– Eu acho que você deveria considerar comprar um barco – comentou Yuri.
As ideias do Yuri eram sempre idiotas, mas essa eu realmente estava cogitando, enquanto observávamos o rio que se formou na frente do meu prédio. A rua estava uma completa confusão. Carros pifando no meio da água, ônibus criando ondas enormes ao passar, as crianças chorando, sem um motivo aparente, os pedestres, incluindo nós três, tentando pensar em um modo de passar por esse mar de água suja.
É claro que sempre têm os aventureiros, que decidem andar no meio daquela lagoa. Tipo a garota de cabelos crespos que usava roupas iguais as da Pâmela. Que estranho. E o garoto cabeludo do lado dela, que se parecia bastante com o Yuri...
– Tonni, acorda! – gritou o garoto mais adiante.
Olhei para o lado, onde, supostamente, a Pâmela e o Yuri deveriam estar, mas reparei que estava sozinha. Aí eu me toquei de que as pessoas tentando atravessar aquela aguaria eram meus amigos. Corri pela água até eles, uma decisão horrorosa, estava muito gelada. Senti um arrepio por meu corpo todo.
– Misericórdia, a lerdeza – comentou Pâmela, obviamente criticando minha terrível falta de atenção.
– Não acredito que tu nem ouviu a Pam xingar a nossa "frescura" e se jogar na água, como se estivesse se jogando em uma piscina – disse Yuri, tirando sarro da minha cara, coisa que ele necessitava fazer absolutamente todos os dias – Sabe o que eu acho? Que tu devia tá pensando no Arthur. Aposto.
– Arthur? – perguntei, confusa. De que Arthur ele estava falando?
Pude notar pelo sorrisinho no canto de seus lábios, que lá vinha mais uma.
– O loiro de olho azul.
Ah. Faz sentido.
– Nada a ver. E como você sabe o nome dele? – perguntei desconfiada.
– Descobri – disse simplesmente e deu de ombros.
Era característico dele (e irritante) dar uma resposta vaga quando lhe perguntavam alguma coisa que ele acreditava que só ele sabia. Simplesmente revirei os olhos, porque sabia que não adiantava insistir.
Finalmente conseguimos chegar até a entrada do prédio, encharcando o saguão e deixando uma criminosa trilha de água pelas escadas que dava justamente na porta do meu apartamento. A mulher que cuidava da limpeza do prédio, certamente, iria querer nosso couro. Ela podia muito bem seguir nossa trilha e achar os culpados.
Assim que entramos em casa, minha mãe segurou uma risada, aparentemente achando engraçado o nosso estado deplorável. Principalmente a Pâmela, que teve a péssima ideia de colocar uma calça branca em um dia que prometia chuva. Agora a calça dela só se conservava branca dos joelhos para cima.
– De quem foi a ideia de sujar minha casa? – minha mãe perguntou, cruzando os braços, fingindo estar braba.
– Foi culpa da Pâmela, tia! – sentenciou Yuri, caindo na pegadinha da dona Natasha – Eu ia sugerir que esperássemos a água baixar pra podermos passar, mas ela já foi se atirando na água...
– Pelo menos nós já estamos aqui em cima. Vai saber quanto tempo ia demorar pra água descer por esses bueiros entupidos. Mas desculpa, tia, por sujar a casa.
Eu estava só observando a cena, me perguntando como eles não perceberam o olhar divertido que minha mãe lhes lançou o tempo todo, durante essa conversa.
– Acho bom – disse ela, mas não aguentou muito tempo sem rir – Estou só brincando com vocês. Não precisam se desculpar, a casa nem estava muito limpa mesmo.
Os dois pareceram soltar o ar que estavam segurando, completamente aliviados, e todos nós começamos a rir juntos.
A campainha tocou bem no instante em que fomos largar nossas mochilas ensopadas em um canto. Me apressei e fui abrir a porta para ver quem era.
Primeiramente, não acreditei. Tipo, quais as chances disso ser possível? Depois pensei melhor, eu não podia estar imaginando coisas, afinal, não era louca, pelo menos achava que não. E devo ter ficado vermelha igual a um tomate, não podia ver, mas disso eu tinha certeza.
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Strawberries and mess
RomanceTonni sempre foi uma garota viciada em romances, sempre se imaginou em uma daquelas histórias de amor clichê, porém nunca havia se apaixonado por ninguém. Quando as aulas recomeçam, ela se vê tendo uma quedinha por seu novo colega de classe, mas não...