Fogo Cruzado (Desgutação | Completo na Amazon)

CAPÍTULO 1 - Sulfúrico (II)

O salão estava bem movimentado. Pessoas circulavam de um lado para o outro com as suas taças de champanhe na mão dando sorrisos forçados a pessoas que não conheciam. Os vestidos cintilavam nos corpos esguios das mulheres podres de ricas dos principais comandantes do país. Entre elas, muitas tinham uma disputa muda sobre quem merecia ganhar o prêmio mental sobre quem estava mais deslumbrante, mas quem realmente chamava atenção não era nenhuma dessas.

No canto, observando com olhos de águias todas aquelas pessoas, a mulher de aparência jovial, fixava seus olhos entre eles, procurando qualquer atitude suspeita. O vestido negro sustentava o busto com alças largas, descendo em um corpete detalhado, chegando abaixo da cintura para se abrir e se arrastar até o chão.

Antonie passaria despercebida como uma daquelas mulheres se não fosse por um detalhe crucial que demonstrava sua diferença. - Diferença essa que a arma suspensa nas pernas por debaixo do vestido deixava bem clara.

Os cabelos castanhos cumpridos estavam dispostos em um penteado ondulado, que descia até o meio de suas costas. Grandes olhos castanhos e um nariz arrebitado pareciam estar extremamente diferentes quando maquiados, bem diferente do que costumava demonstrar nos seus dias no Departamento de Segurança da Casa Branca.

— E então – Uma voz ressoou atrás de si, fazendo-a se virar, assustada. —, alguma coisa mais animadora que o fato da mãe do Ministro ter um bigode maior que o do porteiro do meu prédio?

Era Connor com os seus belos olhos azuis e o rosto branco. O corpo era forte e magro, mas excepcionalmente lindo. Antonie sorriu, se voltando para o rapaz que de smoking parecia ainda mais bonito do que o de costume.

— A nova namorada do Senador ficou me encarando depois de me ver falando com ele, foi ótimo. – Disse dando os ombros. Ele riu de um jeito gracioso, descendo os olhos pela primeira vez pela garota.

— Como se sente usando vestido? – Antonie revirou os olhos. Claro que tinha de ter uma piadinha sobre a feminilidade nada presente nos dias de escritório. – Não é nenhuma afronta, acredite. Está linda.

— Estou melhor de vestido, do que você quando põe o teu. – Disse fazendo com que o rapaz levantasse os braços como quem se rendia. Ela sorriu. – Desculpe. — Foi à vez de Connor revirar os olhos.

— Você está bonita, Tonie. - Sorriu de lado, fazendo com que a menina lhe desse um tabefe no ombro.

— Você está sempre deplorável.

Eles não tiveram tempo para continuar a discussão saudável de sempre. Uma garota passou defronte a eles, fazendo com que Connor a seguisse com os olhos. Ela lhe observava de cima abaixo e Antonie apenas franziu o cenho ao entender o nojo daquela cena.

— Ah, por favor. – Disse ela bufando. – Eu preciso vomitar.

— Antonie, meu amor, o dever me chama. – Comentou se afastando e indo atrás da mulher.

— O seu dever ainda é proteger as pessoas dessa festa. - Afirmou ela, apontando para o chão.

— O que poderia acontecer em um lugar como esse? É totalmente seguro. – Disse lhe enviando uma piscadela. Antonie suspirou.

Talvez ele estivesse certo e ela poderia deixar de neurose. O que poderia acontecer em um lugar como esse? É totalmente seguro. As palavras rodearam sua mente por um segundo. Ela precisava aceitar aquilo, mas... Porque que alguma coisa ainda lhe afirmava para continuar atenta? Tinha algo errado para acontecer naquele lugar e ela tinha certeza disso. Era como um pressentimento. Porém, o que poderia acontecer num dos lugares mais seguros no mundo?

A festa transgredia naturalmente. Pessoas conversavam, forçando uma risada que às vezes soava alta demais sobre uma película de falsa alegria, que pelo visto, agradava a todos. Antonie andava de um lado para o outro, cumprimentando boa parte das pessoas que estavam ali. Todos a conheciam, a maioria desde pequena. Isso era uma herança deixada por George Macoy, seu pai. Ele havia se aposentado há pouco tempo, deixando para ela o cargo de vice-diretora da Segurança Nacional Americana. Apesar de jovem, o currículo da garota não era menos do que extraordinário. Centrada, esperta, reservada. Eram essas as características mais marcantes da jovem Macoy.