A filosofia é a apresentação da coisa mesma. No começo, o ser pode se lhe apresentar como uma palavra vazia, mas nisso consiste precisamente o trabalho da ciência, o de expor as determinações lógicas aí contidas. O ser vai revelar-se como conceito, tornando-se ele mesmo o conteúdo do saber, torna-se o seu próprio objeto. [cogito]
O ser é portador do seu processo lógico de constituição. A filosofia, ao pensar-se, expõe o ser em suas determinações, o ser como começo, o ser como conceito.
O começo da Ciência absoluta, da Filosofia primeira, deve ser ele mesmo um começo absoluto, nada podendo pressupor, senão aquilo que ele se dá como determinação-de-pensamento, como categoria, como resultado do seu processo de constituição de si. Ele só tem a si mesmo como seu próprio começo, como seu próprio conceito.
O absoluto adquire uma nova posição, pois ele vem a ser concebido como o ser em seu processo de mediação, ser que já fez em si a experiência e a superação da dualidade entre o sujeito e o objeto.
Tal formulação implica que Hegel reconsidere a questão do ser à luz da predicação. O problema central para ele, consiste no modo mesmo mediante o qual algo é dito ser, inclusive na Fenomenologia do Espírito, ou ainda, no modo através do qual o conceito de existência é atribuído a conceitos. Mesmo na consciência sensível da Fenomenologia do Espírito, não estamos diante de uma consciência empírica, mas da forma graças à qual a consciência se conduz em seu processo de se dizer mundo, de dizer que algo é. O problema do ser torna-se o problema da atribuição de ser numa perspectiva que é a da própria existência.
O próprio Deus é considerado como um conceito englobante de toda a realidade, aquilo que Hegel denominará propriamente de Ideia, ou ainda, Deus é o ser em todo ser-aí. Sob essa ótica, a questão será a de como se pode atribuir existência a Deus ou ao absoluto.
A existência se confunde aqui a algo com o qual a consciência se defronta. Em termos filosóficos, estamos diante de uma questão metafísica por excelência, a que é conhecida como a da prova da existência de Deus, a da atribuição de existência ao absoluto, ou melhor, ao seu conceito.
O pensamento se reconhece em um Deus que lhe é exteriormente oferecido. É o espaço mesmo da interlocução, de fundo religioso, que limita o alcance da proposição filosófica. Deus funciona como uma espécie de realidade dada, anterior ao pensamento. Este, por sua vez, é posterior ao ato do comparecimento existencial de Deus.
É mais fácil acreditar do que descobrir empiricamente a existência de Deus, sua fenomenologia é restrita, sua ontologia se resguarda no caos. De inatos temos nossas condições inatas naturais dadas ao homem, no caráter racional, filosófico, fisiológico, extintos. Não há como se alcançar a Deus pelas vias filosofais, filosoficamente Deus não existe.
Deus se torna um conceito que deve ser provado, um conceito trazido ao interior do pensamento. A prova vai, portanto, consistir numa atribuição de existência às ideias de perfeição e de infinitude, numa operação que relaciona ideias com ideias, sem nenhuma referência exterior a esse ato filosófico de ilação de conceitos. Isto é, existência de realidade dada se torna um conceito, algo que deve ser atribuído, uma forma de atribuição. O empírico desaparece em proveito do que podemos chamar de uma existência categorial ou noética.
O ser nega a si mesmo, quando se percebe, questiona o seu próprios ser, em como deveria ser, como devir a ser ou que o seu ser deve ser fenoticamente a terceiros, como se mostrar como ser. Ora muda suas expectativas através de mudanças de horizontes, ora amplia a capacidade de ser, ser para si ou para algo ou para outro alguém.
Pensar o ser implica pensar a negação do ser, o nada, como se oferecendo, por este mesmo movimento, ao saber. A pergunta pelo começo pode igualmente comportar a pergunta pelo nada, mas não a do nada vazio, do qual nada provém, mas o nada que se faz conjuntamente ao ser, o não-ser do ser, que vai repor uma unidade de novo tipo. O começo não é o nada puro, mas algo que deve surgir desse processo de dissolução. Seja o saber de si mesmo.
Ora, o próprio saber puro é ele também originário de um processo de negação, de um processo de dissolução, uma dissolução criadora que o tornou possível e marca, dessa maneira, o seu próprio desdobramento posterior. “Se eu nego a existência de todas as coisas, não posso negar que estou negando”.(inclusive a si mesmo?) Ou seja, um termo é engendrado pelo outro. Não há, hegelianamente falando, o vir-a-ser do ser que não passe pela sua negação.
Caberia assinalar que os dois primeiros momentos, ser e nada, que, na verdade, só se concretizam no devir, onde começarão as transições dialéticas propriamente ditas, possuem a especificidade de remeterem as condições mesmas que fazem com que o dizer seja possível.
A Lógica, sob essa ótica, trata da apresentação dessa linguagem ciente de si mesma, uma ciência da linguagem, uma ciência da lógica, nesse sentido, uma metafísica pós-kantiana. Uma metafísica baseada no processo de autodissolução das categorias num movimento interno à linguagem, ao saber, operando dentro de si mesmo e independente de toda objetivação mundana, a que se daria no mundo externo dos objetos. Objetivação, para Hegel, significa a própria objetivação do discurso em si mesma, da linguagem, da lógica, logo, do saber.
A análise do começo daria o conceito da unidade do ser e do não-ser. De uma forma refletida, a unidade do ser diferente e do não-ser diferente, ambos se determinando reciprocamente. Isso vai implicar a consideração de que tal unidade é de tipo sintético, expondo uma relação necessária entre conceitos, que se opõem mutuamente.
O ser, em Hegel, vai remeter ao vir-a-ser, ao seu movimento negativo de constituição e, por intermédio dele, ao que considera como o movimento da essência, o movimento da reflexão propriamente falando. A essência é o movimento do ser em sua interioridade, o processo reflexivo que o constitui. O ser não é diferente da essência, porque esta é o próprio movimento do ser. Indeologizacao do ser pelo próprio ser em o vir-a-ser.
Quando o ser vem a ser na esfera de sua imediatidade, ele torna-se conceito. O ser, abstratamente considerado, seria apenas uma forma carente de determinações que, uma vez desenvolvidas, se apresentarão sob a forma da ideia.
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Metafisica filosofica. Por uma busca do Saber.
Non-FictionDiscussões e reflexões filosóficas acerca da Metafísica e seus respectivos subtemas abrangentes. O que é o saber, ou qual o saber que de forma Transcendental constitui a metafisica. Qualificações metodológicas do ser enquanto uma entidade metafísica...