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Acordei com meu celular tocando, fiquei um pouco preocupada.

Na tela estava mostrando o nome da minha chefe, se ela estava me ligando a essa hora, não pode ser coisa boa.

Atendi ela um pouco nervosa, não estou preparada para ser demitida, esse dinheiro me ajuda bastante nas contas de casa.

Ela percebeu meu nervosismo e logo riu dizendo que não era nada de mais. Ela só queria me avisar que hoje eu não precisava trabalhar.

Estranhei.

Perguntei logo o motivo, ela ficou um pouco tensa, disse que um dos filhos do traficante havia saído da cadeia, então a favela estava em estado de atenção.

Fiquei pensativa, não sabia que o Coringa tinha outro filho.

Agradeci ela por avisar e logo desliguei para me arrumar, ainda preciso ir para a escola.

Enquanto me vestia, fiquei preocupada com o que pode acontecer agora com a comunidade, eu morava exatamente no pico de toda a merda.

Minha mãe trabalha de doméstica na casa dos traficantes, a cada semana ela trabalha para um, isso foi decisão deles, para que ela não se envolvesse nos negócios deles.

Olhei a hora em meu celular e vi que já estava atrasada, corri pegando minha mochila. Desci as escadas com cuidado e fui para a cozinha pegar um doce.

Vejo que em cima da mesa tinha um papel escrito.

"Filha quando chegar da escola por favor faça um bolo ou uma torta. Coringa quer fazer uma festa para apresentar seu filho que voltou dos Estados Unidos"

Acabei gargalhando, minha mãe é muito inocente, ou finge não saber das coisas, ela nunca em disse que trabalha para os traficantes, o que ela sempre me diz é que os patrões dela são ricos, que vende gados para o exterior.

Óbvio que eu já sei de toda a verdade, mas não sei o motivo dela querer me proteger da verdadeira identidade deles, ou realmente eles escondem dela o que eles fazem de verdade.

Saio de casa vendo várias pessoas olhando nessa direção, a a casa do Coringa fica duas ruas a cima da minha.

Acabei olhando também, havia muitas pessoas e carros na frente da casa, pelo visto o menino é importante para que ele pare o morro para dar atenção a ele.

"Queria muito saber o que esse menino tem de especial" - Falei comigo mesma.

Desci o morro meio que correndo, já que faltava meia hora para que a primeira aula começasse, não gostava de chegar atrasada.

Quando estava perto do portão vejo minhas duas amigas chegando também, elas estavam acompanhadas de seus ficantes.

Cumprimentei todos eles e já subi pra sala, como eu as conheço bem, elas poderiam aparecer só depois da segunda aula.

Quando cheguei na sala, o professor ainda não havia chegado, agradeci mentalmente, fui rapidamente para o fundo da sala, aonde eu e minhas amigas sentam.

Quando ia me debruçar na mesa, escuto o professor chegando, e logo em seguida as meninas correndo igual loucas.

- Tem aluno novo. - Falou Maira, vulgo ruiva.

- Bonitinho. - Disparou a Rose, vulgo Barbie de Chernobyl.

- Vocês não prestam! - Disse para as duas.

- Aí Luna, deixa só você ver ele, vai ficar babando. - Disse Maira debochando.

- Calem se, hoje temos um novo aluno, vamos dar um ótimo exemplo. - Disse o professor, todos que estavam na sala reviraram os olhos. - Por favor Aaron entre e se apresente!

Olhei para a porta nenhum pouco interessada, o menino entrou com uma expressão de tédio.

Alto, seus cabelos estavam extremamente curtos, tipo cabelo cortado de presidiário dos Estados Unidos, mas ainda dava para ver a cor deles, eram no tom de loiro escuro.

- Me chamo Aaron Teles, tenho 19 anos. Espero que sejamos amigos. - Tudo o que ele disse foi em um tom debochado, ele realmente não queria estar ali.

Olhei um pouco mais para ele e percebi que em seu calcanhar tinha uma tornozeleira eletrônica, concluir que era por isso que ele estava aqui.

- Pode sentar aqui na frente - Disse o professor mostrando um sorriso amarelo.

O guri olhou para a cadeira e depois para o professor, soltou uma pequena gargalhada irônica. Ele deu as costas ao professor e veio até o fundo da sala, se sentando na última carteira do outro lado.

A sala inteira olhou para o professor esperando alguma atitude, mas ele só concordou e voltou atenção para nós.

- Pelo visto ele tá com medo do menor - Comentei baixo para as meninas, as duas caíram na gargalhada.

O velho olhou para nós com cara de poucos amigos, antes de virar para o quadro ele bufou ferozmente.

- Vamos começar a aula turma. - Disse começando a escrever no quadro.

Dei uma olhada de canto para ver o que o guri estava fazendo, e não me surpreendi, estava debruçado na carteira tirando um cochilo.

Voltei atenção para frente quando ouvi as meninas sussurrarem um "Hmmmm" no meu ouvido, as ignorei para não dar chance a elas de falarem nada.

My delinquentOnde histórias criam vida. Descubra agora