Capítulo Três

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"As rachaduras não vão se consertar e as cicatrizes não irão desaparecer

Acho que eu deveria me acostumar com isso

O lado esquerdo da minha cama é um espaço vazio

Lembro que éramos estranhos

Então, me diga, qual é a diferença

Entre o antes e agora

E por que isso parece um afogamento?

Dificuldades para dormir

Sonhos inquietos

Eu sei que não há mais nada para se agarrar

Mas eu ainda estou chamando seu nome

Você está em meus pensamentos

Sempre, sempre, sempre"


Always - Gavin James

















- Mãe, não faz isso comigo. - Ela limpa o rosto e dá um sorriso pequeno.

- Você não sabe fazer um feijão, Verônica. - Ergue a mão contando nós dedos. - Não sabe fazer arroz, se deixar você taca fogo na cozinha. - Olho de um lado para o outro e vejo uma mulher tentando conter a risada. - Outro dia mesmo, deixou o bolo queimar. - Relembra, chorosa. - Como que você pode morar sozinha longe de mim? Eu lá vou saber se você não está enchendo a pança dessas porcarias cheias de gorduras, que servem mais para tapiar do que qualquer coisa. - Assoa o nariz na toalha e meu pai morde o lábio querendo rir. - Estou te vendo, Pablo! - Se vira, dando um tapa leve em seu ombro.

- O que foi, minha velha? - Minha mãe aperta os olhos e se vira me fitando.

- Você vai ligar, não vai? - Segura minhas mãos e deixo a mala de lado. - Ligar pela internet que é mais barato. Não vai ficar comendo pizza 24 horas por dia, certo? E vai continuar com suas consultas online igual a sua psicóloga orientou fazer até que você arranje uma por lá, não é? - Suspiro.

Me aproximo, a puxando para um abraço apertado.

- Mãe, irei tomar cuidado. - Me afasto e encaro a face avermelhada. - Eu prometo que irei fazer tudo certinho. Trouxe até uma lista para não esquecer de nada. - Estendo a mão com o papel e ela me puxa para um abraço forte.

Me aconchego em seu aperto carinhoso e quase me esqueço do vôo que está para sair.

- Largue a menina, Bernadete! - Ouço meu pai pedir mas, minha mãe não se afasta.

Longos minutos se passam até que o abraço termine.

O rosto rechochudo.

A postura áspera.

O olhar meigo.

Deus.

Sentirei falta dela.

Sentirei falta da minha família.

A ficha cai quando ouço novamente a mulher anunciar o vôo.

- Ei, nada disso. - Toca meu nariz e sorrio. - Para de pensar em coisas que te deixaram para baixo, filha. Pense que logo estaremos todos juntos e vença. Vença por você, pela mulher maravilhosa que se tornou. Porque você, Verônica... - Me abraça. - Merece o que esse mundão tem de melhor. Ganhe seu espaço, seja a luz da sua vida. Não desista e saiba que sua mãe e eu estaremos aqui, sempre para você e por você. - Engulo o choro e assinto.

Um Toque do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora