Minha respiração estava pesada e desuniforme, devido ao esforço feito quando corri.
Era o primeiro dia de aula, e como os costumes das férias de verão ainda faziam efeito em mim, havia dormido mais do que o necessário. Muito mais. E agora encarava o ônibus amarelo, que pegava para ir a aula, desaparecer da minha visão.
Bufei, lamentando o fato de não ter uma carteira de motorista. Depois de ser recusada oito vezes, admito que deixei de lado devido a tanta frustração.
Ainda parada, recuperei o fôlego.
Teria que ir a pé para escola e para piorar as ruas estavam repletas de poças, causadas pela chuva da noite anterior. O clima também não era dos melhores. Uma brisa gelada circulava e logo uma lufada de vento me atingiu, sacudindo meus cabelos.
Coloquei o capuz do meu moletom na cabeça e cruzei os braços para me aquecer um pouco mais, enquanto começava a andar.
Em menos de dois minutos fui surpreendida. Notei um carro andando lentamente ao meu lado e imediatamente me vi nervosa. Afobada, virei a cabeça para o lado e encarei o carro que se tratava de um volvo XC40 preto, todo o meu nervosismo se esvaiu, porque sabia exatamente a quem aquele veículo pertencia.
Não foi surpresa quando avisei o pior vizinho que poderia ter no banco de motorista. David estava com uma mão no volante e o outro braço apoiado na janela aberta, com um cigarro na mão. Era possível escutar um trap horrível tocando ao fundo.
Parei de andar irritada e o encarei raivosa, devido aquela cena patética.
Não era novidade que David amava me irritar desde que erámos crianças. Já fomos muito próximos quando mais jovens, nossas mães viviam grudadas e eram super amigas, mas de 5 anos pra cá as coisas acabaram mudando e mal se falam hoje em dia, desde a morte de meu pai.
Quando elas deixaram de serem amigas, eu e David também deixamos e logo ele passou de um amigo de infância para uma pessoa qualquer.
Com o tempo ele virou o mais popular do colégio, devido a sua beleza que se destaca facilmente em qualquer meio, e para o meu terror a popularidade logo lhe subiu a cabeça, e como todo popular tem alguém para encher o saco, essa pessoa sou eu.
Não sei exatamente o motivo ou o por que dele ter me escolhido. Mas o fato é, que repetidamente sou parada nos corredores por ele e escuto falas como:
"acho que você não dormiu essa noite Selena, deveria tentar fazer isso para ver se acorda mais apresentável"
"te vi pela janela ontem, é sério que ainda dorme abraçada a um ursinho?"
Certa vez ele comentou no halloween sobre minha fantasia:
"isso deveria ser uma princesa? Está parecendo uma noiva cadáver!"
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Eu, que não te odeio (amostra)
Ficção AdolescenteSelena é uma adolescente comum, com alma de artista. Pouco popular, passa despercebida pelos corredores do colégio. Um de seus maiores desejos é ser notada por Dylan, um dos populares da escola, co-capitão do time de lacrosse, que arranca suspiros...