava trabalhando?

               As sobrancelhas de Pete se juntaram em uma expressão confusa, e talvez levemente irritada.

               — Escuta, Duquense, nós fazemos esse tipo de investigação aprofundada quando não sabemos quem é o assassino. Nesse caso, sabemos, é o Capuz Vermelho.

               — É claro, mas não acha que é importante-

               — Eu acho que o seu trabalho é analisar o que aconteceu depois do crime, para onde o Capuz Vermelho iria, coisas desse tipo. É com ele que deve se preocupar, e não com Mitch Aubry.

               Ninguém falou depois disso. Pelo menos por uns quarenta segundos, os únicos sons eram os da caneta ou do grampeador. Um assunto ou outro foi pipocando entre os policiais e todos agiram como se nada tivesse acontecido.

               Pete finalmente terminou o que estava fazendo e se levantou da mesa. Bem nessa hora, Louis viu Maddie Oceans andar para fora da delegacia. Não saberia dizer o motivo, mas achou o modo como ela passou — com a expressão congelada de um soldado na sarjeta —, intrigante.

               Louis fingiu ter recebido uma ligação e, em um diálogo consigo mesmo, encenou uma emergência, e se distanciou do grupo com uma promessa de que ficaria para outro dia. Torceu nunca para o convidarem de novo e saiu da delegacia, a tempo de ver o carro de Maddie virando à esquerda na rua de trás.

a heavenly way to die × jason toddOnde histórias criam vida. Descubra agora