Twenty Six •Angelina

1.8K 136 55
                                    

— Eu sei vô. Mas sabe.....- Tinha o costume de deslizar meu pé no solo conforme falava algo que me deixava desconfortável ou envergonhada. — Eu.....vô, escuta. Eu prefiro que seja assim. Eu sei que eles já não sentiam o mesmo um pelo outro a muito tempo.

Escutava os murmúrios ranzinzas do senhor do outro lado da linha, com seus olhos verdes, a barba grisalha bem cuidada e os típicos suéteres azuis marinho ou, como dizia ele, verde Angelina.

Sabia que ele estava bravo por eu não ter impedido minha mãe e consequentemente sua filha de ter saído em um carro sem se importar com oque estava fazendo, mas também sabia que ele estava preocupado com suas netas e meu pai.

— "Posso te contar uma história?"- Sua voz rouca falou calmamente do outro lado da linha.

— Na verdade, eu tenho treino daqui a vinte minutos e tenho que estar lá o mais cedo possível......- Fui interrompida pelo som frustrado de um suspiro me fazendo ficar calada.

— "Eu e sua avó não apoiávamos o namoro de sua mãe com seu pai. Ele era, sinceramente, um idiota que jogava hóquei na escola e sua mãe estudava arduamente para passar em medicina." - Privei-me de um risinho. Então ele continuou. — "Sua mãe contestou de todas as formas que conseguiu, preferia largar todos os anos de estudos para ficar com alguém que no nosso ver avacalharia seu esforço." - Confirmei me sentando no capô do carro de meu pai. Já estava de saída quando o senhor canadense de cinquenta e poucos anos me ligará.

— "Então concordamos apenas um jantar com seu pai, para que ele provasse que era um homem de respeito. Quem é seu pai hoje?" - Ele perguntou e sorri de forma inconsciente.

— "Entende por que fico tão preocupado? Eles se amavam, Angelina! Eram capazes de tudo um pelo outro." - Senti um aperto no peito. Então esse é o amor.
— "Você e suas irmãs com certeza foram fruto de amor, Angelina. Eu sei o quanto pensa nisso." - Foi quase impossível segurar os soluços que estavam presos em minha garganta.

— "Não pense no amor dessa forma. Todos os casais brigam e alguns se separam. Isso não quer dizer que nunca foi amor, mas que as diferenças de ambos começaram a lutar destruindo os laços que os deixavam juntos. Mas o amor, Angelina. O amor continua lá. Apenas não é mais tão forte para enfrentar tudo isso." - Confirmei com a cabeça mesmo sabendo que ele não poderia ver meu ato.

— "Amor existe. E você tem que lutar para mantê-lo forte. Mas lutar junto com quem ama." - Sorri e o agradeci baixo. Escutei sua risada gostosa acompanhada por barulhos estranhos, algo como talheres rangendo em uma espessura de vidro.

— Obrigada, Vô. - Ele suspirou por longos segundos. — "Te conheço tão bem que sei de tudo que começou a questionar. Mas não é necessário. Lembra do que eu te falava quando era criança?" - Ri e repeti as tão famosas palavras de meu avô.

— A vida é como o mar. Nós somos as ondas, quebrando uma nas outras, porém, as vezes conseguimos alcançar a areia. - Ele riu mais uma vez e conversou com alguém.

— "Isso soava mais poético quando você era criança, mas ainda significa algo para você. Não é?" - murmurei confirmando.

Nos despedimos, ambos com corações leves. Andei calmamente até a escola. Haviam dois caminhos para chegar ao campo, um corredor dentro do pátio principal ou pelo estacionamento. Era óbvio que eu havia entrado escondida pelo estacionamento, já que a escola já havia fechado as portas para o horário de aulas do fundamental I.

Tentei passar despercebida entre os carros, se fosse vista, suspensão na hora. Mesmo que fosse apenas para ensaiar com as outras meninas, os coordenadores e muito menos a diretora tolerariam aquilo. Mesmo que se fosse por causa de uma autoridade mais velha e mais sábia que me prendia ao telefone.

Escutei risinhos em algum lugar os quais pareciam ser todos direcionados a minha falta de pontualidade.
Olhei em volta encontrando um bando de adolescentes sentados no capô de uma picape vermelha.
Dainy Sanchez e Barbara Kly, havia as conhecido nas aulas de teatro, Felix, um garoto com aparência asiática e Noen.

Os olhei sem graça, precisava cruzar aquele portão antes que o guarda do estacionamento me visse, mas pelo jeito havia sido descoberta. Não parecia ter sido a intensão deles, mas haviam chamado atenção com os risinhos e olhares.

— Angelina Hall James! - O treinador Hayes se aproximava, ele seguia as regras da escola como qualquer outro professor. Era pretensioso e cheio de si, gritava com todos como se tivéssemos a obrigação de aguentar seu mal humor matinal.

— Eu só quero ir para o treino. - Relaxei os ombros sabendo que tudo estava arruinado. Detenção. — Essas são as desculpas! Primeiro precisam ir ao treino e depois vem usar drogas aqui! - Segurei o riso como todos os outros na picape.

— Ah, sim....- Falei baixo em pura ironia. Me arrependi logo em seguida, seu semblante provava que ele havia escutado.

— A senhorita cheerleader sabe muito bem as regras. Não toleramos faltas ou atrasos. - Ele parou autoritário em minha frente.

— Se não toleram faltas, por que Noen não está no seu treino? Não é do meu conhecimento mas deveria começar em uns cinco minutos. - Sorri olhando para o garoto que me encarava enquanto murmurava um "Oque?!" baixo.

— Eubanks! - O treinador se virou bravo e tudo oque fiz foi sair correndo entrando pelo portão ao campo. Escutei risadas altas e mais tarde vi um Noen, com toda certeza, enfant.

>🔒<

*Cheerleader: traduzido do inglês; Líder de torcida.

*Enfant: Traduzido do francês; Puto.

Espero que não tenham se importado de eu ter usado " para simbolizar as falas do avô dela pelo telefone.
Tudo pelo fato de meu Wattpad dar erro quando tento mudar frases para o itálico ou negrito, então ele buga de mais, apaga algumas palavras e etc.
Achei mais fácil usar aspas.
Enfim, entendam por favor.
Faço os capítulos pelas notas do meu celular e fica difícil passar para o itálico aqui.
Apenas as notas finais fiz aqui, por isso deu tudo certo hahaha.

Amo vocês!

INSTAGRAM •Noen Eubanks•Onde histórias criam vida. Descubra agora