Capítulo 1

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O céu alaranjado cobria todo o reino de Luminus, uma terra rica cheia de florestas e rios, os anos de guerras ficaram no passado e todas as nações vizinhas mantinham um tratado de paz, isso veio logo depois de todos terem que se unir contra um antigo mal milenar, uma história tão antiga que nos dias atuais restam apenas fragmentos para serem contados.

Mas mesmo com a vitória de Luminus e as ilhas vizinhas, o Rei Laufar ainda mantinha um grande conjunto de regras rígidas, e uma das que mais chama a atenção e causa problemas é sobre as crianças com poderes mágicos, alguns humanos ao chegarem em sua puberdade despertam poderes mágicos, poderes que são capazes de proteger ou destruir e sem o treinamento adequado é muito mais provável a destruição.

Em todo o reino de Luminus as crianças nascidas de pais feiticeiros devem aos onze anos ir para um internato onde são treinadas para assumirem algum trabalho dentro da corte ou como soldados, e caso o indivíduo venha a querer formar uma família só podem se relacionar com outros feiticeiros, uma regra que foi quebrada uma única vez, gerando uma pessoa muito singular e peculiar, vigiada em segredo durante a sua vida toda pelos espiões do Rei.

-Meredith, me traga essas cenouras, o almoço já está atrasado. - Susane, uma mulher que já ostentava rugas no rosto e sempre usava um longo vestido de tecido avermelhado esperava a jovem menina na porta de uma pequena cabana com paredes de pedra e o teto de palha.

Meredith, uma jovem moça que sempre corria de um lado para o outro na pequena Vila de Granada, havia acabado de juntar meia dúzia de cenouras na horta que ficava atrás de sua casa.

A menina levou saltitando entre as plantações a sacola debaixo dos braços, assim como todos os dias foi recebida com um beijo na testa e um lindo sorriso que combinava com as linhas de expressão de sua mãe.

-Agora que já fez o seu trabalho, pode ir correr pela vila, afinal hoje você faz dezesseis anos. -A mulher lhe deu um grande e confortável abraço. -Você merece um pouco de diversão eu dou conta da cozinha.

-Obrigado mãe. -Recebendo mais um beijo em sua testa a menina se pôs a correr, ela sabia como era cada rua da vila, sabia seus atalhos e obstáculos.

Não demorou muito para achar seu velho amigo, Polo, um menino magro e cheio de sardas, seus dentes eram tortos o que fazia seu sorriso ser bem engraçado.

-Olha quem vem lá. -O menino levantou em um pulo da pedra onde estava sentado, fazendo seus cachos castanhos balançarem. -Já é uma mulher enfim.

-Lamento decepcionar, mas eu não tenho nada de mulher ainda. -Meredith fez um jogo com seus pés que quase fez o pobre menino cair de sua pedra. -E como vai seus irmãos?

-Eles estão bem, o Kayle conseguiu a vaga na brigada das lâminas. -Os dois se sentaram olhando para o rio que passava pelo lado norte da vila.

-Bom, pelo menos agora você não precisa aguentar ele te pedindo para contar quantas flexões ele fez. -Os dois deram risadas como dois amigos que fazem uma piada que somente eles entendem.

-Você quer ir na floresta? -O garoto deu uma cambalhota rolando pela grama e parando deitado no chão olhando para a menina. -A Ayla falou que já está dando Varafa no meio do bosque.

-Faz tempo que eu não como uma, e eu ainda não almocei. -A menina repete o mesmo movimento de seu amigo parando ao seu lado. -Acho que pode ser.

Os dois se botaram a correr ziguezagueando por entre as árvores, Meredith tinha prática nisso sabia onde estava pisando e para onde ia, se quisesse poderia facilmente derrubar Polo fazendo um galho bater em sua cara, mas não iria fazer isso, a última vez o menino ficou realmente chateado e não falou com ela por um longo tempo.

A menina gostava da floresta, era um lugar cheio de vida e energia pulsando em todos os lados, ela se sentia orgulhosa em saber de cada detalhe dali, e sentia que seu pai também iria se orgulhar dela por isso, não sabia muito sobre ele, mas sabia que ele era um explorador nato, e ajudou no desenho de vários mapas para o reino.

-É logo ali na frente. -O garoto falou apontando para as árvores na outra margem do rio, dali mesmo já era possível ver os frutos azul esverdeados, grandes sendo necessário carregar com as duas mãos.

Ela já sonhava com a polpa amarelada e doce da fruta, era difícil de arranjar elas, já que elas não dependiam das estações para se desenvolver, mas sim do fluxo de magia do local.

As duas crianças saltaram pelas pedras dos rios, se qualquer um que não fosse os dois tentasse o mesmo certamente iria escorregar no limo.

Em poucos segundos eles começaram a escalar a árvore para chegar nos últimos galhos que mantinham as frutas mais doces, cada um pegou uma e comeu ali mesmo em cima dos galhos, os dois já haviam feito isso antes, mas dessa vez chegando na metade da fruta Meredith viu pequenas fagulhas azuis saindo das pontas de seus dedos.

A menina com um certo espanto no rosto limpo seus dedos cheios do suco de Varafa no tecido do seu vestido, olhou novamente para seus dedos que pareciam normais como sempre talvez a corrida a afetou mais do que o comum, provavelmente era isso já que sua respiração ainda estava acelerada e tinha a impressão que estava mais suada que o comum.

A volta foi mais tranquila, eles resolveram voltar caminhando em um ritmo leve, foram relembrando suas aventuras, infelizmente logo Polo também iria fazer dezesseis e ele teria que arranjar algo para fazer, seu irmão mais velho passou todos os dias treinando e trabalhando na forja para entrar na brigada, mas não era isso que Polo queria, ele gostava da vila e não queria ir para longe, ter a incerteza de talvez nunca mais voltar.

-Acho que é isso até amanhã então Meri. -O menino subiu a colina que levava para sua casa.

Agora ela seguia sozinha, o céu carregava o roxo do entardecer no final não chegou para o almoço, mas poderia ir jantar.

Ao abrir a porta viu em cima da mesa um bolo de maçã, algo muito difícil para alguém fazer, mas era seu aniversário e nada era mais importante para sua mãe do que esse dia.

- Meredith? É você? -Sua mãe apareceu pela porta do outro cômodo limpando as mãos no avental. -Não tive tempo de fazer muita coisa.

-Com certeza está ótimo, pelo menos pelo cheiro.

As duas se sentaram e aproveitaram a sopa e o bolo, Meredith sempre amou seus aniversários, sempre tinha ótimas aventuras, boa comida, mas ao final do dia gostaria de que o dia não terminasse para poder continuar ali sem crescer e envelhecer mais, mas parar o tempo é impossível e os sonhos sempre chegam ao cair da noite, e hoje não foi uma exceção.

AS Crônicas de Luminus - Prelúdio da VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora