Capítulo Dezesseis - Eletricidade.

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Eu.

Depois do discurso encorajador de Franklin sobre Olive e eu sermos "perfeitamente imperfeitos" (ele com certeza tinha lido isso em algum lugar), eu tinha realmente me decidido a seguir uma dessas duas opções:

a) Falar com Olive para que as coisas não continuassem esquisitas entre nós;

b) Morrer num trágico, porém fatal, acidente de Buggy antes de chegar em casa e nunca saber o que poderia ter acontecido.

Contudo, nenhuma das duas coisas aconteceu.

Quando eu cheguei em casa, Olive estava no quarto com Anne, então a convicção acabou e as coisas continuaram da mesma forma – esquisitas e como se a gente quisesse evitar pensar no que tinha acontecido, mesmo não tendo feito nada de errado ou ruim.

E nos mantivemos assim pelos oito dias que seguiram – bom, não exatamente, já que nós conseguimos nos comunicar melhor, de forma monossilábica e com grunhidos, basicamente.

Considero isso uma vitória absoluta, de qualquer forma. Até porque eu não tinha muita opção se eu tivesse que falar de verdade com Olive.

Eu sabia, independente dos discursos diários de Franklin sobre o tema, que nada iria se resolver se nós não conversássemos, mas ao mesmo tempo que eu estava tímido, eu tinha medo de Olive, então ficava na minha.

Mas, oito dias depois, as coisas estavam prestes a mudar, embora eu, que tinha apenas acabado de chegar do trabalho e estava calmamente seguindo para o elevador do prédio com comida chinesa para dois, não fizesse ideia de que isso ia acontecer.

Apertei o botão para chamar o elevador até o térreo e, mesmo de costas, pude sentir quando alguém parou atrás de mim. Olhei de rabo de olho por cima do ombro esquerdo e vi Olive parada a alguns metros, também recém chegada da Johnson E. A gente não vinha junto para casa, nunca. Agora, tenho certeza que qualquer um de nós preferiria dormir no sofá da recepção da empresa a aguentar os 20min de trajeto enfiados dentro do mesmo carro.

O Buggy era bem pequeno, além disso, não tinha portas, então alguém provavelmente acabaria surtando e pulando para o asfalto. Nada bom.

Murmurei "hm" para Olive e ela murmurou "hm" de volta. Nosso maior diálogo do dia.

Não mantive meu olhar tempo demais em Olive, mas, de alguma forma, eu sabia que ela estava olhando para mim. Dizem que a gente sente essas coisas.

Só reagi quando a campainha do elevador soou e as portas metálicas se abriram, de forma que segui para dentro do cubículo com Olive em meu encalço. Cada um parou em uma ponta do elevador, mas, em uma caixa metálica de um 1,5m por 1,5 metro, era meio difícil ficar longe.

Eu estava sentindo o cheiro do perfume dela e podia ver seu reflexo nas paredes espelhadas – ela estava com os cabelos presos em um rabo-de-cavalo e usava um vestido azul marinho que fazia seus olhos se destacarem como duas esferas feitas de mar.

Eu deveria falar alguma coisa?

Provavelmente sim.

Mas como começar?

Boa tarde, Olive, queria dizer que nosso p-na-b (pônei na borboleta) não muda as coisas entre nós, sabe?

Não parece promissor.

Eu tinha uns, sei lá, vinte segundos para tomar uma providência. Durante nossos oito dias em silêncio – sem brigar eu conseguia pensar muito na vida – eu tinha percebido que toda vez que algo tinha rolado entre mim e Olive, ela tinha ido até mim. Talvez fosse a minha vez de tomar a iniciativa?

Você e Eu (Concluído).Onde histórias criam vida. Descubra agora