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Adoro conduzir mas viagens superiores a duas horas torna-se entediante e cansativo. Nem mesmo com a minha playlist nas alturas esta viagem se torna mais interessante.

Após cinco horas e alguns minutos chego finalmente aquela cidade que durante tempos foi o meu abrigo. É estranho estar de volta. Não vou mentir, faz-me relembrar o passado, o que, floresce em mim uma enorme tristeza e revolta. Mas estou preparada psicologicamente para tal.

Estaciono o carro em frente à casa do Diogo e vou em direção à campainha.

Não é preciso dizer que a felicidade reinou assim que a porta foi aberta e finalmente estava nos braços daquele que esteve sempre ao meu lado.

"Finalmente." Suspirou Diogo enquanto me abraçava. "Fizeste-me tanta falta, miúda. Nem imaginas."

"Também tu me fizeste falta, cariño. Mas agora já estou cá e é para ficar."

"Entra." Permitiu a minha passagem para o interior de sua casa. "Não posso é ficar a conversar durante muito tempo porque daqui a nada tenho treino." Lamentou.

"Esta tinha de ser a minha primeira paragem. Não podia ir já para a minha futura e humilde casa antes de te ver." Sorri-lhe. "E não te escapas de me ajudar nas arrumações."

"Ainda agora chegaste e já me queres fazer de teu escravo." Reclamou. "É injusto."

"Já tinha saudades de te ouvir a reclamar assim." Ri-me. "Mas conta-me... Como é que está tudo a correr? Como é que está o pessoal? Tenho saudades deles."

"Está a correr tudo bem. Há sempre aqueles momentos menos bons na carreira mas não é isso que me faz ficar desmotivado. Só me dá ainda mais garra para fazer melhor." Sorriu-me e transpareceu todo o seu amor que tinha pelo que fazia. "O pessoal ficou todo doido quando se aperceberam que estarias, finalmente, de volta. Assim que publicaste a devida bomba no Instagram, o grupo de futebol no WhatsApp não ficou parado um segundo. Os recentes contratados até te querem conhecer de tanto que falamos de ti. Até o mister." Ri-me acompanhado dele.

"É tão bom estar de volta."

"O que te fez voltar, Tilde?" Perguntou-me o mais novo, curioso.

"Eu tive uma proposta de trabalho. Vou trabalhar no meu ramo." Admiti. "Agora posso mesmo afirmar que tão cedo não te vês livre de mim."

Após a confissão, Diogo veio ao meu encontro e abraçou-me e proferiu tais palavras tão intensas, ainda antes de me largar.

"Sabes que ele está muito orgulhoso de ti, pois sabes?"

Creio que não era necessário responder-lhe a tal. Eu sabia que qualquer fosse o meu trabalho, o meu pai estaria mais que orgulhoso da sua niña.

"Adorava desenvolver a conversa mas já está a ficar na hora do treino." Lamentou o meu melhor amigo deixando-me um leve beijo na minha testa. "Estupidez a minha. Já me ia esquecendo de te avisar. Logo vamos jantar em casa do Iker. Recordaremos os bons momentos com os restantes."

"Melhor receção que poderia ter." Sorri-lhe.





Não era preciso dizer que me sentia cada vez mais nervosa à medida em que se aproximava a hora do jantar. Era aquele nervoso de saudades, de saber que voltaria a estar com aqueles que nunca me deixaram de apoiar. Que, independentemente de tudo, estiveram sempre a meu lado.

Toquei à campainha de Iker e de Sara e uma vez que a porta é aberta, sou, de imediato, abraçada.

"Iker, mal consigo respirar." Queixei-me enquanto me ria.

"Que coño, continuas fingida." Gozou. "Anda, a Sara está mortinha para te ver."

Seguindo os seus passos, abandonei o seu hall de entrada, sendo conduzida até à sala.

"Puta mierda." Gritou Sara vindo até o meu encontro.

"Eita porra, menina. Não grita, não." Reclamou Alex Telles. "Mexa sua bunda, é minha vez." Empurrou-a para me abraçar.

"Acho que vou começar a sair do país mais vezes só para ter tantos abraços."

"Não o faças outra vez, não iríamos aguentar." Confessa Diogo. "Mas bem, aqueles são o Luis Díaz, o Zé Luís, o Augustín e o Manafá. Só falta mesmo o mister."

"Estranho estar atrasado. O senhor pontual deixou de ser pontual." Constatou Otávio.

Após a sua fala a campainha toca e instantes depois Sérgio Conceição é me apresentado.

"Matilde este é o mister. Sérgio Conceição é a Matilde."

"Prazer, Matilde. Trata-me por Sérgio." Largou um grande sorriso.


O ambiente não podia estar melhor. Conversa puxa conversa e acabei por começar a desvendar a minha vida durante os anos em que estive em Espanha. A cada momento do jantar sentia um olhar em mim. Por vezes o mesmo tornava-se desconfortável. Tomei coragem e acompanhei o peso desse olhar dando de caras com o próprio Sérgio Conceição.

"Tilde, e os espanhóis são bonitos?" Pergunta-me Soares com um sorriso bobo.

"Admito que sim. Pero no es para mi. Gostam de complicar o que não é nada complicado."

As horas foram passando e já todos tínhamos ingerido uma grande quantia de álcool. Dirijo-me à cozinha de modo a encher o meu copo, pela última vez. E pelo que me parecia não era a única que o queria fazer.

"Reabastecer?" Pergunta-me Sérgio.

"Sim." Sorri.

"Eles têm um enorme carinho por ti. Não me admira."

"Como assim?" Perguntei confusa.

"És simpática e carinhosa. Oh, sem esquecer que és atraente. Muito atraente." Lambeu os lábios e aproximou-se.

Que coño. Está a flertar comigo?

"Acho que o álcool está a fazer efeito, Sérgio."

Num ápice sou pegada ao colo e o meu rabo entra em contacto com a gélida mármore do balcão da cozinha. Os seus dedos passam da minha face e percorrem caminho ao ponto.

São trocado beijos e, enquanto os mesmos, os seus dedos penetram-me levando-me a soltar um leve gemido. Deixo de sentir o contacto de Sérgio e rapidamente abro os olhos.

"Eu não lhe chamaria de álcool. Estou bem ciente daquilo que digo e que faço, Matilde." Afirma e abandona a cozinha.

Eu só gostaria de saber o que acabou de acontecer aqui. Possivelmente é um homem casado, já com família feita. Puta mierda, Maltide.

CoraçãoWhere stories live. Discover now