CAPÍTULO 1 - Sulfúrico (I)

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Para o inocente, o passado pode guardar uma memória. Mas para os desleais, é só uma questão de tempo antes do passado devolver o que eles realmente merecem.

— Revenge  

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As únicas coisas que podiam ser ouvidas naquele lugar era o barulho de um peso morto sendo arrastado pelo chão, o toque-toque do fino salto que batia calmamente sobre o piso e o assovio calmo de Mikaela.

A morena de cabelos encaracolados, corpo esguio e porte firme segurava uma corda com determinação. Ela usava a corda como para arrastar como se em sua ponta estivesse um carrinho, puxando-a sobre as costas e trazendo o que quer que fosse para o centro do local. E, amarrado a corda, um corpo.

Um homem de estatura média, barba cerrada, mais ou menos 90kg e com muitos hematomas no rosto era arrastado para o centro do lugar.

Havia amanhecido fazia pouco tempo e os primeiros raios de sol da manhã entravam pela janela quebrada do galpão e iluminavam as poças de sangue do chão.

Era um lindo dia em meio ao caos.

Ele pareceu finalmente começar a acordar e se remexeu. O odor que exalava do seu corpo era forte o suficiente para despertá-lo antes do que o previsto, mas Mikaela não pareceu se incomodar com a interrupção precipitada. Soltou a corda que estava presa aos seus pés e as pernas do homem caíram com um baque surdo no chão.

Ele soltou seu primeiro urro de dor, talvez tenha sido por causa das pernas caiando no chão ou talvez pela costela quebrada, quem sabe a fratura exposta no braço, eram infinitas possibilidades... Mas ela não se importava.

O nome dele era Marco. Um ex-oficial dispensado por mau comportamento do exército estadunidense. Ele estava bem distante do bonito soldado que um dia foi, metade do rosto coberto de sangue pisado, inchado e abatido.

— Bom dia, raio de sol. – Mikaela colocou as mãos na cintura com um sorriso reprimido. – Finalmente!

— O que... O que você fez comigo? – Ele perguntou tentando abrir os olhos. Sua cabeça rodava e doía, enquanto tentava lembrar-se de como chegou ali.

Seu rosto estava irreconhecível. O sangue que lavava sua face fazia com que o pequeno feixe dos olhos azuis parecesse mais vibrante e que pudessem, mesmo com tamanha dificuldade, vislumbrar a beleza de Mikaela: a pele cor de oliva, os grandes olhos castanhos que lhe fitavam de um jeito que ele nunca mais iria esquecer, alta e com tanto poder nos olhos que fazia seu corpo inteiro tremer a sua presença, mesmo que só as lembranças do que ela havia lhe causado lhe passassem pela cabeça feito um borrão aterrorizante já fossem o suficiente para tanto.

Um poder genuíno e puro que lhe fazia seu corpo inteiro se arrepiar.

— Não queira saber. – Um meio sorriso apareceu em seus lábios. – Nada além do que você merecia. – Ergueu as sobrancelhas, fazendo o sorriso vacilar enquanto lhe encarava. Por mais que quisesse manter sua pose, o ódio em suas órbitas faiscava a cada segundo.

— Por favor... - Ele gemeu, quase se engasgando com o sangue que fechava sua garganta. As lágrimas escorriam pelo canto de seus olhos e Mikaela sentiu seus dedos formigarem de satisfação, mesmo que sua expressão continuasse intacta. — Eu não fiz... Nada...

Ela se abaixou, parando a sua frente com o rosto impassível.

— Você não lembra? – Questionou baixo. Os olhos brilhavam como fogo, como se um reflexo de ódio transpasse suas órbitas por um segundo enquanto lhe fitava, fria e calculista. - Vai me dizer que nunca viu meu rostinho antes?

Fogo Cruzado (Desgutação | Completo na Amazon)Where stories live. Discover now